Aluno 81
Reescrita
Todas
as terças feiras depois do almoço me deparo com uma mulher vendendo trufas na
saída do campus do vale, trufas deliciosas, com diversos recheios e de um
tamanho perfeito. Como estou indo para uma aula cansativa e preciso de um
estimulo opto por comprar uma com um delicioso recheio de chocolate branco. Subo
no ônibus D43 após esperar na fila em baixo de um sol muito quente. A trufa já
está derretendo em minha mão no calor insuportável de quase quarenta graus célsius
no ônibus. O único lugar vago no veículo fica na última fila, que por estar em
cima das rodas traseiras do ônibus é mais elevada que as demais. Não desisto da
trufa e nem do lugar do ônibus.
No
momento de abrir a embalagem, a sujeira já se inicia, pois o plástico que
envolve a trufa é fino e transparente. Tenho a impressão de que o chocolate que
derrete já está passando para minha mão através da embalagem, tamanha a finura
do plástico. O conteúdo começa a mudar de consistência, amolece e
consequentemente perde uma das principais características de uma boa trufa: a
de ser coberta por uma camada de chocolate duro e resistente para proteger o
recheio que possui uma consistência mais cremosa, parecendo um mouse. Para
iniciar o processo complicado de comê-la sem me sujar, tiro somente a parte
necessária para poder dar uma primeira mordida. A embalagem serve de proteção
para minhas mãos, apesar de estar misturada com o doce. Começo pela parte
inferior, que possui uma espécie de tampa para a trufa que tem um formato oval.
Essa tampa, por ter certa irregularidade e por ser muito larga para fechar a base,
já provoca desconforto ao encostar no nariz e consequentemente sujá-lo. A
vendedora dá apenas um guardanapo na hora da compra e vejo que ele não será
suficiente para toda a sujeira que está por vir. Estou empolgada, após passar
pelo desafio de comer a tampa chega a redenção, o recheio delicioso faz com que
eu me esqueça completamente da sujeira. O ônibus arranca e pouco mais de três
minutos depois começo a dar pulos gigantes de acordo com o balançar do veiculo.
O trajeto feito por este ônibus é extremamente irregular e o veiculo, que não
está no melhor dos estados possíveis, cede a qualquer desnível da estrada. Sinto-me
em uma montanha russa, toda vez que levo a trufa até a boca o ônibus me boicota
e faz com que ela seja espalhada em meu rosto. O maior perigo é o de voar em
direção ao corredor do ônibus, pois sentada no meio da fileira traseira, onde
não há nenhuma proteção na minha frente e com as duas mãos ocupadas em meu
desafio, as chances de que durante algum dos saltos do trajeto eu seja jogada para
o corredor são muito grandes. Tento comer o chocolate pelas bordas, o recheio
transborda e começa a escorrer. Preciso ser rápida, tenho que comer o recheio
que escorre ou desistir da trufa. Ela já possui um formato irreconhecível, está
toda esparramada pela embalagem em minhas mãos. Persisto em minha tentativa de
comê-la e ao chegar no último pedaço o recheio e o chocolate da cobertura da
trufa já se tornaram uma coisa só sob minha mão, a mistura do chocolate preto
que envolvia o recheio de chocolate branco transformou-se em um tom de creme
tornando-a quase irreconhecível.
Ao terminá-la tento limpar da melhor
maneira possível meu rosto com o papel desdobrando-o e utilizando toda a sua
superfície de maneira que os dois lados são aproveitados e cada pedacinho serve
para limpar uma parte do meu rosto atingido pelo chocolate. Ainda tenho o
desafio de segurar a embalagem com os restos mortais do doce até achar uma
lixeira.
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