terça-feira, 21 de junho de 2016

Caos

Aluno 98
Reescrita


(Reescrita)
    É difícil dar os primeiros passos. O que consigo inferir através dos olhares das pessoas é modo de como elas observam você dos pés a cabeça, pensando que muitos aspectos seus poderiam melhorar. Uma menina com lindos traços os quais estão em harmonia com a sua beleza está aqui, e nada consegue me fazer tirar os olhos dela. Entretanto, não é possível a troca de palavras com esse deslumbrante ser, pois meus maiores inimigos ficam aos berros na minha mente, me convencendo de que sou incapaz e inferior a qualquer um neste local. Inimigos perversos, malignos, parece que se alimentam de todo o resultado do meu auto rebaixamento, da minha própria capacidade de me deixar embaraçado, com medo e desnorteado perante outros semelhantes a mim. Insegurança, inferioridade e negatividade: não tem como ser amigo destes caras. Dentro de um milissegundo, todos eles gritam de uma vez só, de dentro para fora, em direção aos meus tímpanos, porém nada se ouve aqui fora. A garota permanece ali, no seu lugar, mas parece que, agora, se distancia a anos-luz de mim.
    Então, quem sou eu? Sou a milésima parte de um átomo, a inconveniente escuridão em qualquer ambiente, uma mistura de ódio e repressão sentimental, um mar de referências desconhecidas, a ausência de cor de um dia frio e o excesso de luz em um dia quente, a extinção de uma possível e feliz união com o próximo, a fruta podre debaixo do armário, o arrependimento de uma alma que abitou o corpo errado, a desarmonia entre corpo e mente, a falta de atitude em uma criança que ainda não disse para sua coleguinha que gosta dela, o triste ser ambulante prestes a pular de um abismo, o caos de pensamentos emaranhados em um pobre e ordinário humano. Com defeitos, defeitos e mais defeitos, sou a junção do querer e não conseguir alcançar com o martírio de um medíocre conjunto de carne, osso e pele mal habitado, onde não há lugar para fugir, muito menos para se esconder. Consequentemente, no momento, uma definição é inviável, pois estou muito longe de ser homogêneo, completo, perfeito para alguém.
    No mesmo lugar, a menina continua sentada. Confiante, segura, determinada, firme, estável, focada, inteligente e com seu ego no ponto certo, sem mais nem menos, ela fica concentrada em sua tarefa, e parece simpática, educada e humilde o suficiente para ouvir a palavra de um estranho. Em um lapso da minha vida, indo de encontro com o meu natural, esqueço das adversidades com a minha frágil e doente psique e procuro apresentar frases convenientes aos arredores, com referências instantâneas, tiradas deste nosso contexto, formulando uma conversa adorável e amistosa para ambos, terminando-a de forma que crie o consentimento de que pude satisfazê-la por poucos minutos, fazendo ela desenvolver dúvidas sobre mim do tipo “qual é o nome dele”, “quem ele é”, e rebuscando a seguinte questão: haverá uma continuação? A reciprocidade, aquele um gostar do outro, de forma constante é incoerente, por isso deve-se sempre trazer isto à tona, da maneira mais ingênua possível, porque é gostoso, é um prazer indescritível, apesar de pequeno. Sim, sei disso tudo, mas só preciso de uma pequena dose de atitude e todos os meus defeitos se tornarão qualidades. Um último momento para respirar, acalmar-me, sentir cada molécula do corpo ativa, apenas para lembrar que estou vivo, que sensações boas existem e que não é somente com os outros que relações intrínsecas acontecem. Reunindo as forças necessárias para me levantar do meu lugar, um homem de boa aparência, melhor vestido, de boas intenções, de postura firme e confiante, possuindo traços os quais a atrai aproxima-se dela, dando um pequeno beijo nos seus lábios e sorrindo para ela como se fosse a primeira vez que a viu. Com isso, relembro da minha infeliz habilidade de desenvolver rancor e remorso angustiantes, aniquilando com aquilo que sobrou da minha autoestima com pensamentos que me inferiorizam em relação aquele rapaz. Ele possui todas as qualidades que jamais possuí, desfrutando ao máximo delas sem medo e cheio de segurança. Não há competição, e, novamente, sou o perdedor. Insisto: é difícil dar os primeiros passos.      
   
        






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