Aluno 84
Reescrita
De acordo com o dicionário,
paixão é o sentimento intenso que possui a capacidade de alterar o
comportamento, o pensamento; desejo demonstrado de maneira extrema. A ciência
explica que, quando se está apaixonado, o cérebro se comporta como se a pessoa estivesse
sob o efeito de drogas – a “química do amor” libera hormônios na corrente
sanguínea que alteram o funcionamento do corpo. Entretanto, na prática, como
identificar possíveis sintomas desse processo emocional? A pintura desse quadro
não é tão abstrata como a temática prescreve. Para tanto, é preciso descrever
os detalhes do processo; afinal, paixão é um tema que o senso comum explica
melhor que a ciência.
O dia
inicia e a ação automática após acordar é estender a mão até o criado-mudo para
pegar o celular e desligar o despertador. A mensagem carinhosa de “bom dia” que
você recebeu foi enviada pelo remetente que está fixo nos seus pensamentos –
sinal de sentimento correspondido. Se ainda não recebeu a mensagem, você sente
uma vontade espontânea de tomar a iniciativa de enviar a saudação matinal para esta
pessoa que não sai da sua cabeça. No deslocamento para a faculdade, a rádio
sintonizada no carro toca uma música do Nando Reis que você já escutou outras
vezes, mas que dessa vez ecoou nos ouvidos, idealizando uma epifania. Essa súbita
sensação de entendimento da essência de algo faz a imaginação materializar
aquela pessoa específica no banco do carona. A partir daí, a música, que parece
esculpida para o momento, é compartilhada com sua companhia de viagem.
A manhã
vai chegando ao fim e sobra tempo para passar no shopping para almoçar. Na
praça de alimentação, o restaurante “X” desperta uma nova lembrança: ali, você
já vivenciou bons momentos na companhia daquela pessoa. Porém, ao refletir
melhor, você sente vergonha ao admitir que o simples fato de comer um
hambúrguer – o prato típico do casal – desencadeou tal pensamento. A seguir,
uma olhadinha rápida na vitrine. Nenhuma roupa exposta combinaria com o seu
estilo, mas aquela camisa ficaria ótima naquele alguém específico. No caminho
para o trabalho, a pressa para chegar no horário divide espaço com um
extraordinário poder telepático que tenta transmitir pensamento. Se, por algum
motivo, a mensagem não for recebida com sucesso, o jeito é enviar via operadora
telefônica mesmo.
A tarde
vai passando e o trabalho obriga a concentração a sequestrar devaneios. Porém o
cativeiro permite espiar o celular de vez em quando. Em uma mensagem enviada
por aquela pessoa para você, a foto de um hambúrguer gera um estranho medo de perda.
Pode ser sintoma de ciúme; você se autoquestiona quando, onde e com quem essa
foto foi tirada – e por que você não estava lá. A pretensão do amor exclusivo
provoca um estado emocional complexo, que também pode causar mudanças de
opinião repentinas: para evitar o sintoma de saudade – ou pela simples vontade
de estar junto – se desfaz até de pensamentos antimatrimoniais preestabelecidos.
No final do dia, já em
casa, a segunda-feira está acabando, mas você já está planejando o final de
semana. Antes de dormir, a conversa por telefone – que deveria ser breve – dura
um tempo que o relógio não consegue cronometrar: o passado. Por algum motivo
desconhecido, o bate-papo relembrou a infância daquela pessoa; e você,
internamente, se lamenta por não ter participado dela – ou por não ter a
conhecido antes. Antes de desligar, descobre que vocês têm os mesmos defeitos e
que nem o gosto musical diferente desafina a melodia. Prestes a dormir, percebe
que o encontro casual virou encontro de casal e que, finalmente, você encontrou
a última peça do quebra-cabeça e agora consegue ver a imagem completa. Pronto! O
diagnóstico está concluído.
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