quinta-feira, 24 de abril de 2014

Mistura inacabada

Reescrita
Por Aluno 43

Olá. Meu nome é Viktorya, e meu nome completo, Viktorya Zalewski Pietsch dos Santos. Esse nome russo com sobrenomes polonês, alemão e português pode até soar uma tremenda mistura àqueles que o escutam, mas representa em integridade aquilo que eu sou: uma miscelânea complexa de etnias e de heranças. Apresentar-me seria como falar um pouco de cada uma das peças deste mosaico que me constitui.
Com tantas famílias diferentes compondo minha antecedência, é uma tremenda sorte que elas tenham se encontrado em algum instante da vida para que eu pudesse nascer. Carrego traços de cada uma delas, traços que vão além do sentido fisionômico e atingem o sentido de personalidade.
Dos poloneses, por exemplo, herdei a cabeça-dura. Quando era criança, me irritava se meus amigos não acatavam minhas ideias sobre o que brincar ou que tipo de trabalho realizar; caso eu tivesse convicção sobre algo, era difícil fazer com que eu mudasse de ideia. Uma vez, tendo escrito uma pergunta e colocado-a entre aspas, questionei a professora se o ponto de interrogação deveria vir dentro delas. A educadora respondeu que sim. Mas eu tinha quase certeza de que contrário era o correto, e, mesmo sendo uma menina de apenas nove anos, foi muito difícil para que aceitasse o que ela havia me falado.
A etnia germânica, da mesma forma, deu-me a desconfiança nata. Era comum pensar que as pessoas tinham intenções dúbias ao meu respeito e de que riam de mim pelas costas. Isso me propiciou, secretamente, um aspecto um pouco anti-social. Mas, apesar desses fatores, também recebi a alegria e extroversão dos portugueses, características que fazem com que minha melancolia seja apenas interna. Sinto a necessidade de interagir, de conversar; tantas vezes já soltei risadas escandalosas e fiz meus amigos passarem vergonha por causa das minhas “piadas” ou comportamento desmedido. Eles ficam constrangidos. “Vik, estamos no restaurante, não precisa bater na mesa” foi a fala de uma amiga ao lembrar-me de que eu não precisava dar um tapa nas coisas quando estou rindo – ainda mais em um ambiente sofisticado. E então, devido à reprovação dela, sofri silenciosamente.  
Não sou, no entanto, uma menina pronta ou completa, tampouco conformada com as características que me foram legadas. A cabeça-dura, por exemplo: tenho tornado-a uma coisa boa. Hoje sinto prazer em ouvir opiniões diferentes, mas protejo-me daquilo que acho prejudicial, como conversas de pessoas reclamonas e opiniões preconceituosas. Também me esforço para equilibrar a desconfiança e a extroversão, rindo mais moderadamente e aprendendo, através de queridas amizades, que muita gente quer meu bem. Portanto estou em constante mudança e, principalmente, em constante formação. Acrescento, pouco a pouco, novas peças ao mosaico ainda incompleto que sou; peças tão distintas quanto as que formam meu nome. 

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