Aluno 87
1 Versão
Minha avó trabalhou
por vinte anos em uma confeitaria. Ela ainda faz tortas para vender ou mesmo
para a família comer. Quando as netas fazem aniversário, é sempre a ela que recorremos
nesse momento. Eu tinha doze anos quando me deparei com uma dúvida cruel: não
sabia se eu queria uma torta de café ou uma de nozes. A resposta a esse dilema
foi simples:
“Vó, tem como fazer
uma torta de café com nozes?”
“Tem, tem sim! A vó
faz pra ti”.
Havia três camadas
de pão de ló amarelinho naquela torta. Entre as duas últimas, um creme de nozes
com leite condensado caseiro (que é muito melhor do que o comprado em
supermercados). O creme é consistente e não se derrama quando a torta é cortada,
mas se derrete dentro da boca. Entre a primeira e a segunda camadas, há o creme
de café, receita da mãe da minha bisavó. Não sei como ele é feito, mas parece
um merengue, cheio de açúcar que se desmancha quando a colher entra na boca. O
gosto do café é forte, mas docinho. A melhor parte, porém, é a cobertura. Um “Schne”,
como diz a vó, feito a mão (receita da antiga confeitaria). Em português,
acredito que seja chamado de “claras em neve”.
Para comer, primeiro,
é preciso cortar um pedaço. A faca desliza sem problemas pela maciez da massa,
separando um pedaço no formato de um triângulo. A seguir, o cheiro do café
acompanha a garfada inicial. O gosto do merengue é sentido pela língua, que
desliza pelo garfo para que nada sobre. Na segunda garfada, um pouquinho do pão
de ló vem junto, assim como o gosto do creme de café. Ele se derrete na boca,
deixando um gostinho doce que arrepia o corpo inteiro. Um copo d’água sempre
ajuda a não deixar a boca doce demais. Depois, as nozes: a melhor parte.
Enquanto a noz é mordida, o leite condensado do creme preenche a boca com seu
sabor maravilhoso. Ao engolir, os dois gostos se misturam e fica aquela
sensação de “quero mais”, o que é bom, porque ainda há mais da metade do pedaço
no prato.
O único “porém” é
que não há como comer mais de dois pedaços por vez, porque a torta é bastante
doce. Mas, pensando positivo, ao menos com isso a dieta não fica tão
comprometida assim — até que algumas horas se passem e o desejo de comer a
torta volte.
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