terça-feira, 21 de junho de 2016

Insatisfação e sair de uma ilha

Aluno 92
Reescrita


Alexander Hamilton nasceu em 1755 Foi abandonado pelo pai e perdeu a mãe para uma doença. Perdeu os poucos bens que lhe restavam quando um furacão atingiu sua ilha. Não haveria escolha para aquele garoto órfão, franzino e fraco além de morrer. Alexander Hamilton foi peça chave da revolução americana e se torno o primeiro secretário do tesouro americano.
Eu, 92, ator, jovem de vinte anos que mora em Alvorada e cursa letras, me vejo muito em Hamilton, e vejo muito dele em mim.
Antes do furacão que arrebatou sua ilha, Hamilton era apenas mais um. Depois do desastre, ele não era ninguém. É justamente a partir desse momento que ele se torno uma figura relevante para minha vida
O furacão na narrativa de Hamilton é a sensação de mediocridade na minha. Tanto eu como ele temos certeza que não temos nada no que nos segurar. Hamilton tem o vazio, a falta de perspectiva para o futuro, a insatisfação. Eu tenho a sensação de mediocridade, o pessimismo, a insatisfação.
Assim como Alexander, eu nunca fui alvo de grande expectativa por parte de ninguém, nem família nem amigos Todos tem plena certeza que o 92 vai conseguir um belo emprego medíocre, uma bela casinha medíocre, terá uma bela esposa e talvez um cachorro. também comprará um carro. Não é como se ele fosse além disso.
Essa sensação de estar sempre parado no mesmo degrau e não sair do padrão considerado minimamente aceitável pro adulto comum é o que me consome no dia-a-dia. Minha atual experiência no curso de letras exemplifica bem a situação. Estava e ainda estou bem animado com o curso, porém logo nas primeiras aulas e trabalhos já noto  uma dificuldade de expressão e argumentação de minha parte, coisa que não percebo nos outros colegas. Este aparentemente simples texto já me deu muito trabalho, e não está com a qualidade que eu gostaria que estivesse.
Talvez eu me cobre demais, talvez as metas que eu imponho pra mim mesmo sejam gigantescas demais, talvez eu devesse dar um passo de cada vez e não abocanhar mais do que eu posso mastigar, mas toda vez que eu vejo outros mais avançados, toda vez que eu me lembro da história de Hamilton, eu também me recordo daquele relógio acima da minha cabeça, do tempo que eu ainda tenho pra completar meus objetivos. Hamilton conseguiu sair de sua ilha em um barco. Um dos seus poemas, falando sobre o furacão, caiu nas graças dos habitantes da ilha, que pagaram sua viagem. Eu não tenho um bom poema, nem quem pague minha passagem de barco para fora da ilha da insatisfação, tenho apenas trabalho.
Eu decidi que a única coisa que eu poderia fazer pra ser o que eu quero ser é trabalhar. Trabalhar o suficiente até conseguir ou ter um colapso nervoso, o que vier antes. Isso seria muito bonito e nobre, se eu não tivesse medo.
Este sou eu, um homem com medo. A insatisfação com minhas atividades e  essa sombra de mediocridade me corroem mas também me definem. Me sinto preso em uma ilha, com água por todos os lados, e não sei se vou sair dela tão cedo.

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