Reescrita
Por Natasha Barth Sidoruk
Meu
primeiro impulso ao receber esta tarefa foi enumerar uma série de fatos sobre
mim. Entretanto, quando parei para realmente pensar no texto, não vi como saber
que minha comida favorita é quiche de espinafre ou que eu adoro dias chuvosos
poderia ser relevante. Eu decidi que tentaria fazer melhor que isso, que
descobriria o algo que me faz singular. Após muito pensar, e com a ajuda de
algumas amigas, consegui encontrar esse algo: a observação. E dois privilégios que
tenho estão relacionados a ele: uma praça e um carro.
Gosto
muito de ficar olhando para essa praça através da janela do meu quarto, que a
emoldura muito bem. No inverno, um tapete lindo é tecido pela geada e, no
outono, pelas folhas caídas.
Nos
sábados ensolarados, tem um pessoal que sempre vai jogar futebol. Fico pensando
que é uma daquelas atividades que se tornaram uma tradição, que vão passar de
pai para filho, e que, quando eu estiver bem velhinha, eu ainda vou assistir ao
jogo deles.
Nos
dias chuvosos, quando passa alguém correndo, querendo chegar logo em casa, eu
já crio uma história para o moço ou moça. Nome, endereço e banda favorita.
Imagino uma razão pela qual ele ou ela tenha sido pego de surpresa pela chuva,
se estão tristes ou felizes, se tem um cachorro ou um gato. Já me tornei íntima
deles nesse universo alternativo que acabei de criar, e torço para que cheguem
logo em casa.
Quanto
ao carro, adoro andar nele à noite. Parece que a cidade fica mais bonita, mas
na verdade sou eu que fico mais sensível à sua beleza. Dá pra ver cenas como
uma mãe, na noite mais fria de inverno, tentando levar seu filho o mais rápido
possível para casa, mas ainda assim se preocupando em escutar o que ele
aprendeu naquele dia. Um olho na faixa de segurança e outro na criancinha
encasacada ao seu lado.
Narrar
essas cenas pode soar maçante, mas é encontrar nelas beleza que me faz única.
Falar sobre elas diz mais sobre mim do que qualquer outro adjetivo. Elas são as
peças que me montam, as engrenagens que fazem essa máquina chamada Natasha
funcionar. Eu tenho vontade de conhecer cada pessoa que fez parte de algum
desses momentos. São eles que eu procuro, que eu espero ver em cada esquina. É
deles que eu tento aprender tudo que eu puder.
Então,
ao perceber o tempo que eu consigo ficar olhando pela janela do meu quarto para
o movimento que o vento provoca nas árvores, ou para os passarinhos parados no
fio elétrico, tenho certeza de que minhas amigas estão certas.
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