Aluno 79
Reescrita
59, 58, 57... A bomba relógio vai fazendo sua contagem
regressiva enquanto é jogada de um lado para o outro por um menino e um velho.
Estes dois, meus queridos conhecidos, pode-se dizer que são meus alter egos e
que, além da bomba, se revezam no comando do meu ser. E quanto à bomba,
poderosa arma de destruição, eis que esta, sempre pronta a explodir, nunca o
faz, mas sempre recomeça a contagem; alguns dão a ela o nome de ansiedade, mas
este, penso eu como menino, tem muito pouco de poesia.
Nesta constante mudança de comando - ora menino, ora
velho – encontro o que sou (ou creio ser): uma mescla de dois mundos
diferentes, um yin-yang ambulante. Num momento sou menino e vivo uma infância
feliz ao lado de meus pais, sonho ser veterinário ou qualquer coisa que esteja
ligada aos animais e à natureza; no outro sou velho, desenvolvo transtorno
obsessivo compulsivo e passo a analisar em que bicho ou árvore posso tocar, e
minhas mãos, depois de tanto lavar, já não são as mesmas de antes. Num instante
sou menino e toco bateria numa banda de rock (uma de minhas paixões); no
instante seguinte sou velho e, de nervoso, deixo cair as baquetas ao chão
enquanto toco em um pequeno palco de um barzinho qualquer e perco toda a graça
da qual gozava momentos atrás. Hoje sou anarquista, anticapitalista, crítico da
atual ideia de progresso e defensor da liberdade em todas as áreas; amanhã
passarei este texto a limpo em um computador, fruto do capital e do “progresso”
e escravizador da sociedade atual. Agora escrevo meu texto, feliz e admirado
com cada palavra que possa vir a agradar qualquer leitor que seja; daqui a
alguns instantes, venho e troco as palavras por outras “melhores” e perco toda
a poesia inicial.
Enfim, permeando ambos os seres, menino e velho que em
mim habitam, está a bomba; normalmente só a sinto quando sou velho, minhas mãos
suam, minha cabeça dói e o mundo fica preto e branco, mas sei que ela está lá
também quando sou menino, só não posso notá-la, já que estou ocupado demais com
o que realmente importa.
Mas por que não vais a um psiquiatra e manda embora esse
velho com sua bomba? – podes tu me perguntar; saibas que já o fiz, o problema é
que, sempre que ele vai, leva consigo o menino, seu filho, e fico eu sozinho,
normal e sem graça, sem depressão, mas também sem momentos de êxtase. Assim
aprendi a amá-los por igual, já que são ambos necessários, trazem consigo a
poesia e a maravilhosa dor que é o viver.
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