Aluno 92
1 Versão
Alexander
Hamilton nasceu em 1755. Foi abandonado pelo pai e perdeu a mãe para uma
doença. Perdeu os poucos bens que lhe restavam quando um furacão atingiu sua
ilha.
Os moradores,
movidos por um poema criado por Alexander, relatando o ocorrido, juntaram
economias e o colocaram em um barco para Nova York, onde ele teria
oportunidades.
Alexander Hamilton foi peça chave da revolução americana e se tornou o primeiro secretário do tesouro americano.
Alexander Hamilton foi peça chave da revolução americana e se tornou o primeiro secretário do tesouro americano.
Eu, 92, ator, jovem de vinte anos que
mora em Alvorada e cursa letras, me vejo muito em Hamilton, e vejo muito dele
em mim.
Eu nunca fui
alvo de grande expectativa por parte de ninguém, nem família, nem amigos. Todos
tem plena certeza que o 92 vai conseguir um belo emprego medíocre, uma
bela casinha medíocre, terá uma bela esposa e talvez um cachorro. Também
comprará um carro. Não é como se ele fosse além disso.
A alguns anos atrás eu descobri o teatro.
Sem dúvidas a paixão da minha vida. Todo o meu tempo livre se esvai em livros
sobre teatro ou ensaios. Nos primeiros meses de trabalho com um grupo, tudo era
incrível, mas quanto mais tempo passava, quanto mais eu me envolvia com o meio
teatral, mais pessoas eu conhecia e mais certeza eu tinha de que eu não estava
nem perto do nível delas. Mediocridade, insatisfação.
O teatro teve influência na escolha do curso
de letras. A ligação do palco com a literatura é especial. Estava e ainda estou
bastante animado com o curso, porém logo nas primeiras aulas e nos primeiros
trabalhos já noto uma dificuldade de expressão e argumentação de minha parte,
coisa que não noto nos outros colegas. Esse aparentemente simples texto já me
deu muito trabalho, e não está com a qualidade que eu gostaria. Mediocridade,
insatisfação.
Talvez eu me cobre demais, talvez as metas que eu imponho para mim mesmo sejam gigantescas demais, talvez eu devesse dar um passo de cada vez e não abocanhar mais do que posso mastigar, mas toda vez que eu vejo os outros mais avançados, toda vez que eu me lembro da história de Hamilton, eu também me recordo daquele relógio acima de minha cabeça, do tempo que ainda tenho pra completar meus objetivos. E se eu morrer na mediocridade? E se eu viver na mediocridade? E se?
Talvez eu me cobre demais, talvez as metas que eu imponho para mim mesmo sejam gigantescas demais, talvez eu devesse dar um passo de cada vez e não abocanhar mais do que posso mastigar, mas toda vez que eu vejo os outros mais avançados, toda vez que eu me lembro da história de Hamilton, eu também me recordo daquele relógio acima de minha cabeça, do tempo que ainda tenho pra completar meus objetivos. E se eu morrer na mediocridade? E se eu viver na mediocridade? E se?
Como vou ser um
bom professor se tenho dificuldades para escrever um simples texto me
apresentando? Como vou alcançar a Broadway tendo nascido pobre, em alvorada e
sem um pingo de talento?
Eu decidi que a única coisa que poderia
fazer pra ser o que eu quero ser é trabalhar. Trabalhar o suficiente até eu
conseguir ou ter um colapso nervoso, o que vier antes. Isso seria muito bonito
e nobre, se eu não tivesse medo.
Este sou eu, um homem com medo. A
insatisfação com as minhas atividades e essa sombra de mediocridade me corroem
mas também me definem. Me sinto preso em uma ilha, com água por todos os lados,
e não sei se vou sair dela tão cedo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário