terça-feira, 21 de junho de 2016

(D)escrevendo a vida

Aluno 110
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Descrever-se é talvez o ato mais narcisista que o homem é influenciado a tomar: colocar-se no centro do universo, narrando-o através de seus olhos, como se fôssemos o personagem principal de um romance e que de fato devêssemos ser conhecidos a fundo. Acontece que somos rodeados por outros romances, cujos personagens principais são outros, e nos quais nossa participação especial pode ou não ser aceita. Ainda assim, descrever-se é o ato mais básico e fundamental que temos que tomar, afinal somos meros humanos tentando ser aceitos na vida em sociedade.
            Com base no último parágrafo, fica clara a minha mania de tentar entender o mundo e os seres que o habitam e transformam. Existe em mim certa veia filosófica, ainda que pouco desenvolvida, e uma veia artística, essa bem grande, necessitada de atenção e por vezes má compreendida por mim mesma e pelo mundo. Ter a ânsia de criar outros universos dentro desse nosso, já tão grande, às vezes é um problema e traz uma inquietude agoniante, pois encontramo-nos presentes em todos os lugares e tempos, menos no aqui e agora.
            Talvez isso seja simplesmente uma necessidade de fugir da realidade ou de entendê-la através da sua reinvenção, e creio que o meu caso é uma mistura dos dois: desde pequena, sendo a famosa filha única, não tive muitas alternativas além de brincar com as palavras, tornando-as minhas melhores amigas, e usando-as como ferramenta para entender esse mundo caótico, ainda mais aos olhos inocentes de uma criança. Em suma, escrever tornou-se um meio de não ir à loucura, apesar de ser um ato louco por si só.
            Mesmo com todo esse amor pelas palavras e pelas histórias, só descobri recentemente que eu sempre sonhei em ser professora e que reside em mim uma vontade enorme de mudar o mundo. Há pouco tempo também escolhi cursar Letras, depois de tantas outras opções e falsas certezas. Por que esse curso? Porque creio que nada no mundo me deixaria mais feliz e extasiada nesse momento do que estar aqui a escrever. Ainda assim, conclui que, apesar de importantes, simples palavras não seriam suficientes para mudar significativamente a realidade, e que eu precisava transformá-las em ação, ou melhor, em educação.
            E cá estou, convertendo meus pensamentos em frases, na espera ou esperança de que elas de fato sirvam para cessar um pouco da loucura do mundo, assim como a minha.

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