Aluno 81
Reescrita
Era um lindo dia de primavera. Meu pai me
acorda cedo, temos que sair rápido. Ele me veste e tomamos café da manhã
juntos. Pergunto se posso convidar minhas vizinhas para brincar no nosso pátio,
era um dia tão bom para se brincar na rua e tínhamos um jardim enorme. Mas eu
não poderia brincar naquele dia por que estaríamos muito ocupados. Eu não
estava acostumada a ouvir um não. Tudo o que eu pedisse eu conseguia, sempre
davam um jeito de fazer o eu queria. Era praticamente a única criança da
família, todas as atenções e os carinhos eram para mim. Saímos em direção ao
carro, sento no banco de trás onde ainda existe a minha cadeirinha com sinto
especial para meu tamanho. Àquela altura de minha vida, um passeio de carro era
o que eu mais gostava, sempre parecia uma aventura, mas até mesmo esse momento
que tinha tudo para ser divertido ficou ofuscado pela ansiedade de ir buscar a
“mamãe”. Eu gostava de estar com meu pai, tudo parecia uma aventura quando
estávamos juntos, ele sempre fazia com que as coisas fossem legais para mim até
mesmo em momentos que, devido a minha timidez, eu ficava excluída entre
crianças, como em aniversários de amigos em que por causa da quantidade de
crianças eu acabava me excluindo e indo procurar proteção nos seus braços.
Sentia falta da minha mãe, era muito estranho ela não estar presente. Meu pai
dizia que eu teria uma surpresa e tudo que eu pude imaginar era algo para mim,
um brinquedo ou um passeio para me agradar, porque no final das contas tudo
acontecia para mim, para me agradar, por que eu era o centro do mundo.
Chegando ao lugar pude perceber que era um
hospital, pois mesmo com meus curtos anos de experiência de vida já sabia
reconhecer aquele lugar devido às constantes crises de asma que eu tinha.
Portanto aquele era um ambiente muito desagradável para mim, me fazia lembrar
de agulhas, médicos e remédios ruins. Subimos pelo elevador e chegamos a um
lugar muito diferente do hospital, era tudo muito calmo e tinha um cheiro
estranho, que eu não podia relacionar à nada. Meu pai nos identificou na
recepção e fomos levados por uma mulher alta até um lugar onde pudemos ver
minha mãe através de um vidro. Ela estava em uma sala grande, deitada em uma
cama com roupas do hospital e tudo parecia ser cinza e branco naquele lugar.
Não pude entender o que estava acontecendo, fiquei tão preocupada, ela parecia
estar cansada e doente. Disse ao meu pai que queria entrar, ver ela, meu
coração estava dilacerado vendo-a naquela situação, mas não podíamos, teríamos
de esperar os médicos liberarem ela. Foi uma espera longa e agonizante, não
podia parar de pensar nas possibilidades, só queria que voltássemos todos
juntos para nossa casa. Quando ela foi liberada o alivio que senti em vê-la
ali, junto de nós, foi muito grande. Estava tudo resolvido, poderíamos ir para
nossa surpresa juntos.
Saímos
em direção ao carro, mas havia algo de diferente. Minha mãe segurava um
embrulho em seus braços, parecia estar cansada e cuidava muito daquilo. Não
pude nem abraçá-la direito por que seu cuidado com aquele embrulho era muito
grande. Ela parecia estar tão cansada, aquela situação era tão estranha para
mim. Quando sentou ao meu lado no carro, o que era estranho por que ela sempre
sentava junto ao meu pai no banco da frente, pude perceber que havia uma
criança em seus braços, o embrulho era um bebê minúsculo, tão pequeno que se
perdia no meio daquele cobertor enrolado nele, era o menor que eu já tinha
visto, não parecia ser de verdade. Meu coração voltou a ficar apertado. Quem
era aquele bebê? Por que estávamos levando ele junto? Quando ele iria embora?
Abracei o banco do motorista, onde meu pai estava e tentei segurar a vontade de
chorar. Vendo-a tão feliz segurando aquela criança do meu lado, achei que eu
estava sendo trocada. Nem me lembro do que eles falavam, só conseguia pensar
naquele bebê indo embora. Ele estava no meu lugar, roubando a atenção da minha
mãe.
Cheguei
em casa e esperei que aquela criança fosse deixada de lado. Meus pais me
chamaram, me apresentaram ao estranho. Chamava-se Juliano, disseram que era meu
irmão. “Mas quando ele vai embora?” Não iria mais embora, moraria conosco a
partir daquele momento. Meu coração apertou novamente. Meus pais deixariam de
me amar diante da criança nova? Eu teria que dividir tudo com ele? Fiquei
curiosa com aquela criança, aquele era o primeiro bebê com o qual eu tinha
contato, mas para mim aquele ser era um extraterrestre, vindo de outro mundo
para invadir o meu. A partir daquele momento tudo mudou em minha vida. Todas as
atenções foram divididas entre os dois irmãos. Aquele primeiro momento foi um
grande choque, durante todo o dia as atenções da família foram voltadas somente
para a novidade. Era apenas o primeiro dia, mas meu mundo desabou. Até então eu
era o centro das atenções, era a primeira menina nascida na família depois de
muito tempo, era a “lindinha”, a ”princesinha”, mas fui destronada por aquele
menino que vinha dividir tudo comigo. E foi neste dia que acredito ter
aprendido a primeira grande lição da minha vida, aos três anos de idade aprendi
que eu não era o centro do mundo. Foi muito difícil entender isso com a
maturidade que tinha, mas fui obrigada a aceitar a situação e hoje, aos
dezenove anos, posso dizer que essa foi somente a primeira grande lição que
pude aprender com a vinda do meu irmão. Naquele momento ganhei um parceiro para
toda a vida, que continua me ensinando a ser menos egoísta.
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