1ª
Versão
Por Aluno 27
Em
vinte e dois anos, não vivi mais do que se possa esperar
de alguém que sonha e pensa demais. Provavelmente a fonte do problema esteja no
passado longínquo dos meus seis anos quando acreditava veemente que câmeras nos
monitoravam a todo momento. Nem sabia da existência de George Orwell e seu Big
Brother e já pensava sobre. Não acho isso nada especial, pois uma criança de
tal idade pensar sobre este assunto não é exatamente bonito.
O
problema estendeu-se ao longo dos anos, quando desenvolvi a enorme capacidade
de imaginar tudo o que ouvia. A mais incipiente das descrições tornava-se um
mundo visualmente rico em que tudo o que ninguém pensou ser possível, passava a
sê-lo. Até hoje tal questão me traz sérios problemas.
Depois
veio o mal da indecisão, o querer fazer demais em vidas de menos. Três cursos,
dezenas de cópias de livros sobre historiografia e história das partes remotas
do mundo, pilhas de folhas A3 com desenhos raramente bons, caixas de tintas
coloridas e então, finalmente, as estantes cheias de Hemingway e Joyce. Não
pense jamais que a indecisão terminou-se. Ela ainda persiste na escolha do
sabor do sorvete e na cor do All Star, levando a quase horas o que deveria
ocorrer em quase minutos.
O
pior dos males veio com a idade. Rirá o leitor, pois o que são vinte e um anos,
não? De qualquer forma, os sinto quando é necessário um cafezinho para me
manter acordada após a cerveja. A dificuldade em encarar subidas e escadarias
já nem é culpa da idade, mas do sedentarismo. No entanto, o maior mal é pensar
que em vinte dias, não mais vinte e um anos estarão sobre a minha mente, mais
vinte e dois. Em breve, mais e mais virão e essa vinda já é temida.
Hoje,
meus dias resumem-se a observar as pombas mancas e obesas, porém alegres que
passeiam em meio aos transeuntes, sentir constante sono, ingerir mais açúcar
que três pâncreas poderiam suportar e simplesmente seguir rindo sozinha das
mais mirabolantes teorias que abatem minha mente sonolenta da manhã.
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