segunda-feira, 20 de junho de 2016

A chegada de um irmão

Aluno 81
Reescrita


Era um lindo dia de primavera. Meu pai me acorda cedo, temos que sair rápido. Ele me veste e tomamos café da manhã juntos. Pergunto se posso convidar minhas vizinhas para brincar no nosso pátio, era um dia tão bom para se brincar na rua e tínhamos um jardim enorme. Mas eu não poderia brincar naquele dia por que estaríamos muito ocupados. Eu não estava acostumada a ouvir um não. Tudo o que eu pedisse eu conseguia, sempre davam um jeito de fazer o eu queria. Era praticamente a única criança da família, todas as atenções e os carinhos eram para mim. Saímos em direção ao carro, sento no banco de trás onde ainda existe a minha cadeirinha com sinto especial para meu tamanho. Àquela altura de minha vida, um passeio de carro era o que eu mais gostava, sempre parecia uma aventura, mas até mesmo esse momento que tinha tudo para ser divertido ficou ofuscado pela ansiedade de ir buscar a “mamãe”. Eu gostava de estar com meu pai, tudo parecia uma aventura quando estávamos juntos, ele sempre fazia com que as coisas fossem legais para mim até mesmo em momentos que, devido a minha timidez, eu ficava excluída entre crianças, como em aniversários de amigos em que por causa da quantidade de crianças eu acabava me excluindo e indo procurar proteção nos seus braços. Sentia falta da minha mãe, era muito estranho ela não estar presente. Meu pai dizia que eu teria uma surpresa e tudo que eu pude imaginar era algo para mim, um brinquedo ou um passeio para me agradar, porque no final das contas tudo acontecia para mim, para me agradar, por que eu era o centro do mundo.
Chegando ao lugar pude perceber que era um hospital, pois mesmo com meus curtos anos de experiência de vida já sabia reconhecer aquele lugar devido às constantes crises de asma que eu tinha. Portanto aquele era um ambiente muito desagradável para mim, me fazia lembrar de agulhas, médicos e remédios ruins. Subimos pelo elevador e chegamos a um lugar muito diferente do hospital, era tudo muito calmo e tinha um cheiro estranho, que eu não podia relacionar à nada. Meu pai nos identificou na recepção e fomos levados por uma mulher alta até um lugar onde pudemos ver minha mãe através de um vidro. Ela estava em uma sala grande, deitada em uma cama com roupas do hospital e tudo parecia ser cinza e branco naquele lugar. Não pude entender o que estava acontecendo, fiquei tão preocupada, ela parecia estar cansada e doente. Disse ao meu pai que queria entrar, ver ela, meu coração estava dilacerado vendo-a naquela situação, mas não podíamos, teríamos de esperar os médicos liberarem ela. Foi uma espera longa e agonizante, não podia parar de pensar nas possibilidades, só queria que voltássemos todos juntos para nossa casa. Quando ela foi liberada o alivio que senti em vê-la ali, junto de nós, foi muito grande. Estava tudo resolvido, poderíamos ir para nossa surpresa juntos.
            Saímos em direção ao carro, mas havia algo de diferente. Minha mãe segurava um embrulho em seus braços, parecia estar cansada e cuidava muito daquilo. Não pude nem abraçá-la direito por que seu cuidado com aquele embrulho era muito grande. Ela parecia estar tão cansada, aquela situação era tão estranha para mim. Quando sentou ao meu lado no carro, o que era estranho por que ela sempre sentava junto ao meu pai no banco da frente, pude perceber que havia uma criança em seus braços, o embrulho era um bebê minúsculo, tão pequeno que se perdia no meio daquele cobertor enrolado nele, era o menor que eu já tinha visto, não parecia ser de verdade. Meu coração voltou a ficar apertado. Quem era aquele bebê? Por que estávamos levando ele junto? Quando ele iria embora? Abracei o banco do motorista, onde meu pai estava e tentei segurar a vontade de chorar. Vendo-a tão feliz segurando aquela criança do meu lado, achei que eu estava sendo trocada. Nem me lembro do que eles falavam, só conseguia pensar naquele bebê indo embora. Ele estava no meu lugar, roubando a atenção da minha mãe.
            Cheguei em casa e esperei que aquela criança fosse deixada de lado. Meus pais me chamaram, me apresentaram ao estranho. Chamava-se Juliano, disseram que era meu irmão. “Mas quando ele vai embora?” Não iria mais embora, moraria conosco a partir daquele momento. Meu coração apertou novamente. Meus pais deixariam de me amar diante da criança nova? Eu teria que dividir tudo com ele? Fiquei curiosa com aquela criança, aquele era o primeiro bebê com o qual eu tinha contato, mas para mim aquele ser era um extraterrestre, vindo de outro mundo para invadir o meu. A partir daquele momento tudo mudou em minha vida. Todas as atenções foram divididas entre os dois irmãos. Aquele primeiro momento foi um grande choque, durante todo o dia as atenções da família foram voltadas somente para a novidade. Era apenas o primeiro dia, mas meu mundo desabou. Até então eu era o centro das atenções, era a primeira menina nascida na família depois de muito tempo, era a “lindinha”, a ”princesinha”, mas fui destronada por aquele menino que vinha dividir tudo comigo. E foi neste dia que acredito ter aprendido a primeira grande lição da minha vida, aos três anos de idade aprendi que eu não era o centro do mundo. Foi muito difícil entender isso com a maturidade que tinha, mas fui obrigada a aceitar a situação e hoje, aos dezenove anos, posso dizer que essa foi somente a primeira grande lição que pude aprender com a vinda do meu irmão. Naquele momento ganhei um parceiro para toda a vida, que continua me ensinando a ser menos egoísta.

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