terça-feira, 21 de junho de 2016

O (pior) fato mais marcante da história do Brasil desde que eu nasci

Aluno 104
Reescrita


Quando acordo, olho para o lado e vejo no calendário: 17 de abril. Dia da votação do prosseguimento do impeachment. Que horas são? Meio dia. Eu ainda preciso ir para casa almoçar, depois fazer o texto da cadeira de produção textual, depois ir pra praça da matriz acompanhar a votação. Vou para a parada pegar o ônibus. 25 minutos e, finalmente, o T7. Droga. Atrasou tudo. Vou almoçar correndo, assim tento escrever o texto que eu estou a três dias tentando escrever. Passando pelas ruas vejo bandeira do Brasil nas janelas, fico pensando qual seria posição delas em relação à votação de hoje. Lembro que meus vizinhos que colocaram suas bandeiras na janela batiam panelas quando a Dilma se pronunciava na televisão. Acho que já sei o posicionamento delas. Não é possível que eu não tenha um acontecimento relevante para contar em um texto. Eu já vivi vários momentos que me marcaram, por que eu nunca lembro exatamente quais foram eles? Meus pais tão saindo pelo portão de casa. Aonde eles vão?Ah. Estão indo para a redenção participar da manifestação contra o impeachment. Não posso ir. Tem o texto pra fazer. Ligo a tevê e esta lá o Eduardo Cunha na mesa da Câmara dos deputados com uma faixa “Fora Cunha” atrás dele. Que coisa linda. Só uns minutos aqui e eu vou para o computador começar o texto. Começou a votação. Nossa, essa Câmara de deputados tem mais alvoroço do que quando a comissão da formatura ia à minha turma falar sobre a festa de formatura ano passado. 20 votos a favor do impeachment de uma presidenta que não cometeu crime de responsabilidade. Será que uma coisa dessas pode acontecer? Não, não vai passar. O Brasil tem lá seus problemas na câmara e no senado, mas passar por cima de uma Constituição, da democracia, do voto de 53 milhoes de pessoas, isso não! 70 votos sim, 23 não. Ah, faltam muitos ainda... Mas é inacreditável que exista gente que acha que isso não é golpe. 131 votos a favor 30 contra. No próximo voto “não” eu vou fazer o texto. Juro. Por que esse texto tinha que ser pra segunda? Por que não terça? A votação é só uma, aula a gente tem toda semana. Faltam muitos votos... Vai dar tudo certo. Que traíra! O deputado ia votar não e votou sim!A Duda me mandou mensagem. É claro que isso não vai dar em nada, que boba ela! Não tem porque se preocupar que nós vamos vencer. 220 votos pelo sim, 77 pelo não. - Já são nove horas, pai? É sério isso? - Pai, me diz um fato importante da minha vida. O Cunha rindo consegue ser pior do que o Cunha só sendo o Cunha. Vou ver se a Camila já fez o texto dela, vai que ela me dá uma luz. O Bolsonaro!!Ecaaaaaa!! Bá. Depois dessa vou tomar um banho pra descarregar. 236 e 82. Quantos votos precisam mesmo para passar o impeachment? Ah... A Camila não fez o texto. Olha o Jean Willys! Meu deus. Meu deeeeeeus. Por favor, alguém gravou isso? - Mãe, eu ainda vou te dar orgulho assim! Acho que vou ter que escrever sobre o nascimento do meu irmão mesmo... Eu realmente fiquei essas horas todas olhando essa votação? Mas, de verdade, tem fato mais marcante na história desse país desde que eu nasci, do que esse? Pelo amor! – Duda, para de me ligar! Eu tenho um texto pra fazer...Tu achas que não dá mais?...Mas será?... Hummmm. Me diz uma coisa, tu lembra de algum fato que mudou a minha vida? O deputado está lendo a bíblia? Gente. Como assim? Acho que vai ter golpe. E aqueles três deputados que tão em volta do microfone desde que começou a votação, será que usam fralda geriátrica? Que péssimo momento mais marcante da história do Brasil dos últimos anos. Tão jogando bomba porque o país vai ser governado pelo Temer? – Pai, já pensou em morar no Uruguai? Hoje eu aprendi que o Brasil é um país em que o voto é obrigatório, mas respeitar a votação não. Acho que agora vou começar o texto. Antes vou ver o vídeo do Jean falando na votação.


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