terça-feira, 21 de junho de 2016

Transformando o rosa em cinza

Aluno 110
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Há dois objetos na sua frente, sobre a mesa da sua cozinha: uma caixa de fósforos e uma vela. A caixa, retangular, contém 130 unidades — é o que você lê na embalagem. A vela é alta, com aproximadamente uma palma de extensão; fina, com um dedo de largura; e há em seu topo um pavio, com poucos centímetros de comprimento. Ela também é rosa, mas logo se tornará cinzas. 
            Você pega a caixa de fósforos rapidamente e segura-a entre seu dedão e seu dedo indicador da mão esquerda. Ela, leve que é, mal lhe é percebida. Há realmente fósforos, 130 deles, ali dentro? Você a joga para a esquerda, e então para a direita. Ouve o som das unidades batendo-se uma contra a outra. Convence-se de que há 130 palitos. 
            Levanta, agora, também a mão direita. Ela vai em direção à caixa, segura sua embalagem — a parte surpreendente que diz que ali dentro há 130 fósforos —, seu dedão apoiando-se na extremidade direita e todos os outros quatro dedos fazendo o mesmo do outro lado, apesar de você saber que somente a força do dedo indicador seria suficiente para segurar a caixa. O hábito, no entanto, é mais forte: os quatro dedos encontram-se sobre a lateral esquerda. 
            Há uma parte móvel presa dentro dessa embalagem, você percebe. Pode ser empurrada pelas duas menores extremidades do retângulo e, assim, sair de dentro dele. Você a imagina como uma cama para os fósforos. Sua mão esquerda, portanto, entra em ação: o dedo indicador coloca-se contra uma dessas extremidades da "cama", a empurrando, e logo ela vai saindo da embalagem. Você não a empurra a ponto de tirá-la completamente da sua cobertura, deixando-a presa ainda por uns bons quatro dedos dentro dela. Mas agora você é capaz de enxergar os 130 fósforos e pegar um deles. 
            Escolhe aleatoriamente, visto que todos são iguais, suas cabeças vermelhas. Seu dedo indicador e seu dedão da mão esquerda selecionam um ao acaso e o seguram da mesma forma como você segura também as canetas. A caixa de fósforos é usada somente para mais um motivo: você a segura, agora com a mão esquerda, enquanto na direita há o fósforo escolhido. Na extremidade da embalagem há uma camada marrom, e você não a conhece direito, apesar de saber para que ela serve. Portanto, segura a caixa com a mão esquerda — dedão de um lado e os quatro dedos do outro —, e sem mais delongas, encosta a cabeça vermelha do fósforo contra a extremidade marrom da caixa, de forma que o palito seja pressionado e empurrado para frente rapidamente, "riscando" a embalagem. Logo após, você afasta o fósforo da caixa e a larga sobre a mesa. Como num passe de mágica, ele tem uma intensa chama sobre sua cabeça, mas alguns instantes depois você percebe que o fogo ameniza. Há então fumaça ao redor do pequeno palito. 
            A vela, ainda rosa, agora entra em cena. Você a pega com a mão esquerda, segurando-a por sua base, apoiando-a na palma de sua mão e tendo seus dedos envoltos à sua estrutura, delicados. Pega o fósforo que tem na mão direita, eleva-o à mesma altura do pavio da vela e aproxima-os ao juntar de suas mãos. Logo eles são um só: o palito transporta seu fogo para o pavio no topo na cera, que logo se acende. Você torna a distanciá-los e traz o fósforo até perto de sua boca. Enche seu pulmão, trancando a respiração por um instante, e torna a esvaziá-lo, soltando seu ar sobre o fogo que há no palito. E assim, de repente, só há fumaça ao redor dele. Sem mais fogo. 
            Você leva os olhos de volta para a vela acesa: ainda é rosa. Logo ela será nada além de cinzas. Mas você sabe que é incapaz de descrever tal metamorfose de forma concreta. Contenta-se, portanto, com a cor natural da vela e imagina os 129 fósforos restantes na caixa. 

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