Aluno 109
Reescrita
Aluno 109
Reescrita
Olá, me chamo 109, tenho 20 anos, 1 metro e 60 centímetros de altura e 57 quilos. Soa bobo colocar essas minhas "medidas", mas acho importante pra contextualizar.
Na época onde os hormônios afloram, os desejos aparecem e os pêlos começam a crescer em lugares cabulosos -leia-se adolescência-, foi-me lembrado o quanto os trinta quilos a mais que possuía na época eram importantes, não para mim, mas para os outros. Parecia uma capa de invisibilidade, que escondia algo que nem mesmo eu sabia se era bom ou ruim.
Estando acima do peso e sendo homossexual, obviamente que as frustrações alheias dos meus colegas de escola, e do mundo, eram descontadas na minha pobre pessoa. Ser "gordinho" nunca havia me incomodado antes, eu nem sequer entendia por que alguém se incomodaria com isso ou com o fato de gostar de meninos e não de meninas, mas parece que para muitos "alguéns" isso era muito importante e motivo de repúdio.
Segui minha vida com os poucos amigos que tinha e minha família, que achavam que eu era uma grande pessoa- sem trocadilhos-, não encontrando as razões que legitimavam aquele repúdio. Não entendia por que não me atribuíam adjetivos além de fofo, bacana, legal etc, nenhum relacionado à minha aparência.
Parecia que algumas experiências comuns de um adolescente me eram negadas, como havia dito antes, tive apenas alguns poucos amigos- que convivo até hoje - as típicas paixonites da idade nunca eram correspondidas, o primeiro beijo veio depois de perdido os trinta fucking quilos, e a coisa fica pior quando lembramos que as minhas paixões eram limitadas as pessoas do mesmo gênero.
Chacotas, piadinhas, agressões de todos os tipos eram normais, a melhor maneira que encontrei para lidar com elas foi ignorar. Ignorar sempre fora mais fácil, sempre é a forma mais fácil de lidar com qualquer coisa, até que, depois de passada essa fase turbulenta, “só” ignorar, parou de funcionar pra mim. Não queria ser mais invisível, queria que todos vissem o que havia de bom em mim, mesmo que tivesse que colocar outra capa, uma capa que chamasse atenção, que é era “adequada” para os outros.
Como diz o ditado: se não pode vencê-los, junte-se a eles, acabei cedendo ao padrão, infelizmente, e às vezes tenho vergonha disso, mas fui fraco, queria ser aceito, mesmo que para isso eu tivesse que ir contra o que deveria ser certo. Ninguém deveria ser menosprezado e ignorado por causa de aparência, ou qualquer outra coisa, mas simplesmente aceito do jeito que é.
Um jovem adulto, eu, decide trocar de capa, trinta quilos perdidos em seis meses, capa nova pronta, finalmente o mundo parece me notar, finalmente me dizem o que deveria ser dito a todos: você é lindo, porra!.
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