Reescrita
Por Aluno 18
Estava em apuros. Além de
entender o sentido de definição, precisava aplicá-lo em mim e também deveria
fazer um texto objetivo. Seria uma difícil e longa tarefa. Sempre tentei
definir os sentimentos, as outras pessoas, mas e quanto a mim? Eu nunca pensei
em buscar a resposta de quem sou eu. Tem a ver com o que eu gosto, com o que eu
sou para mim ou para o mundo? Tem a ver com o que me torna única, diferente de
todos os outros seres humanos. Logo, não preciso pensar muito para chegar à
conclusão de que a minha definição estava atrelada com a Literatura e o quanto
ela influenciou a minha vida, tornando-se tão importante, inclusive na decisão
de que curso superior gostaria de fazer.
Era o
primeiro dia de aula no primeiro ano do ensino médio de uma nova escola. Nervos
à flor da pele, dor de cabeça, mãos suadas e trêmulas: eu era oficialmente uma
adolescente no ensino médio. Sentia-me orgulhosa por estar ali, apesar de todo
o nervosismo. O que o ensino médio poderia reservar a mim? Sentada na última
classe da sala, comecei a pensar em meu amor por livros que aflorou desde que
tinha descoberto um escritor chamado Lima Barreto, conhecido em um trabalho
escolar e que despertou o meu interesse por leitura. As pessoas me perguntavam
se eu gostava de Português; porém, apesar de gostar de livros, nunca fui muito
fã da matéria. As regras deixavam-me muito confusa. Apenas gostava de ler
livros, das sensações que eles me causavam – do riso às lágrimas - e isso era
suficiente. Ao ver que uma senhora branca como a neve, de cabelos loiros entrou
na sala e começou a falar, consegui esquecer um pouco do nervosismo que sentia
em meu primeiro dia de aula e tratei de concentrar-me. Mal sabia que ela seria
alguém tão importante na minha formação. Aquela era A., minha nova professora
de Literatura. A. era uma mulher muito educada e gentil, porém muito exigente.
Desde o primeiro dia, deixou muito claro que gostava de “respostas completas”
em sua prova e desconsiderava questões incompletas; exigia respeito e afirmou
que nunca admitiria qualquer tipo de preconceito ou desrespeito dentro de sua
sala de aula. Antes de dar sua aula, era apenas uma senhora gentil e exigente
aos meus olhos, porém, depois de pegar um pedaço de giz e entrar no mundo chamado
Literatura, A. transformou-se em uma espécie de guia num mundo novo e
fascinante chamado Literatura. E como eu me senti na primeira aula do primeiro
dia do primeiro ano do ensino médio? Senti-me com os pêlos dos braços eriçados
a cada palavra dita por A. sobre aquela matéria. E era apenas o primeiro dia.
Trovadorismo,
Barroco, Romantismo, Realismo, Modernismo: um universo até então desconhecido que
A. tornava interessante e instigava-me a querer saber cada vez mais. Por três
anos, junto com A., aprendi muito sobre Literatura. Ideias de movimentos e
autores que me enchiam de alegria, de surpresa, de tristeza, de raiva. Aprendi
a criar um espírito um pouco mais crítico, a discordar, a entender, a amar
através da Literatura. Eu nunca havia amado algo tão veementemente como amava a
Literatura naquele momento. A minha visão sobre mundo envolvia Literatura em
tudo, a ponto de querer tatuar poemas em meu corpo – objetivos não postos em
prática ainda, mas não esquecida. Descobri Carlos Drummond, Machado de Assis,
Mario Quintana, entre outros que faziam das minhas tardes – período em que não
estava na escola – um momento de descoberta, reflexão e fascínio. Simplesmente
não me sentia tão solitária, apesar de estar sozinha, sentada no sofá da sala
de casa, pois tinha as palavras daqueles autores junto de mim. Pergunto-me sempre
se a Literatura teria um papel tão decisivo na minha vida se não fosse
apresentada por A. Talvez sim, talvez não. Acredito que não teria o mesmo
encanto, mas, de qualquer maneira, acredito que a Literatura estava
predestinada a ter um papel importante na minha existência.
Infelizmente,
um dia o ensino médio chegou ao fim e eu precisava decidir o que deveria fazer
futuramente. As dúvidas corriqueiras tomaram conta da minha mente, o que diziam
ser comum. Apesar de algumas mudanças de ideias no meio do caminho, de seguir
opiniões alheias durante algum tempo, decidi cursar Letras por fim. Seria
impossível achar tanto interesse em qualquer outra área que não a da
Literatura. Através desta escolha, espero tornar-me uma guia no universo
literário para meus futuros alunos e inspirá-los assim como A. inspirou-me.
Ficarei satisfeita se eles conseguirem viajar com minhas palavras e, através
disso, descobrir um papel que a Literatura pode representar em suas definições
– assim como representa na minha. Agora, já não me sinto mais em apuros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário