quinta-feira, 9 de junho de 2016

Não se preocupe, vai dar tudo errado.

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Aluno 67


Se você, leitor, também sofre com a implicância do destino, então provavelmente irá entender e identificar-se com a história que irei contar. Se logo pensou em encerrar a leitura aqui por não encontrar-se nessa descrição, repense: todos passamos, nem que seja por um dia, por aquele tipo de situação em que tudo dá errado. Por mais que sejamos positivos, um mar de surpresas desagradáveis chega para destruir a ilusão criada por aqueles que nos disseram “calma, vai dar tudo certo”. Foi o que aconteceu no inverno de 2013, quando uma simples inflamação de apêndice desencadeou outras dessas surpresas.
Eu já estava sentindo dores pelo corpo há algumas horas, e então decidi parar de fazer uma lista de 40 exercícios de Biologia, a tarefa de casa. Não tomei essa decisão apenas por estar me sentindo mal, já era tarde e no outro dia, quinta-feira, acordaria cedo. O que não esperava era que não conseguiria ao menos dormir e precisaria, algumas horas depois, estar num posto de saúde para entender o que acontecia. Era só o início de uma peregrinação que me levou até o posto de outra cidade, onde apenas um dia depois constatou-se que estava com apendicite aguda. Não me preocupei: vários amigos já tinham exibido orgulhosos suas cicatrizes deixadas pela cirurgia, era algo muito comum de que não conseguiria escapar. Iria dar tudo certo, assim pensava enquanto a ambulância me transportava até o hospital.
Já na sala de cirurgia, segui a sugestão do anestesista e me imaginei caminhando por um campo florido, passeei 5 segundos pelo paraíso e então dormi. Ao abrir os olhos algumas horas depois, já sem o apêndice, o que passava em minha mente não era mais uma bela paisagem. Com muita dificuldade de respirar e sofrendo de taquicardia, não entendia o que estava acontecendo e nenhum dos três enfermeiros que me olhavam com os olhos arregalados ajudavam a entender.
Passei por uma bateria de exames que constatou uma pneumonia aspirativa causada por um erro enquanto era anestesiada, o tubo que leva a anestesia cortou minha garganta, o que ocasionou a formação de um coágulo no pulmão. A grande quantidade de sedativos me impede de lembrar de muitas passagens a partir daí. Lembro que acordei na UTI, rodeada por profissionais da saúde, como o fisioterapeuta, que me apresentou uma máscara enorme, dizendo que, quando não conseguisse respirar, uma máquina emitiria um aviso e prontamente seria colocada em meu rosto. Foi quando decidi que não iria dormir enquanto estivesse ali, pois imagine: pegar no sono e acordar com uma máquina apitando, uma máscara cobrindo boa parte do meu rosto e uma equipe de enfermeiros em minha volta. Preferia me manter bem acordada, controlando - como se isso fosse possível - minha respiração, para que nada acontecesse.
Acabei dormindo e não foi necessário o uso da máscara, alguns dias depois o destino deixou de implicar comigo por um tempo e me liberou daquela situação. Pude sair da UTI e ir para um quarto de recuperação, onde passei algumas semanas fazendo fisioterapia respiratória. Num frio muito intenso voltei para casa, mais algumas semanas sem poder sair dali e então pude dizer que estava recuperada, o final tinha sido feliz.
Se você está lendo este texto, significa que, por mais que eu não tenha dormido o suficiente, talvez faltado algumas aulas para escrevê-lo, ou até não tenha ficado tão satisfeita com o resultado, atingi o objetivo de contar-lhe essa história. Saí sem sequelas daquele hospital e termino esta escrita também sem maiores problemas, assim, posso lhe afirmar que não há a necessidade de se preocupar tanto com os desafios da vida, afinal, tudo vai dar errado até que, enfim, dê certo.

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