terça-feira, 22 de abril de 2014

O papel da Literatura em minha vida

Reescrita
Por Aluno 18


Estava em apuros. Além de entender o sentido de definição, precisava aplicá-lo em mim e também deveria fazer um texto objetivo. Seria uma difícil e longa tarefa. Sempre tentei definir os sentimentos, as outras pessoas, mas e quanto a mim? Eu nunca pensei em buscar a resposta de quem sou eu. Tem a ver com o que eu gosto, com o que eu sou para mim ou para o mundo? Tem a ver com o que me torna única, diferente de todos os outros seres humanos. Logo, não preciso pensar muito para chegar à conclusão de que a minha definição estava atrelada com a Literatura e o quanto ela influenciou a minha vida, tornando-se tão importante, inclusive na decisão de que curso superior gostaria de fazer.
Era o primeiro dia de aula no primeiro ano do ensino médio de uma nova escola. Nervos à flor da pele, dor de cabeça, mãos suadas e trêmulas: eu era oficialmente uma adolescente no ensino médio. Sentia-me orgulhosa por estar ali, apesar de todo o nervosismo. O que o ensino médio poderia reservar a mim? Sentada na última classe da sala, comecei a pensar em meu amor por livros que aflorou desde que tinha descoberto um escritor chamado Lima Barreto, conhecido em um trabalho escolar e que despertou o meu interesse por leitura. As pessoas me perguntavam se eu gostava de Português; porém, apesar de gostar de livros, nunca fui muito fã da matéria. As regras deixavam-me muito confusa. Apenas gostava de ler livros, das sensações que eles me causavam – do riso às lágrimas - e isso era suficiente. Ao ver que uma senhora branca como a neve, de cabelos loiros entrou na sala e começou a falar, consegui esquecer um pouco do nervosismo que sentia em meu primeiro dia de aula e tratei de concentrar-me. Mal sabia que ela seria alguém tão importante na minha formação. Aquela era A., minha nova professora de Literatura. A. era uma mulher muito educada e gentil, porém muito exigente. Desde o primeiro dia, deixou muito claro que gostava de “respostas completas” em sua prova e desconsiderava questões incompletas; exigia respeito e afirmou que nunca admitiria qualquer tipo de preconceito ou desrespeito dentro de sua sala de aula. Antes de dar sua aula, era apenas uma senhora gentil e exigente aos meus olhos, porém, depois de pegar um pedaço de giz e entrar no mundo chamado Literatura, A. transformou-se em uma espécie de guia num mundo novo e fascinante chamado Literatura. E como eu me senti na primeira aula do primeiro dia do primeiro ano do ensino médio? Senti-me com os pêlos dos braços eriçados a cada palavra dita por A. sobre aquela matéria. E era apenas o primeiro dia.
Trovadorismo, Barroco, Romantismo, Realismo, Modernismo: um universo até então desconhecido que A. tornava interessante e instigava-me a querer saber cada vez mais. Por três anos, junto com A., aprendi muito sobre Literatura. Ideias de movimentos e autores que me enchiam de alegria, de surpresa, de tristeza, de raiva. Aprendi a criar um espírito um pouco mais crítico, a discordar, a entender, a amar através da Literatura. Eu nunca havia amado algo tão veementemente como amava a Literatura naquele momento. A minha visão sobre mundo envolvia Literatura em tudo, a ponto de querer tatuar poemas em meu corpo – objetivos não postos em prática ainda, mas não esquecida. Descobri Carlos Drummond, Machado de Assis, Mario Quintana, entre outros que faziam das minhas tardes – período em que não estava na escola – um momento de descoberta, reflexão e fascínio. Simplesmente não me sentia tão solitária, apesar de estar sozinha, sentada no sofá da sala de casa, pois tinha as palavras daqueles autores junto de mim. Pergunto-me sempre se a Literatura teria um papel tão decisivo na minha vida se não fosse apresentada por A. Talvez sim, talvez não. Acredito que não teria o mesmo encanto, mas, de qualquer maneira, acredito que a Literatura estava predestinada a ter um papel importante na minha existência.


Infelizmente, um dia o ensino médio chegou ao fim e eu precisava decidir o que deveria fazer futuramente. As dúvidas corriqueiras tomaram conta da minha mente, o que diziam ser comum. Apesar de algumas mudanças de ideias no meio do caminho, de seguir opiniões alheias durante algum tempo, decidi cursar Letras por fim. Seria impossível achar tanto interesse em qualquer outra área que não a da Literatura. Através desta escolha, espero tornar-me uma guia no universo literário para meus futuros alunos e inspirá-los assim como A. inspirou-me. Ficarei satisfeita se eles conseguirem viajar com minhas palavras e, através disso, descobrir um papel que a Literatura pode representar em suas definições – assim como representa na minha. Agora, já não me sinto mais em apuros.

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