Aluno 110
1 Versão
Descrever-se
é talvez o ato mais narcisista que o homem é influenciado a tomar: colocar-se
no centro do universo, narrando-o através de seus olhos, como se fôssemos o
personagem principal de um romance e que de fato devêssemos ser conhecidos a
fundo. Acontece que somos rodeados por outros romances, cujos personagens
principais são outros, e nos quais nossa participação especial pode ou não ser
aceita. Ainda assim, descrever-se é o ato mais básico e fundamental que temos
que tomar, afinal somos meros humanos tentando ser aceitos na vida em
sociedade.
Com base no último parágrafo, fica
clara a minha mania de tentar entender o mundo e os seres que o habitam e
transformam. Existe em mim certa veia filosófica, ainda que pouco desenvolvida,
e uma veia artística, essa bem grande, necessitada de atenção e por vezes má
compreendida por mim mesma e pelo mundo. Ter a ânsia de criar outros universos
dentro desse nosso, já tão grande, às vezes é um problema e traz uma inquietude
agoniante, pois encontramo-nos presentes em todos os lugares e tempos, menos no
aqui e agora.
Talvez isso seja simplesmente uma
necessidade de fugir da realidade ou de entendê-la através da sua reinvenção, e
creio que o meu caso é uma mistura dos dois: desde pequena, sendo a famosa
filha única, não tive muitas alternativas além de brincar com as palavras,
tornando-as minhas melhores amigas, e usando-as como ferramenta para entender
esse mundo caótico, ainda mais aos olhos inocentes de uma criança. Em suma,
escrever tornou-se um meio de não ir à loucura, apesar de ser um ato louco por
si só.
Mesmo com todo esse amor pelas
palavras e pelas histórias, só descobri recentemente que eu sempre sonhei em
ser professora e que reside em mim uma vontade enorme de mudar o mundo. Há
pouco tempo também escolhi cursar Letras, depois de tantas outras opções e
falsas certezas. Por que esse curso? Porque creio que nada no mundo me deixaria
mais feliz e extasiada nesse momento do que estar aqui a escrever. Ainda assim,
conclui que, apesar de importantes, simples palavras não seriam suficientes
para mudar significativamente a realidade, e que eu precisava transformá-las em
ação, ou melhor, em educação.
E cá estou, convertendo meus
pensamentos em frases, na espera ou esperança de que elas de fato sirvam para
cessar um pouco da loucura do mundo, assim como a minha.
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