quarta-feira, 29 de junho de 2016

Saramago me cegou

Aluno 68
Reescrita


Nossos hábitos de leitura constroem padrões em nossa interpretação. Quanto mais lemos um determino tipo de texto, mais habilidosos ficamos em identificar seus códigos, porém também corremos o risco de ficar limitados a ele. A variedade de leitura é essencial para construir uma interpretação de texto afiada e completa.  Quantos mais formatos diferentes de textos aprendemos a acompanhar, mais rico ficará nosso processo de compreensão e escrita de outros textos. Nesse sentido, a experiência com o estilo narrativo de José Saramago foi um desafio maravilhoso.
            Nós somos habituados a um formato específico de texto: parágrafos relativamente curtos e lineares, orações “comportadas”, que obedecem certas regras de pontuação e organização, e em textos mais literários é comum o uso de travessão ou aspas para sinalizar diálogos. Existe toda uma organização estrutural que trabalha para facilitar a compreensão da história. Não vamos entrar em discussões sobre a validade ou não desse formato, o foco desse texto é a ruptura trazida por Saramago.
            Em seu romance “Ensaio Sobre a Cegueira” Saramago também parece querer tornar seu leitor cego. Não existem travessões ou aspas em seus diálogos, e eles seguem na mesma linha, muitas vezes na mesma oração, separados apenas por vírgulas, as mesmas que também separam conjunções e apostos. Seus parágrafos são enormes, e fluxos de consciência comumente se intercalam com descrições de cenário ou descrições psicológicas, sem nenhum padrão aparente. Dá para se dizer que o romance é uma bagunça, mas não dá para negar sua genialidade. O exemplo seguinte descreve o momento em que o primeiro personagem torna-se cego. Perceba ao longo do trecho o quanto as orações são compridas e cansativas, num clima rápido e intenso, e que mesmo regido por tanta “bagunça”, a descrição consegue fixar a atenção e expectativa do leitor. É quase possível “ouvir” o cenário que o texto descreve:
O sinal verde acendeu-se enfim, bruscamente os carros arrancaram, mas logo se notou que não tinham arrancado todos por igual. O primeiro da fila do meio está parado, deve haver ali um problema mecânico qualquer, o acelerador solto, a alavanca da caixa de velocidades que se encravou, ou uma avaria do sistema hidráulico, blocagem dos travões, falha do circuito eléctrico, se é que não se lhe acabou simplesmente a gasolina, não seria a primeira vez que se dava o caso. O novo ajuntamento de peões que está a formar-se nos passeios vê o condutor do automóvel imobilizado a esbracejar por trás do pára-brisas, enquanto os carros atrás dele buzinam frenéticos. Alguns condutores já saltaram para a rua, dispostos a empurrar o automóvel empanado para onde não fique a estorvar o trânsito, batem furiosamente nos vidros fechados, o homem que está lá dentro vira a cabeça para eles, a um lado, a outro, vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir abrir uma porta, Estou cego. (SARAMAGO, 1995, p.2)

            Saramago leva seu leitor, também cego, desnudo da estabilidade organizacional do formato “normal” de romances, por um caminho tortuoso, sujo e desesperador. O caos no estilo de Saramago não é caótico, é proposital, tem motivo, tem uma ordem e acrescenta à história, a bagunça desse texto é proposital, referencia a bagunça daquela sociedade fictícia. Não preciso discorrer sobre a história do romance para poder dizer o quão transformadora é a experiência de ler Saramago, seu estilo por si só é uma completa e nova viagem.
            Um leitor que entende e se apropria de José Saramago é um leitor que sai da zona de conforto, que fica mais apto a entender outros textos. É necessário transgredir o que conhecemos, sempre explorando novas experiências de leitura. Ler Saramago foi como ler cega, pois tive que me desapegar de todo o meu conhecimento linguístico prévio e segurar na mão de Saramago, atravessando um mundo sujo, angustiante e magistralmente construído. Cada oração comprida e cheia de vírgulas é como um momento de asfixia que compartilhamos com as personagens, e quando nos deparamos com um parágrafo enorme e sem travessões, não fazemos ideia do que virá pela frente, se alguma personagem terá voz, se o ambiente vai mudar. Saramago não apenas subverteu algumas regras, ele me cegou e me incluiu em sua história, e ler como um cego me permitiu escrever com outros olhos.


Parecer_Aluno68

Achei interessante a forma como você começou o texto distinguindo o que você é e quem você é. Essa é uma ótima perspectiva para iniciar. Contudo, seu segundo parágrafo apresenta muitas possibilidades de apresentar quem você é, o que se afasta da ideia inicial dessa proposta, que seria escolher uma única característica sua e, a partir disso, escrever a apresentação pessoal. O seu segundo parágrafo é uma lista de informações e uma lista de possíveis unidades temáticas. Você vai falar de sua família, de sua educação ou da sua aparência? Ou de nenhum desses aspectos? É importante delimitar uma característica a ser apresentada.
Algumas passagens dos parágrafos subsequentes são um pouco abstratos. Isso acontece por causa dessa unidade temática que oscila. No penúltimo parágrafo há o destaque para o signo. Isso realmente importa para sua apresentação? Termos como infinitas possibilidades, também podem ser abstratos, porque apenas generalizam uma ideia. A Emilia citada no último parágrafo é outra passagem abstrata: quem ela é e como ela participou de sua vida são informações que estão faltando. Lembre-se da qualidade discursiva chamada concretude. Seu texto é sustentado graças a relatos, e esses relatos precisam ter um tom de veracidade.

Boa reescrita!

Saramago me cegou

Aluno 68
1 Versão



            Nossos hábitos de leitura constroem padrões em nossa interpretação. Quanto mais lemos um determino tipo de texto, mais habilidosos ficamos em identificar seus códigos, porém também corremos o risco de ficar limitados a ele. A variedade de leitura é essencial para construir uma interpretação de texto afiada e completa.  Quantos mais formatos diferentes de textos aprendemos a acompanhar, mais rico ficará nosso processo de compreensão e escrita de outros textos. Nesse sentido, a experiência com o estilo narrativo de José Saramago foi um desafio maravilhoso.
            Nós somos habituados a um formato de texto comum: parágrafos intermediários e lineares, orações comportadas, pontuação correta, nos diálogos em textos mais literários é comum o uso de travessão ou aspas para sinalizá-los. Existe toda uma organização estrutural que trabalha para facilitar a compreensão da história. Não vamos entrar em discussões sobre a validade ou não desse formato, o foco desse texto é a ruptura trazida por Saramago.
            Em seu romance “Ensaio Sobre a Cegueira” Saramago também parece querer tornar seu leitor cego. Não existem travessões ou aspas em seus diálogos, e eles seguem na mesma linha, muitas vezes na mesma oração, separados apenas por vírgulas, as mesmas que também separam conjunções e apostos. Seus parágrafos são enormes, e fluxos de consciência comumente se intercalam com descrições de cenário ou descrições psicológicas, sem nenhum padrão aparente. Dá para se dizer que o romance é uma bagunça, mas não dá para negar sua genialidade.
            Saramago leva seu leitor, também cego, desnudo da estabilidade organizacional do formato “normal” de romances, por um caminho tortuoso, sujo e desesperador. A bagunça desse texto é proposital, referencia a bagunça daquela sociedade fictícia. Não preciso discorrer sobre a história do romance para poder dizer o quão transformadora é a experiência de ler Saramago, seu estilo por si só é uma completa e nova viagem.
            Um leitor que entende e se apropria de José Saramago é um leitor que sai da zona de conforto, que fica mais apto a entender outros textos. É necessário transgredir o que conhecemos, sempre explorando novas experiências de leitura. Ler Saramago foi como ler cega, confiando completamente no escritor, e perceber, ao final do livro, o quanto é possível subverter magistralmente as regras quando se conhece muito bem seu funcionamento. O caos no estilo de Saramago não é caótico, é proposital, tem motivo, tem uma ordem e acrescenta à história. É muito importante se permitir ler o estranho, o difícil, e se apropriar das regras. Conhecer para poder subverter, se apropriar para poder criar e recriar. Ler como um cego me permitiu escrever com outros olhos.

Memorial de leitura

Aluno 103
Reescrita


Quando na infância, recém inserida no universo literário e vivendo os primeiros anos do ensino fundamental, eu recebia diversas indicações de obras para conhecer. Uma dessas indicações era frequentemente citada e muitos me diziam ser uma leitura necessária para formação do meu ser. O livro era O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Hoje, com dezessete anos, consigo analisar as diferentes experiências de leitura que tive com essa obra, e destacar alguns aspectos que passei a compreender apenas na faculdade.
Uma frase da obra O Conhecimento prévio na leitura (1995) de Angela Kleiman serve de parâmetro para a análise do meu primeiro contato com o livro: “a pouca familiaridade com um determinado assunto pode causar incompreensão”. Nessa obra, Kleiman reitera a importância do conhecimento prévio para que uma leitura seja bem sucedida, ou seja, que o leitor utilize como base todo conhecimento já adquirido ao longo de sua vida e o aplique durante a atividade. No meu caso, aos dez anos, conhecendo um vocabulário ainda pobre e sem uma boa base escolar, minha primeira leitura e compreensão ficaram comprometidas. Ao me deparar com a palavra “cativar”, por exemplo, não compreendia seu total sentido, por mais que ela tenha sido muito trabalhada ao longo da história. As metáforas eram lidas, mas não eram compreendidas. Ao terminar a leitura, acabei classificando o livro como uma história comum, sem nada que a tornasse especial, pois claramente na época eu não tinha conhecimentos o suficiente para compreendê-lo.
                                                                                                             
Alguns anos mais tarde, já quase completando o ensino fundamental, com doze ou treze anos, decidi revisitar as páginas de O Pequeno Príncipe. Com pouco tempo de diferença entre a primeira e a segunda leituras, a experiência foi minimamente diferente. Dominando mais o uso da língua, conhecendo as metáforas e já conhecendo a forma de escrita de Exupéry meu propósito de leitura -o que me motivou a ler a obra novamente- (Rottava, 1998), era encontrar a razão e o porquê de esse ser um livro tão aclamado. Novamente meu conhecimento prévio e minha maturidade ainda não estavam formados o suficiente para que eu pudesse compreender a mensagem que Antoine tenta passar no seu livro. 
Mais alguns anos se passaram e durante o período em que cursei o ensino médio eu adquiri muito mais conhecimento em relação à literatura, à linguagens utilizada por autores nos mais diversos estilos textuais. Na terceira vez em que li O Pequeno Príncipe, senti como se esse fosse um livro nunca antes lido por mim. Já com dezessete anos, minha motivação era desvendar o que Exupéry trazia em toda sua história. Desta vez, por ter uma base ainda mais aprofundada, consegui desvendar todos os referentes extralinguísticos utilizados pelo autor, relacionando a história presente no livro com aspectos presentes na vida real. Entendi então que Exupéry falava de como as pessoas levam suas vidas, utilizando-se de personagens para ilustrar estereótipos  sociais reais, como por exemplo, o empresário e o beberrão. Foi aí então que compreendi o porquê de tanta aclamação. O autor foi capaz de submeter elementos sensíveis à natureza humana em um conto infantil, fazendo assim com que sua obra fosse apreciada tanto por adultos quanto por crianças.
Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua compreensão” (Kleiman, 1995). Assim aconteceu comigo, ao ler O Pequeno Príncipe. A cada leitura eu tinha uma “bagagem de conhecimentos” diferente, o que fez com que nenhuma experiência fosse igual à outra, como já expliquei nos parágrafos anteriores.


Referências
SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2009.
KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura. São Paulo: Pontes, 4 ed. 1995.
ROTTAVA, Lucia. A Leitura e a Escrita na Pesquisa e no Ensino. Ijuí: Espaços da escola, v. 4, n. 27, jan./mar. 1998.


Parecer_Aluno103

Primeiramente você deve considerar que o objetivo da proposta é articular a teoria disponibilizada pela professora com a questão da memória de leitura. A teoria é correspondente a conceitos trabalhados ao longo do semestre e que aparecem com frequência nesses textos. Você de fato constitui um memorial, mas em se tratando de um texto que traz muitas idéias que já foram teorizadas e trabalhadas na disciplina, trazer referências poderia ser uma forma de elucidar alguns conceitos como “releitura” ou “senso crítico”.
 Além disso, você poderia trabalhar melhor a concretude: é fácil ser subjetivo em um memorial, porque as memórias fazem sentido em nossa cabeça; porém, não podemos esquecer que para o leitor elas precisam ser narradas/descritas da melhor forma, fornecendo detalhes essenciais para a construção da imagem – afinal, não foi seu interlocutor que passou por essa experiência. Por exemplo, você apresenta no primeiro parágrafo “etapas da minha vida” e dedica às três etapas um parágrafo cada, mas não apresenta nenhum diferencial, usando apenas termos abstratos como “visão diferente sobre o meu mundo” ou “momento diferente da minha vida”. Faltam informações para o leitor, já que ele é capaz de presumir que algo mudou, mas não sabe minimamente como era antes.
Boa reescrita!


Memorial de Leitura

Aluno 103
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Quando pequena, recém inserida no universo literário, recebia diversas indicações de obras que eu “deveria ler” ou “precisava conhecer”. Uma dessas indicações era muito frequente, e todos ao meu redor me diziam que era uma leitura necessária para formação do meu ser. O nome da obra: O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry. Ouvi os conselhos, me meti na biblioteca do colégio e finalmente conheci o tão falado livro. A primeira leitura não bastou, então o reli duas vezes. Nenhuma das três experiências foi igual, por terem acontecido em diferentes etapas da minha vida.
Ao ler pela primeira vez o livro pensava o tempo inteiro comigo mesma: “quando é que vai acontecer algo grandioso?” e “quando é que eu vou aprender alguma coisa?”. As ilustrações ao longo do livro me chamavam atenção, a história eu considerava interessante e bem inusitada, mas não conseguia encontrar nada que pudesse me transformar ou ensinar. Por ser muito nova, eu ainda não tinha desenvolvido um “senso crítico” em relação ao que lia e como interpretava a história. A linguagem também me parecia um tanto difícil, uma vez que palavras como “desenha-me” e “cativar” ainda não faziam parte do meu vocabulário. Terminei o livro, mas ainda não sentia que tinha adquirido conhecimento ou sentimento relevante.
Alguns anos depois, decidi reler O Pequeno Príncipe, uma vez que estava mais velha, com uma visão diferente sobre meu mundo e novas palavras no meu vocabulário. Nesta releitura, pude compreender um pouco mais do que o autor dizia, pois já tinha aprendido a interpretar parágrafos e frases em determinados contextos.
A terceira leitura aconteceu por necessidade, mas dessa vez por estar mais madura, com um conhecimento e visão de mundo mais críticos, meu aprendizado foi completamente diferente. O vocabulário já não era mais nenhum mistério, pois por já o ter conhecido nas outras leituras e por estar nos últimos anos do colégio não tive problemas como na primeira vez. A compreensão das histórias se fez ainda melhor, pois os personagens também já eram conhecidos. Era como se eu estivesse lendo um livro novo, pois eu estava em um momento muito diferente da minha vida, com muito mais experiência e conhecimento. 

Ninguém administra o tempo.

Aluno 68
Reescrita


            A sensação de falta de tempo talvez seja a única afirmação invariável entre os estudantes da universidade. Redes sociais como o Twitter e o Facebook vinculam todos os dias várias mensagens expressando a inquietação e falta de motivação dos jovens universitários. Uma pesquisa rápida pelo Twitter de alguns alunos da UFRGS mostrou que mensagens como: “n sei o que fazer com esse fim de semestre, socorro (sic)” chegam a ser “retweetadas”, ou seja, reproduzidas por outros usuários da rede social, até cem vezes durante um período de três horas.
            Partindo-se do pressuposto de que a sensação de falta de tempo é um fato amplamente aceito e comentado entre os estudantes, surge então a necessidade de se entender o porquê. Acredita-se que a principal causa seja a existência de uma má administração do tempo, e não simplesmente a falta dele em si. Britton e Tesser (1991) comparam estudantes universitários a um computador que esteja com a sua cpu superlotada, porque eles têm um grande número de tarefas para processar, e essas tarefas diferem em complexidade, prioridade e prazos. Soma-se a isso ainda o que Carelli (1998) chama de Condições Pessoais para o estudo, que envolvem a locomoção até o campus, atividades domésticas, trabalho, etc.
            Uma pesquisa realizada com dez universitários do curso de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, seis estudantes do primeiro semestre, dois do terceiro e um do quarto, com o objetivo de descobrir qual seria o fator mais prejudicial à administração do tempo nos estudos, mostrou que a principal dificuldade citada foi o excesso de atividades e leituras diferentes restritas a prazos rígidos, concordando com Britton e Tesser. O segundo fator mais citado estava relacionado à vida pessoal dos estudantes, como a distância do campus e o fato de quer acordar muito cedo, confirmando o que foi dito por Carelli. Entre os veteranos, cansaço e desmotivação também foram citados. As respostas dos entrevistados convergiram com as mensagens do Twitter, demonstrando que a sensação de falta de tempo é uma constante entre os estudantes universitários, e que está relacionada com a dificuldade em administrar o tempo.
             É importante ressaltar que a má administração do tempo não é um fenômeno que tem na sua origem uma culpa individual. A falta de tempo apresenta-se como um sintoma sistêmico de uma série de outros fatores sociais generalizados. Em outras palavras, ninguém sabe lidar com o tempo, nem mesmo a instituição. É comum ouvir dos professores em sala de aula que “a matéria está atrasada” e que “vamos ter que apressar”. O próprio texto aqui escrito foi redigido e pesquisado em condições problemáticas, em colisão com uma série de outras atividades com prazos igualmente estreitos.
            Deve-se considerar que durante a educação básica os alunos também são colocados diante de atividades e leituras diversas, talvez até mais diversas que na graduação, visto que a graduação, sendo a especialização num determinado assunto, torna os objetos de estudo mais próximos e estritos. No entanto, as condições da infância e adolescência são muito diferentes das do jovem adulto na universidade. Na segunda, a vida profissional – e tudo o mais que a acompanha: necessidades básicas de sobrevivência, contas, moradia, futuro – está correlacionada com os estudos, de maneira que um depende do outro, tornando o estudo um trabalho ainda mais complexo.




Parecer_Aluno68

O seu texto está muito bem escrito e de acordo com a proposta. O tema é atual e realmente funciona bem com seus argumentos, o que te leva a alcançar o objetivo textual. Há apenas uma sugestão para a reescrita: talvez você pudesse explicar termos como “retweetar”. Lembre-se da noção de interlocutor: você precisa dar todos os subsídios para que ele tenha um bom entendimento. É claro que esse termo já é bem difundido entre a maioria das pessoas, no entanto, é sempre bom atualizá-lo ao seu contexto. Além disso, sugiro que você introduza um pouco melhor a pesquisa citada no terceiro parágrafo – o curso de Letras é o da UFRGS? Em qual semestre estão os estudantes? Qual seu objetivo com essa pesquisa? Elas atenderam ou não suas expectativas? Repensando esses fatores na sua reescrita, seu texto ficará ainda melhor.

Boa reescrita!
Aluno 68
1 Versão


Tema: Tempo
Delimitação do tema: a natureza sociohistórica do tempo para universitários
Objetivo do texto: Identificar quais os principais fatores que prejudicam a administração do tempo na vida acadêmica
Problemas: sensação de uma falta de tempo generalizada
Hipótese: há uma má distribuição do tempo
Argumentos
è Autoridade: computador de Britton e Tessen\ Condições Pessoasis de Carelli
è Dados concretos: Trechos de twitter de estudantes universitários, depoimentos\entrevistas
è Argumento metalinguístico
Contra-argumento
è A educação básica também conta com tarefas diversificadas/ ócio da adolescência VS responsabilidades do jovem adulto.         
REFERÊNCIAS
Britton, B. K. & Tesser, A. (1991). Effects of time-management practices on college grades. Journal of Educational Psychology, 83, 405-410.
CARELLI, Maria José Guimarães  SANTOS, Acácia Aparecida Angeli dos. Condições temporais e pessoais de estudo em universitários. Psicol. Esc. Educ. (Impr.) [online]. 1998, vol.2, n.3, pp.265-278. ISSN 1413-8557.  Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-85571998000300006&script=sci_abstract&tlng=pt>
Ninguém administra o tempo.
            A sensação de falta de tempo talvez seja a única afirmação invariável entre os estudantes da universidade. Redes sociais como o Twitter e o Facebook vinculam todos os dias várias mensagens expressando a inquietação e falta de motivação dos jovens universitários. Uma pesquisa rápida pelo Twitter de alguns alunos da UFRGS mostrou que mensagens como: “n sei o que fazer com esse fim de semestre, socorro (sic)” chegam a ser “retweetadas” até cem vezes durante um período de três horas.
            Partindo-se do pressuposto de que a sensação de falta de tempo é um fato amplamente aceito e comentado entre os estudantes, surge então a necessidade de se entender o porquê. Acredita-se que a principal causa seja a existência de uma má administração do tempo, e não simplesmente a falta dele em si. Britton e Tesser (1991) comparam estudantes universitários a um computador que esteja com a sua cpu superlotada, porque eles têm um grande número de tarefas para processar, e essas tarefas diferem em complexidade, prioridade e prazos. Soma-se a isso ainda o que Carelli (1998) chama de Condições Pessoais para o estudo, que envolvem a locomoção até o campus, atividades domésticas, trabalho, etc.
            Numa pesquisa realizada com dez universitários do curso de Letras, seis calouros e quatro veteranos, sobre qual seria o fator mais prejudicial à administração do tempo nos estudos, a principal dificuldade citada foi o excesso de atividades e leituras diferentes restritas a prazos rígidos, concordando com Britton e Tesser. O segundo fator mais citado estava relacionado à vida pessoal dos estudantes, como a distância do campus e o fato de quer acordar muito cedo, confirmando o que foi dito por Carelli. Entre os veteranos, cansaço e desmotivação também foram citados.
             É importante ressaltar que a má administração do tempo não é um fenômeno que tem na sua origem uma culpa individual. A falta de tempo apresenta-se como um sintoma sistêmico de uma série de outros fatores sociais generalizados. Em outras palavras, ninguém sabe lidar com o tempo, nem mesmo a instituição. É comum ouvir dos professores em sala de aula que “a matéria tá atrasada” e que “vamos ter que apressar”. O próprio texto aqui escrito foi redigido e pesquisado em condições problemáticas, em colisão com uma série de outras atividades com prazos igualmente estreitos.
            Deve-se considerar que durante a educação básica os alunos também são colocados diante de atividades e leituras diversas, talvez até mais diversas que na graduação, visto que a graduação, sendo a especialização num determinado assunto, torna os objetos de estudo mais próximos e estritos. No entanto, as condições da infância e adolescência são muito diferentes das do jovem adulto na universidade. Na segunda, a vida profissional – e tudo o mais que a acompanha: necessidades básicas de sobrevivência, contas, moradia, futuro – está correlacionada com os estudos, de maneira que um depende do outro, tornando o estudo um trabalho ainda mais complexo.

Parecer_Aluno90

Parecer

Seu texto está muito bem estruturado e claro. Em contraste com as suas primeiras versões que li anteriormente, este texto está perfeito: você não abusou de termos confusos e ambíguos, sua unidade temática se manteve muito bem e seus argumentos foram sólidos e muito bem embasados, a organização com a qual você expos os argumentos necessários a sua temática e proposta foi excelente. Não creio, inclusive, que você vá precisar reescrever este texto. Parabéns pela sua escrita.

Modernidade, informação e o tempo célere

Aluno 90
1 Versão



Tema: a natureza sociohistórica do tempo.

Problema: a modificação da percepção do tempo na sociedade humana recente, quando comparada à História prévia.

Hipótese: a modernidade, com seu ritmo acelerado e noção acurada de tempo, torna a percepção deste mais rápida.

Argumento:
O descompasso entre tempo cíclico, natural, e tempo linear, socialmente imposto, resulta na aceleração da percepção de tempo para que um possa atender às demandas do outro.

A complexidade da sistematização do tempo moderno gera uma carga cognitiva maior, e, portanto, requer mais atenção por parte da pessoa, o que, por sua vez, resulta na sensação de tempo acelerado.

Contra-argumento:
Tal aceleração do tempo não é nada novo: sempre houve, historicamente, um papel de distração cognitiva por parte de algum instrumento o recurso, o qual é ocupado, hoje, pela tecnologia.









            Em seu ensaio “Technology and Western perception of time”, Lloyd (2011) traça uma trajetória sociohistórica de nossa relação com o tempo de maneira resumida, mas efetiva. De acordo com o autor, nossa relação foi mudando conforme os métodos de medição. As medições das sociedades antigas eram baseadas em eventos naturais, como as estações, ciclos de cultivo, e, portanto, eram de natureza cíclica e levaram à percepção do tempo de forma dessa forma, em contraste com as medições tecnológicas, como a ampulheta e, eventualmente, o relógio, os quais, por sua natureza controlável e aplicável a situações sociais distintas, levaram à percepção do tempo como abstrata e, com a ascensão da cultura judaico-cristã, linear, baseada na noção de criação finita do universo por Deus, a partir da qual o tempo se moveria irreversivelmente. Tais noções, porém, de acordo com o autor (ibid., p. 6), coexistem paradoxalmente na modernidade: sentimos o dia passar de forma cíclica, com eventos recorrentes semanalmente, ao mesmo tempo que pensamos no tempo dessa forma linear.
            Entretanto, o autor explicita o caráter sobrepujante do tempo abstrato – linear – sobre sua contraparte “orgânica”, cíclica, ao citar a industrialização da sociedade nos séculos 18 e 19, quando o “tempo abstrato começou a decidir o tempo social e orgânico” (ibid., p. 3), relação também desenvolvida quando é citado o conflito da pessoa do século 20 entre o seu tempo natural e a imposição sincronizada da sociedade (ibid., p 4) e a liberdade-prisão do trabalhador de tecnologia da informação contemporâneo (ibid., p. 5), o qual pode trabalhar onde quiser, quando quiser, através de mensagens instantâneas, as quais também, por seu fácil acesso e frequência de uso no cotidiano, dissociam as barreiras entre a vida e o trabalho, prendendo uma ao outro. Essa grande relação-problematização receberá a atenção principal deste texto: ver-se-á de que formas será possível contribuir para com a sua exploração, no sentido de corroborá-la empiricamente.
            McLoughlin (2012, p. 5) provém um ponto inicial fundamental: como nossa percepção do tempo pode variar com o ambiente. O autor exemplifica isso ao citar uma pesquisa em que um cientista mediu a percepção de tempo de sua esposa conforme a sua presença ao seu lado, registrando que ela sentia que havia se passado muito mais tempo quando ele não estava presente. Embora não explicitamente declarado pelo autor, entender-se-á que isso implica algum efeito que o contato informacional (afinal, passamos informações aos outros quando na sua presença) teria sobre a percepção do tempo (a conclusão explícita que o autor cita, do cientista exemplificado, é que a percepção do tempo varia conforme alterações no ambiente circundante de uma pessoa). Fala-se em contato informacional porque, como será visto adiante, a exposição à informação – especialmente através da tecnologia – tem efeitos no processamento temporal.
            McLoughlin, por exemplo, (2012, p. 11) cita a análise de uma pesquisa conduzida em 2001, a qual mediu a relação de tempo entre usuários e não-usuários de tecnologia da informação, encontrando uma relação entre o uso desta e um ritmo de vida mais acelerado, somado a maior pressão temporal subjetiva. Mais tarde, McLoughlin (2012, p. 153-154) discute resultados de uma pesquisa própria, em que também estabelece essa relação entre a tecnologia da informação e uma percepção de tempo acelerada. Cita também pesquisas anteriores que fazem a mesma relação que Lloyd (2011, p. 5), quando este diz que as barreiras entre trabalho e ambiente doméstico acabam sendo confundidas, embora as pesquisas também estabeleçam uma relação positiva, no sentido de conferir sensações de liberdade e de experiências novas. Por fim, McLoughlin (2012, p. 154-155) conclui que, embora haja aspectos negativos dessa aceleração do tempo por conta da TI, isso não quer dizer que o sujeito moderno esteja diante de um cenário distópico, citando como exemplo um outro estudo que associa um ritmo de vida mais rápido com maior satisfação e felicidade com a vida. A partir destes dados, é definitivamente visível, embora sem adentrar detalhamentos cognitivos, como a maior informação trazida pela tecnologia nos afeta, mas como seria possível enunciar isso detalhando-o cognitivamente?
            McLoughlin (2012, p. 141) sugere que a TI é multimodal em natureza. Isto é, que apresenta informações de origens diversas: visuais, auditórias, por exemplo. Testando entre indivíduos sujeitos a estímulos mais complexos (multimodais) e indivíduos sujeitos a estímulos mais simples, encontrou diferenças estatísticas significantes entre os dois, no sentido de que quanto mais complexo o estímulo, mais rápido o tempo pareceu passar para a pessoa exposta. Mais adiante (ibid., p. 149), cita um estudo diferenciando a percepção de tempo entre pessoas que viram um filme e aquelas que não viram, no qual aquelas que o assistiram reportaram um tempo de duração maior subjetivo para o mesmo tempo objetivo. O autor explica esse efeito ao relacionar a quantidade de informação sendo processada cognitivamente à estimativa de tempo passado por conta da pessoa efetivadora, havendo uma relação proporcional à carga cognitiva e à percepção de tempo passado.
            Embora não muito elucidativo quanto à perspectiva proposta por Lloyd (2011), a tese de McLoughlin (2012) ajuda a entender esse contraste entre situações “naturais” (representadas pelas seções dos testes acima nas quais os indivíduos não foram sujeitos à tecnologia) e a aceleração da modernidade tecnológica, a qual traz uma demanda externa que tira o indivíduo de sua sincronia habitual, cíclica (por sua cotidianidade) e habitual (Lloyd, 2011, p. 6, fala, inclusive, de como o indivíduo “sente” o tempo natural, por questão de hábito – repetido, cíclico, inquestionado – mas “pensa” no tempo como sua versão abstrata e linear, indicando que a cognição é aplicada quando trabalhamos com essa perspectiva de tempo, o que é paralelizável à visão de McLoughlin, 2012, pois ambos relacionam o emprego da cognição à aceleração temporal subjetiva). Isto é, por mais que utilizem termos diferentes – a dualidade, para Lloyd, 2011, é o cíclico vs. o linear, e para McLoughlin, 2012, é a não-exposição à TI vs. a exposição –, ambos têm um modo de ver o mesmo problema – a aceleração do tempo – similar. Há a relação modernidade-percepção de tempo acelerada em ambos. Assim, há suficiente detalhamento, para o escopo deste texto, da questão levantada anteriormente: ela sobreviveu, pelo menos parcialmente, a sua passagem pelo empírico.
            Ainda resta, porém, definir por qual outro lado essa questão poderia ser levada – e se, por exemplo, não houvesse substancial aceleração por causa de análogos sociais universais à história, no sentido de a tecnologia da informação ocupar um nicho que, em outras épocas, foi preenchido por outros instrumentos ou recursos do ser humano? Essa, infelizmente, é uma indagação muito ampla, de difícil pesquisa: talvez possa se estabelecer uma relação desta hipótese com conceitos como a Recorrência Eterna, trabalhada por, entre muitos, mais famosamente, Nietzsche. Mas, na sua natureza filosófica e até mesmo mística, esse é um conceito que traria uma dificuldade imensa de ser trabalhado, especialmente porque ou é impossível de ser testado, ou é testável, mas sob alguma metodologia ou busca de correlações complexa e revolucionária e, assim, fora do alcance.







Referências

LLOYD, Andreas. Technology and Western perception of time2011. Disponível em <http://www.albacharia.ma/xmlui/handle/123456789/32058>. Acesso em: 20 jun. 2016.

MCLOUGHLIN, Aoife. The Time of Our Lives: An investigation into the effects of technological advances on temporal experience. Limerick: Mary Immaculate College, 2012. 242 f. Tese (PhD) – Doctor of Philosophy, Department of Psychology, Mary Immaculate College, Limerick, 2012. Disponível em: <https://dspace.mic.ul.ie/bitstream/handle/10395/1515/McLoughlin,%20A.(2012)The%20Time%20of%20Our%20Lives%3A%20%20An%20investigation%20into%20the%20effects%20of%20technological%20advances%20on%20temporal%20experience.(PhD%20Thesis)pdf.?sequence=2&isAllowed=y>. Acesso em: 20 jun. 2016.
Aluno 109
Reescrita


Estava ciente que quando chegasse a academia me depararia com textos teóricos que forçariam minhas habilidades cognitivas ao máximo.
No primeiro semestre do curso de letras, há uma cadeira de introdução à linguística, em que são apresentas os primeiros conceitos teóricos dessa ciência e que serão aprofundados ao longo do curso. Uma das últimas leituras realizadas no semestre é de capítulos selecionados do “Curso de linguística geral”(CGL) de Ferdinand de Saussure, o principal colaborador que tornou a linguística uma ciência propriamente dita, definindo o seu principal objeto de pesquisa.
No primeiro contato com os capítulos iniciais do CGL, me deparei com uma das leituras mais difíceis que fiz até hoje. As ideias do estruturalismo e suas dicotomias -fala/lingua; significante/significado- atravessaram a minha mente como o ditado popular “entrar por um ouvido e sair pelo outro”. Rottava(1998) afirma que compreender um texto é atribuir-lhe sentido, através de conhecimentos prévios, e sem as primeiras leituras introdutórias a linguística, feitas ao longo do semestre, entender uma das primeiras teorias linguísticas que iriam ser-me apresentadas no curso teria sido uma tarefa quase impossível.
Os principais conteúdos trabalhados ao longo do semestre focavam em mostrar e explicar o que seriam variações linguísticas, e contribuíram para o entendimento de uma das principais dicotomias propostas por Saussure, a de língua/fala. Simplificando: “fala” seria algo variante de pessoa para pessoa, algo individual, e “língua” algo coletivo, comum a todos dentro da comunidade de falantes de determinada língua. Mostrando o quão necessário se faz a intertextualidade para compreensão do todo de qualquer texto, Kleiman (1995, p.25) diz “A ativação de conhecimento prévio é, então, algo essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o leitor tem sobre o assunto que lhe permite fazer as inferências necessárias para relacionar diferentes partes discretas do texto num todo coerente”.
A falta de intertextualidade, a carga necessária de leitura, para elucidar na minha mente as teorias compiladas pelos alunos de Saussure te[Autor des1] riam tornado a tarefa, de compreensão do texto, em algo tortuoso, em outro tempo, onde o “eu leitor” não teria dado nem sequer a oportunidade ao CGL. As aulas expositivas que se seguiram pós a primeira leitura do CGL, onde foram retomados os conteúdos já vistos até aquele momento, foram o ponto chave para que a segunda leitura do mesmo texto fizesse mais sentido e fixassem-se suas ideias na minha mente.




REFERÊNCIAS
KLEIMAN, Angela.Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 4. ed. Campinas: Pontes, 1995

ROTTAVA, Lucia. A Leitura e a Escrita na Pesquisa e no Ensino. Espaços da Escola, Ijuí, Unijuí, ano 4, nº 27, Jan./Mar., 1998

 [Autor des1]Pasmem, o dito cujo não publicou nada, foram os aluninhos dele.

Parecer_Aluno109


Você parece fazer uma articulação bem clara entre uma memória e um conceito específico em seu texto: a de leitura de “Curso Geral de Linguística” e do conceito de “conhecimento prévio”. Elas funcionam muito bem em conjunto, mas, como primeira sugestão, acredito que você poderia trazer mais referências teóricas para sustentar os seus exemplos e justificar as suas dificuldades. É evidente que você comenta a teoria indiretamente; contudo, o objetivo dessa proposta é ter citações ou paráfrases permeando um memorial.
         Como parte do memorial, acredito que você poderia trabalhar melhor alguns conceitos que traduzem sua experiência. Lembre-se que apesar de estar inserido em um contexto acadêmico, o seu interlocutor pode não ter o conhecimento prévio necessário para entender o seu texto. Tente tornar algumas passagens mais objetivas, como no último parágrafo, que você comenta que as aulas que seguiram a leitura do texto foram ponto chave: narrar ou descrever o que se passou em aula pode ajudar a esclarecer o que aconteceu pós-leitura, e nas leituras conseguintes. Ademais, atente para as normas da ABNT que se referem a citações, e não se esqueça das referências bibliográficas.

Boa reescrita!
Aluno 109
1 Versão


Estava ciente que quando chegasse a academia me depararia com textos teóricos que forçariam minhas habilidades cognitivas ao máximo. Numa primeira leitura nos capítulos iniciais do Curso de linguística geral(CGL) de Saussure, indicados pelo professor, me deparei com uma das leituras mais difíceis que fiz até hoje. As ideias do estruturalismo e suas dicotomias -fala/lingua; significante/significado- atravessaram a minha mente como o ditado popular “entrar por um ouvido e sair pelo outro”.
Compreender um texto é atribuir-lhe sentido, através de conhecimentos prévios, como afirma Rottava(1998, pág. 2), e sem as primeiras leituras introdutórias a linguística, feitas ao longo do semestre, entender uma das primeiras teorias linguísticas que iriam ser-me apresentadas no curso teria sido uma tarefa quase impossível.
A falta de intertextualidade, a carga necessária de leitura, para elucidar na minha mente as teorias compiladas pelos alunos de Saussure teriam tornado a tarefa, de compreensão do texto, em algo tortuoso, em outro tempo, onde o “eu leitor” não teria dado nem sequer a oportunidade ao CGL. As aulas expositivas que se seguiram pós a primeira leitura do CGL foram o ponto chave para que a segunda leitura do mesmo texto fizesse mais sentido e fixassem-se suas ideias na minha mente. Sem desconsiderar a construção de conhecimentos feita durante o semestre que auxiliaram no entendimento do texto, mas que ainda assim não sanavam totalmente a demanda do texto de que leitor possuísse uma carga de conhecimento teórico linguístico.

Comentário por 104

A sua reescrita está muito mais clara e concreta, você conseguiu fazer o que foi pedido no seu parecer e até quem nunca preparou um mate conseguiu entender, basicamente, como se prepara um (como foi o meu caso). Ainda que, na minha opinião, você poderia ter sido mais direta ao descrever o processo, o texto está muito bem escrito.

Comentário por 104

O seu texto é realmente interessante e prende a atenção do leitor. No entanto, não acho que na sua reescrita ele tenha, como foi pedido no parecer, melhorado na sua linearidade, achei que continuou meio confuso nesse quesito, ainda que no quesito de delimitar uma unidade temática o seu texto tenha melhorado um pouco, já que você deu uma maior importância ao descrever mais o acidente, dando a entender que esse foi o fato marcante.

Comentário por 104

Achei o que a tua reescrita teve um grande avanço, tu fez o que foi pedido no parecer e assim possibilitou com que o leitor pudesse conhecer um pouco mais sobre ti, e por que tu sempre quiseste ser professora. Tu conseguiste seguir uma unidade temática e teu texto possui concretude, pois tu dás exemplos nas passagens mais abstratas como quando tu falas “Eu gosto da física, embora ela não me ame”, é explicado o porquê ela não te ama: “acho a teoria toda muito linda, mas não me dou tão bem com os números”.

Comentário por 106

  Aluno 94 (3° Proposta): Seu texto apresentou unidade temática e concretude bem definidas visíveis desde a primeira versão. Contudo, existia uma pequena confusão confusão com a metáfora das "baquetas" e em sua estrutura de parágrafo. Em sua reescrita, o autor soluciona esses problemas, deixando assim seu texto com maior facilidade de entendimento para o leitor. Seu texto possui os elementos narrativos necessários para atender ao objetivo da proposta 3 e mostra sua evolução no processo de escrita para reescrita.

Comentário por 106

  Aluno 81 (2° Proposta): A reescrita da proposta buscou a concretude aumentando os exemplos no texto, porém acabou fazendo com que ele abordasse muitos aspectos tornando-o longo. São muitas voltas até o clímax da descrição da ação e isso faz com que o leitor se perca tentando encontrar a unidade temática. Contudo, ao final do texto é possível encontrar o elemento central que é o nascimento do irmão, é notável também a evolução do texto, já que na reescrita o autor dá a “moral da história” necessária ao tema proposto anteriormente não inserida.

Comentário por 106

  Aluno 99 (1° Proposta): A primeira versão do texto não dá informação relevante sobre uma característica importante a ser desenvolvida. A partir do parecer o aluno busca escrever o texto de acordo com a proposta, contudo ele se desenvolve de forma muito abstrata, logo, é difícil encontrar concretude para tirar informações pessoais e caracterizar o texto como uma apresentação pessoal. A unidade temática se desenvolve dentro da suposta pretensão do autor, porém os argumentos se bagunçam e em algumas partes se tornam confusas. É possível perceber que o aluno obteve evolução da primeira versão para a reescrita, porém o texto pouco se encaixa com a proposta.

Comentário por 85

Autor 103, seu texto apresentou unidade temática bem definida desde a primeira versão, com um ponto de vista bem determinado. Entretanto, existia uma pequena confusão entre passo e processo. Em sua reescrita em seu segundo parágrafo, você introduz a “escolha do título” como um passo posterior ao início do processo de leitura deixando assim, seu texto mais claro. Seu texto possui os elementos narrativos necessários para atender ao objetivo da proposta 3 e mostra sua evolução. Além disso, os recursos lexicais usados estão a serviço do texto fazendo alusão a sua unidade temática: o processo de ler um livro.  J

Comentário por 85

O autor um em sua escrita possui unidade temática definida, entretanto permeia diversas outras possíveis conjunturas textuais. O teor concretude também se mostra presente em partes do texto do autor 94 fazendo uso dos acontecimentos e falas. Entretanto, em sua reescrita você faz uso de recursos lexicais que de início (e apenas de início) estão a serviço do texto, com o passar da leitura esses recursos tornam-se cansativos e desnecessários. Nesse viés, sua reescrita ainda falta no que tange à concretude, pois não é possível “visualizar” alguns acontecimentos que você cita em seu texto. Contudo, a unidade temática de seu texto está evidente, e você consegue atingir o objetivo da proposta 2, transparecendo um acontecimento marcante em sua vida. J

Comentário por 85

É notável a evolução ocorrida da escrita para reescrita. O autor 101 deixa claro ao longo de seu texto que sua unidade temática agora, na reescrita é apenas a indecisão sem abrir espaços para outras unidades temáticas. Com isso, o autor também provê elementos com maior autonomia, singularidade e concretude em sua reescrita, que não estavam presentes na versão anterior, como por exemplo: “O gosto pela leitura foi o que iniciou meu caminho, começando pelo dia da biblioteca na escola, indo para as compras na Feira do Livro e transformadas em coleções dos mais diversos autores...”. Sob esse ângulo, o autor 101 obteve êxito no tocante ao objetivo da proposta 1, que seria a autodescrição. J

Comentário por 112

A primeira versão do texto consegue prender o leitor a cada detalhe, cumprindo todas as expectativas da proposta. Porém, a descrição da ação de ter um filho acaba por ser muito subjetiva e faltam detalhes que descrevam e desenhem o ambiente para o leitor. Atento a isso, o aluno 82 modificou sua subjetividade e, na segunda versão, o texto está completamente enquadrado na proposta. 

Comentário por 112

O primeiro texto consegue atingir com maestria a proposta, que era descrever um acontecimento que tinha marcado a pessoa. Porém, peca pelo excesso de detalhes. No segundo texto, nota-se a tentativa do aluno de retirar os detalhes em demasia dos últimos parágrafos, embora a narrativa continue longa e um tanto repetitiva. O texto cumpre com o objetivo de descrever uma situação que tenha marcado o autor e, ao mesmo tempo, está dentro da unidade temática. 

Comentário por 112

No primeiro texto, o aluno foge da unidade temática, por se ater mais a acontecimentos da sua vida do que em sua apresentação de fato. O parecer é bem conciso ao informar que a unidade temática se perde. Porém, na segunda versão o problema continua. Embora ele se apresente nos primeiros parágrafos, dando uma lista de suas características, com o decorrer do texto a temática se perde  e dá lugar à história de como ele conseguiu escapar do bullyng e lidar com sua auto-estima. Essa perda da unidade é evidenciada pelo título, que se trata de uma mensagem de inspiração e não, propriamente, como uma apresentação. 

Comentário por 92

A maneira como você introduz o assunto é interessante. A princípio estranhei mas a frase inicial já dá o tom do texto. Existe concretude, imagino facilmente a cena do quarto e os eventos que se sucederam. Existe unidade temática, o texto, como um todo está bem estruturado. Como sugestão, penso que talvez você poderia considerar dizer o QUE era aquela coisa que fazia as pessoas rirem, e você entendeu que não era admiração. Me parece óbvio, mas talvez nem todos se sintam assim.
Ademais, bom texto.

Comentário por 92

A princípio me pareceu que seu texto tinha como unidade a ideia de usar os livros como escape e a possibilidade deles de te levar pra lugares e embarcar em histórias diferentes, mas ao avançar um pouco, você focou na sua introversão e zona de conforto nos livros. Acho que isso poderia ter sido melhor delineado.
Penso que talvez você pudesse ter falado um pouco mais sobre a sua zona de conforto. No que se constitui? Apenas ficar calada(o)? Se fechar para o mundo e seus habitantes? Entendo que você diz que gosta e conversa do mesmo jeito, mas acho que isto poderia ter sido um pouco mais desenvolvido.
Ademais, bem escrito. Possui certa concretude, posso imaginar você na infância, na biblioteca, nas situações mencionadas. A citação é interessante para o texto. 

Comentário por 92

O texto possui concretude. Consigo imaginar a sala em que você brinca e todos os objetos descritos na sua atividade de criança me passam uma imagem bem clara.
Penso que você poderia desenvolver um pouco mais a ideia de ser mais um receptor do que um emissor, como diz no início do texto, e como isso vem de encontro com a sua infância peculiar.
Ademais, clara evolução na reescrita.

Comentário por 94

Tanto a escrita quanto a reescrita estão muito bem escritas. Na reescrita você soube adaptar a crítica da professora Rottava de maneira muito bem, criando uma nova espécie de unidade temática que abrangesse o que você queria descrever. Como única crítica eu diria que seu último parágrafo parece fugir um pouco da proposta da tarefa. Perceba que a tarefa da proposta é meramente uma descrição de um ato cotidiano, ela, portanto, se pauta em uma descrição estritamente objetiva sem espaço para devaneios ou outros acréscimos. Como a professora lhe criticou na primeira escrita sobre a necessidade de certas frases, recomendo que repense sobre este parágrafo. De fato, o parágrafo possui alguma informação, mas a maneira que ele é colocado acaba tirando um pouco da objetividade de conclusão da proposta, levando o autor a ter uma percepção um pouco mais subjetiva do final do processo – o que creio não ser adequado para a tarefa dessa proposta.

Comentário por 94

Houve uma grande evolução na reescrita. Você conseguiu atribuir tanto a unidade temática quanto a concretude e o texto acaba por ser objetivo. Porém, talvez para a melhor fluência do texto e um entendimento ainda mais claro, seja melhor organizar e situar melhor as idéias do seu segundo parágrafo. Perceba como você começa a escrever o segundo parágrafo com uma narração em tom abrupto: você está jogando o leitor em algo, mas, ao mesmo tempo, parece não saber guiar perfeitamente aonde ele irá.
Eu vejo este segundo parágrafo como grandes parágrafos separados, com grande concretude, mas que juntos, como uma narração total, acabam se tornando um pouco confusos. Recomendo que tente situar um pouco mais e tenha mais calma na hora de cadenciar e linkar uma experiência a outra, uma memória a outra. Dessa forma, você vai conseguir maximizar ainda mais o potencial do seu texto e o potencial da concretude posta, de maneira que o texto se torne para o leitor mais cadenciável e fluído.












Comentário por 94

Seu texto está bem claro e coeso. A reescrita que você fez proporcionou não somente uma melhor concretude do que você pretende falar, mas também criou uma espécie de articulação que prende cada relato ou elemento informativo dentro da unidade temática.
Talvez, como crítica construtiva para melhorar ainda mais o texto, você poderia atar mais ainda a unidade temática. Perceba que por vezes você dá um foco no valor da literatura que você sempre teve consciência, e também de como você sempre foi curiosa pela literatura. Em outras vezes, porém, parece que isso se desdobra dentro da questão da influência dos seus pais. Entendo o texto e não acho que ele tenha fugido da unidade temática, mas talvez o texto possa melhorar ainda mais se você atar a concretude colocada na reescrita com a relação direta da influência dos seus pais para isso. Falo da característica da influência dos seus pais colocada em seu texto por achar que pode ser uma etapa a mais para a construção de uma unidade temática muito coesa. Dessa forma, você poderá guiar ainda mais o leitor desde o início para que ele seja levado do início ao fim a sua proposta de apresentação pessoal.


Comentário por 67

Aluno 77
Seu texto tem uma unidade temática bem definida, apresenta o processo de maneira clara e é objetivo, guia o leitor nas ações que devem ser realizadas e em qual ordem. Assim, cumpre a tarefa de descrever um processo muito bem, mas a sua falta de concretude prejudica, pois o leitor não consegue se tornar mais participante do texto. Os ajustes realizados após o parecer ainda não foram o suficiente para que o leitor conseguisse visualizar o cenário, você poderia ter usado exemplos do seu próprio quarto como “os livros que você está lendo fica na cômoda e os demais voltam para a estante”, faltou descrever mais o ambiente. Fora isso foi um bom trabalho!


Comentário por 67

Aluno 71

No sua primeira versão não consigo ver sua unidade temática, pois você a divide entre o hospital e a sua experiência de revelar-se aos seus pais, e mesmo depois do parecer esta habilidade não foi alcançada. O seu segundo texto tem muita concretude, principalmente na parte que você descreve o momento de falar com seus pais. Acredito que você tenha conseguido na sua reescrita cumprir com a tarefa de descrever um momento de aprendizagem, apenas revisaria o primeiro paragrafo que não ficou integrado com o restante do texto. Bom trabalho!

Comentário por 67

Na sua primeira versão temos pontos bem abstratos que dificultam a constituição da objetividade. Mas após o parecer, seu texto ganhou mais concretude como no exemplo do sabor do sorvete e de sua facilidade com rápidas amizades e com o rompimento de relacionamentos mais antigos estes aspectos tornam a sua peculiaridade mais clara, que seria estas suas “inúmeras combinações” que te individualizam. Bom trabalho!

A causa da falta de tempo na vida universitária

Aluno 66
Reescrita


Antes mesmo de o aluno ingressar na vida acadêmica ele já tem conhecimento, através de amigos e conhecidos, da difícil tarefa de organizar a sua nova rotina. O futuro universitário vem de um contexto, na sua grande maioria, um pouco mais tranquilo onde ele deve apenas manter a escola em equilíbrio. Sendo assim, na universidade este aluno acaba desenvolvendo grandes dificuldades para se adaptar ao novo estilo de vida.

            E é esta desorganização que estabelece uma sensação de uma falta de tempo generalizada. Causada, talvez, pela má distribuição de tempo entre os compromissos que o aluno assume. Pois a universidade exige do aluno atuações em diversas atividades, como eventos, palestras, oficinas e afins. Outro possível fator que prejudicaria o tempo do aluno seria o emprego, este que na maioria dos casos não pode ser dispensado. Pois como diria CARELLI e SANTOS (1999), "quando o jovem tem a possibilidade de estudar, esse processo representa sua oportunidade de transformação, passando a ver os estudos como requisito básico de ascensão pessoal e profissional". Para muitos se tornando o real motivo para a falta de tempo generalizada.

           

            Alguns dirão que em uma situação como esta ou a pessoa acaba escolhendo entre dois dos três, emprego, estudos ou vida social. O que nos leva a uma segunda hipótese: a relação com a família e amigos. Pois mesmo quando o aluno tem uma estrutura familiar forte ele desprenderá certa demanda de tempo e atenção que seus familiares e amigos irão lhe exigir. Um estudo realizado na universidade de Maringá revela que 33,89% dos alunos afirmam ter dificuldades pessoais e falta de tempo para os estudos, podendo estas duas fatalidades estar relacionadas, ou seja, para que o tempo seja optimizado o estudante deve criar um cronograma com seus afazeres e comprometer se a seguir a risca incluindo o tempo gasto nos encontros de família, festa no fim de semana ou simples conversas com seus pais.

            Todos estes detalhes farão diferença na hora de dedicar se aos estudos em casa, já que não basta estudar somente dentro de sala de aula, você precisa ter um tempo extra para ler, reler e fazer as suas atividades exigidas para as cadeiras; muitas vezes em um curto período e sem rebaixar a qualidade do seu produto final. O que acaba tornando-se um problema, pois o estudante acostumado com um sistema educacional que avalia somente para dar uma nota, não tem o hábito de estudar para realmente adquirir conhecimento.
           
            Mas o baixo retorno das notas não é um indicativo da quantidade de QI do aluno, mas sim do tempo que ela se propôs a investir naquela atividade. Lembrando que estamos falando de um tempo de real dedicação e não apenas esquemas que foram planejados e nunca são cumpridos, pois vale mais um tempo curto de alta atenção e cuidado com o que se faz do que horas de procrastinação mescladas com a atividade que foi realizada em minutos. Reafirmando que o tempo e a sua distribuição devem ser extremamente bem pensados e rigidamente seguidos para que o aluno não sinta aquela falta de tempo generalizada e possa identificar quais são os seus erros e corrigi-los para obter um melhor desempenho.

            Referências

CARELLI, Maria José Guimarães; SANTOS, Acácia Aparecida Angeli dos; Condições temporais e pessoais de Estudo em Universitários.
Link: http://www.scielo.br/pdf/pee/v2n3/v2n3a06 Último acesso em 26/06/2016.


SOUSA, Janice T. Ponte de; Estudo do Aluno Universitário para a Construção de um Projeto Pedagógico. Link: http://www.publicacoes.inep.gov.br/portal/download/485 Último acesso em 26/06/2016.

Parecer_Aluno66

O seu texto cumpre bem a proposta, mas alguns pontos podem ser repensados. Primeiramente, é importante reler seu texto do ponto de vista sintático, principalmente no primeiro parágrafo: as frases estão mal organizadas, ou seja, não são capazes de transmitir muito bem a mensagem que você quer passar. Atente para questões de pontuação e de subordinação e coordenação de sentenças. Por exemplo, na primeira frase o leitor só consegue captar a ideia após algum esforço. Talvez repensar a escolha lexical seja uma boa alternativa para melhorar esses trechos.
Outra sugestão é que você introduza um pouco mais o dado concreto que escolheu usar. A única informação fornecida é que o estudo foi feito na Universidade de Maringá e que a porcentagem é 33,89%. Tente relacionar esse dado com o restante do texto; ao contrário, ele estará ali apenas para cumprir a tarefa e não para corroborar com a sua opinião. Ademais, lembre-se das referências bibliográficas.
Boa reescrita!