terça-feira, 21 de junho de 2016

Como desconversar

Aluno 92
Reescrita


Desconversar é uma ferramenta complexa, porém útil no dia a dia. Seja em reuniões sociais, em acaloradas discussões, ou na fila da padaria, sempre haverá alguém lhe indagando sobre alguma problemática. Se você é do tipo que prefere não assumir posições, ou talvez simplesmente não faça a mínima ideia do que está sendo discutido, aprofundar-se na arte da enrolação e desconversação é vital.
    Inicie dizendo que o assunto em questão é complexo. Isso dá a impressão de que você domina o objeto de discussão e dá abertura para novas divisões de enrolação desconversativa. As pessoas sempre esperam uma intricada explicação por parte daqueles que se mostram interessados e ativos em qualquer assunto.
Sempre afirme que o assunto em questão deve ser analisado de diversos ângulos. Além de proporcionar mais tempo para pensar, isso faz parecer que você já ponderou sobre a problemática em um momento anterior, e aumenta sua bagagem, mesmo que ela não exista. Fale de maneira clara e confiante.
    Caso você se encontre em uma situação de visível destaque, como uma palestra, dissertação, ou apresentação de um trabalho com uma proposta que você não entendeu direito ou deixou para o último dia, não dê tempo o suficiente para seus ouvintes ponderarem sobre o que você está dizendo. Encha-os com informação ininterrupta, porém não desenvolva nem chegue a nenhuma conclusão concreta. Diga que devemos ponderar com calma, evitar extremismos, mencione que os pontos de vista alheios são interessantes, porém devemos ir mais fundo, coce o queixo com expressão séria e contemplativa e acene com a cabeça em expressão de aprovação quando outros emitirem opiniões minimamente aceitáveis. Não se esqueça de dar longas voltas no assunto e não chegar a lugar algum.
    De forma alguma esqueça de citar alguém antes de finalizar seu discurso desconversativo. Decore dois ou três aforismos de pensadores que lhe agradam e guarde-os para momentos propícios. Os gregos são sempre uma boa escolha. Platão mesmo disse que a necessidade é a mãe da invenção.
    Depois de ter falado muito e não ter dito absolutamente nada, finalize com a sensação de dever cumprido. Não procure aprovação, você já foi diplomático o suficiente, não há com o que se preocupar, apenas aguarde a próxima opinião.
    Sempre haverá alguém com fortes convicções que lutará com unhas e dentes para defendê-las. Caso contestem sua opinião ou aleguem não ter entendido, repita o processo.

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