sexta-feira, 25 de abril de 2014

Análise da minha vida refletida em um lago: ondulante, amórfica, (in)constante.

Reescrita
Por Aluno 37

Da minha existência, com todas as suas contradições, pode ser dita apenas uma palavra: inconformismo. Apresento-vos Pedro Jung, vinte e um anos no corpo e portador de uma mente que – enquanto inconstante – reserva-se eternamente condenada a pertencer à outra época. Educado em uma família antiquada, rígida e religiosa e, posteriormente, entregue ao irracional chafurdar da sociedade. Desiludido, portanto: me tornei uma espécie de utopia cronológica, congelada nalgum lugar após a Idade Média e antes da Revolução Industrial.
Minha adolescência passou sob o jugo de pais tão inconformados quanto o filho; quando critiquei tais inadequados conceitos de religiosidade, casamento, materialismo estúpido e ignorância frente as minhas necessidades de arte e filosofia somente incrementei uma sensação de não-pertencimento até em meu próprio lar. Insatisfeitos, então, com minha encomenda – encomenda que de tanta nutrida espera revelou-se mais um cogumelo decompositor do que uma doce papaia, dedicaram seu tempo a tentar corrigir o filho. Todos estão vendo que foi uma vã tentativa.
Apaixonado por história, mitos e filosofias: frutos, por certo, de meus engasgues frente à esse mundo. Metódico ao ponto de constantemente sentir a necessidade de pesquisar as origens das irracionais tradições atuais para entendê-las. Possuidor de uma mentalidade artística: pincelando o preto no branco posso atingir os cinzas que nunca vejo pelos meus olhos. Muito sonhador. Ainda mais ambicioso: um nato perfeccionista nervoso. Vejo riquezas onde não há dinheiro: alucinado. Naturalmente, portanto, os livros tornaram-se os meus melhores amigos; as personagens, minhas concubinas. Bons autores: todos meus mestres. E as aulas mais produtivas de meu público Ensino Médio: noites chuvosas, na cama, imerso em leituras à luz de lamparinas.
Confesso não saber sequer de qual bom exemplo – visto que não os tive – veio tanta insatisfação. Talvez, um índice de genialidade; talvez, uma garantia precoce de ter meu túmulo cavado na lama. Ainda, talvez os dois: ou nenhum deles; onde não se sabe o começo, nunca tente descobrir o final. Somente uma coisa na minha vida permanece constante: a vontade de eternizar-me pela mudança. Deixarei algo alterado antes de partir nem que seja a marca de minha testa nalgum muro. Pois sempre permanecerei insatisfeito: comigo, com a sociedade. Insatisfeito até com meu inconformismo.

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