Aluno 76
Reescrita
Eu tinha 16 anos e conversava sobre o futuro com meu técnico de
vôlei e meus companheiros do time do colégio. O papo girava em torno do que
“iríamos ser quando crescer”, ou seja, o que faríamos na faculdade, dali a um
ano. Foi quando o meu professor sentenciou: “o Balsemão pode escolher qualquer
curso, que ele vai se dar bem”. Aquele treinador era um ídolo pra mim, e
encarei aquelas palavras como um grande elogio, afinal, eu poderia ser o que eu
quisesse. Mas foi só há alguns anos que realmente entendi aquela mensagem.
Traduzindo: eu faria qualquer coisa bem, não super bem. Eu era alguém apenas
ok. Nem bom. Nem mau. Na média.
Dar-se conta disso, acreditem, pode ser um tanto quanto
perturbador. Porque quem é “ok” gosta de tudo. Faz tudo mais ou menos bem. Então
fiz vestibular pra direito, passei na federal do Rio Grande do Sul e até que
tava indo… ok. Mas não tava feliz. Não que eu estivesse infeliz, mas eu senti
que poderia me doar um pouco mais se fizesse outra coisa. Foi quando entrei,
meio que por acaso, no curso de jornalismo. A empolgação inicial foi grande, e
eu tirava notas muito boas. Comecei a trabalhar em um jornal de Porto Alegre e,
mesmo antes de formado, fui contratado como repórter. Fiz matérias
interessantes. Mas nada que abalasse as estruturas. E assim tenho levado.
Porque eu gosto muito de jornalismo, e quem faz o que gosta
acaba fazendo bem. É o que dizem, e eu acredito. Mas eu também gosto de
história, cheguei até a cursar alguns semestres dessa graduação. Curto ainda
outras coisas que não são dignas de nota em um jornal.
É mais ou menos como se eu estivesse o tempo todo desperdiçando
meu potencial. Como se eu não tivesse foco. Parece confuso, eu sei, mas é que,
por exemplo, eu sou do sexo, das drogas e do rock and roll. Mas também sou do
funk, da música eletrônica, do pagode (old school, claro) e até, bem de vez em
quando, da ópera.
E nessa toada tenho me moldado ao longo desses 20 anos desde
aquela sentença do meu professor. Acabo fazendo um pouquinho de tudo, e, no
fundo, o que me resta? Tenho mania de colecionar experiências, muitas delas bem
inacabadas. Outras totalmente superficiais. Porque, por exemplo, se eu
canalizasse todas as minhas energias pro jornalismo, acredito que seria um
repórter de ponta. Mas agora estou eu aqui, aos 36 anos, estudando Letras,
pensando em ser professor, em quem sabe virar tradutor.
Claro que é muito legal ser uma pessoa que experimentou
bastante. Mas, ao mesmo tempo, por eu ser tão curioso e ir tateando por várias
áreas, tem horas que vem uma tristeza. Vem uma sensação de poder ter sido tanta
coisa, uma certeza de ter os pré-requisitos pra conquistar algo muito maior e,
no final das contas, ter jogado tudo no lixo.
Pois sou assim. Nem oito, nem 80: talvez cinquenta. Na média.
Mediano. Na medida?
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