Aluno 92
Reescrita
Alexander Hamilton nasceu em 1755 Foi abandonado pelo pai e
perdeu a mãe para uma doença. Perdeu os poucos bens que lhe restavam quando um
furacão atingiu sua ilha. Não haveria escolha para aquele garoto órfão,
franzino e fraco além de morrer. Alexander Hamilton foi peça chave da revolução
americana e se torno o primeiro secretário do tesouro americano.
Eu, 92, ator, jovem de vinte anos que mora em Alvorada e
cursa letras, me vejo muito em Hamilton, e vejo muito dele em mim.
Antes do furacão que arrebatou sua ilha, Hamilton era apenas
mais um. Depois do desastre, ele não era ninguém. É justamente a partir desse
momento que ele se torno uma figura relevante para minha vida
O furacão na narrativa de Hamilton é a sensação de
mediocridade na minha. Tanto eu como ele temos certeza que não temos nada no
que nos segurar. Hamilton tem o vazio, a falta de perspectiva para o futuro, a
insatisfação. Eu tenho a sensação de mediocridade, o pessimismo, a
insatisfação.
Assim como Alexander, eu nunca fui alvo de grande expectativa
por parte de ninguém, nem família nem amigos Todos tem plena certeza que o 92 vai conseguir um belo emprego medíocre, uma bela casinha medíocre, terá
uma bela esposa e talvez um cachorro. também comprará um carro. Não é como se
ele fosse além disso.
Essa sensação de estar sempre parado no mesmo degrau e não
sair do padrão considerado minimamente aceitável pro adulto comum é o que me
consome no dia-a-dia. Minha atual experiência no curso de letras exemplifica
bem a situação. Estava e ainda estou bem animado com o curso, porém logo nas
primeiras aulas e trabalhos já noto uma
dificuldade de expressão e argumentação de minha parte, coisa que não percebo
nos outros colegas. Este aparentemente simples texto já me deu muito trabalho,
e não está com a qualidade que eu gostaria que estivesse.
Talvez eu me cobre demais, talvez as metas que eu imponho pra
mim mesmo sejam gigantescas demais, talvez eu devesse dar um passo de cada vez
e não abocanhar mais do que eu posso mastigar, mas toda vez que eu vejo outros
mais avançados, toda vez que eu me lembro da história de Hamilton, eu também me
recordo daquele relógio acima da minha cabeça, do tempo que eu ainda tenho pra
completar meus objetivos. Hamilton conseguiu sair de sua ilha em um barco. Um
dos seus poemas, falando sobre o furacão, caiu nas graças dos habitantes da
ilha, que pagaram sua viagem. Eu não tenho um bom poema, nem quem pague minha
passagem de barco para fora da ilha da insatisfação, tenho apenas trabalho.
Eu decidi que a única coisa que eu poderia fazer pra ser o
que eu quero ser é trabalhar. Trabalhar o suficiente até conseguir ou ter um
colapso nervoso, o que vier antes. Isso seria muito bonito e nobre, se eu não
tivesse medo.
Este sou eu, um homem com medo. A insatisfação com minhas
atividades e essa sombra de mediocridade
me corroem mas também me definem. Me sinto preso em uma ilha, com água por
todos os lados, e não sei se vou sair dela tão cedo.
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