Aluno 86
Reescrita
Crescer
em uma família como a em que cresci, contribuiu significativamente na formação
da pessoa que sou hoje, de modo que seria impossível fazer uma apresentação
pessoal sem relacionar com tal fato. A criança curiosa que se desenvolveu no
meio de tanta informação, hoje disfruta de tudo aquilo que construiu movida
pela vontade de saber qualquer coisa, o máximo de coisas que fosse possível.
Durante toda minha infância e
adolescência, fui instigada pelos meus pais a questionar, descobrir o
significado das coisas que eu não conhecia. Na maioria das vezes o fazia
procurando nas páginas do meu dicionário influenciada pela minha mãe que sempre
esteve ciente da minha curiosidade, noutras vivenciando situações novas e
buscando nelas experiências de aprendizado. Até hoje quando não sei o
significado de alguma coisa, lembro-me dela dizendo: “Cadê o teu dicionário?
Busca que a gente vai descobrir!”. Na maioria das vezes o fazia sem hesitar,
mas como qualquer criança, em determinados momentos tinha pressa para descobrir
o que eu queria, tentando acelerar o processo. Ou seja, tentava fazer com que
ela me dissesse o que tal palavra significava sem ter que me dar ao trabalho de
fazer a pesquisa. Minha mãe, nunca dava o braço a torcer. Quem o fazia era eu,
que consumida pela curiosidade ia atrás do dicionário o mais rápido possível
para acabar com aquela angústia logo! Assim, cresci sabendo que eu poderia
dominar qualquer assunto se o estudasse com afinco, se me interessasse em ir
atrás das respostas eu mesma.
A paixão pela leitura aconteceu com
a maior naturalidade possível. Alguns livros ganhava do meu pai, às vezes em
inglês em razão das viagens que ele fazia a trabalho e do conhecimento que ele
tinha do meu interesse por essa língua. Outros eu ganhava de professoras, que
percebiam minhas frequentes visitas e empréstimos na biblioteca. Tudo isso
somado aos livros da estante de casa, com obras que meu irmão e minha irmã
leram, foram o suficiente para que eu tivesse cada vez mais interesse por
aquelas palavras que só me faziam querer descobrir cada final de cada título
instigante que eu encontrasse pela frente.
Através dessa curiosidade que me
move até hoje, e principalmente o incentivo da minha família, pude alcançar um
dos meus maiores objetivos: estudar em uma universidade pública de prestígio. Minha
mãe sempre disse que eu deveria cursar Letras ou Direito, meu pai sempre quis
que eu estudasse na UFRGS independentemente do curso. Mas uma criança cujo
passeio preferido era ir à livraria e que nunca perdia sequer uma Feira do
Livro, não poderia ter outro futuro que não a Faculdade de Letras. Lembro-me
com clareza do sábado que se seguiu após minha primeira ida à Feira do Livro
com a minha turma de quarta série da escola. Meus pais tinham uma reunião com
outros criadores de chinchilas como eles em uma fazenda no topo de uma colina
na beira do rio em Guaíba. Acompanhada de três aquisições feitas no dia
anterior, passei a manhã e a tarde debaixo da sombra de uma árvore. Ao final do
dia, tinha lido os três livros inteiros, que não eram tão pequenos assim, para
a surpresa dos amigos dos meus pais. Estes não se surpreenderam tanto assim,
pois já estavam acostumados comigo devorando livros em casa.
Pergunto-me se eu seria a mesma
pessoa caso não tivesse todo o incentivo que tive. Hoje posso dizer aqui, nessa apresentação,
que sou muito mais do que uma criança grande e curiosa, apreciadora da
literatura. Sou a 86 de 22 anos, grata por todas as oportunidades de
estudo, de leitura, de descobertas, principalmente de vida que tive, e
extremamente feliz com as escolhas e as pessoas que me guiaram até aqui.
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