1 Versão
Aluno 67
Se você, leitor, também sofre com
a implicância do destino, então provavelmente irá entender e identificar-se com
a história que irei contar. Se logo pensou em encerrar a leitura aqui por não
encontrar-se nessa descrição, repense: todos passamos, nem que seja por um dia,
por aquele tipo de situação em que tudo dá errado. Por mais que sejamos
positivos, um mar de surpresas desagradáveis chega para destruir a ilusão
criada por aqueles que nos disseram “calma, vai dar tudo certo”. Foi o que aconteceu
no inverno de 2013, quando uma simples inflamação de apêndice desencadeou
outras dessas surpresas.
Eu já estava sentindo dores pelo
corpo há algumas horas, e então decidi parar de fazer uma lista de 40
exercícios de Biologia, a tarefa de casa. Não tomei essa decisão apenas por
estar me sentindo mal, já era tarde e no outro dia, quinta-feira, acordaria
cedo. O que não esperava era que não conseguiria ao menos dormir e precisaria,
algumas horas depois, estar num posto de saúde para entender o que acontecia.
Era só o início de uma peregrinação que me levou até o posto de outra cidade,
onde apenas um dia depois constatou-se que estava com apendicite aguda. Não me
preocupei: vários amigos já tinham exibido orgulhosos suas cicatrizes deixadas
pela cirurgia, era algo muito comum de que não conseguiria escapar. Iria dar
tudo certo, assim pensava enquanto a ambulância me transportava até o hospital.
Já na sala de cirurgia, segui a
sugestão do anestesista e me imaginei caminhando por um campo florido, passeei
5 segundos pelo paraíso e então dormi. Ao abrir os olhos algumas horas depois,
já sem o apêndice, o que passava em minha mente não era mais uma bela paisagem.
Com muita dificuldade de respirar e sofrendo de taquicardia, não entendia o que
estava acontecendo e nenhum dos três enfermeiros que me olhavam com os olhos
arregalados ajudavam a entender.
Passei por uma bateria de exames
que constatou uma pneumonia aspirativa causada por um erro enquanto era
anestesiada, o tubo que leva a anestesia cortou minha garganta, o que ocasionou
a formação de um coágulo no pulmão. A grande quantidade de sedativos me impede
de lembrar de muitas passagens a partir daí. Lembro que acordei na UTI, rodeada
por profissionais da saúde, como o fisioterapeuta, que me apresentou uma
máscara enorme, dizendo que, quando não conseguisse respirar, uma máquina
emitiria um aviso e prontamente seria colocada em meu rosto. Foi quando decidi
que não iria dormir enquanto estivesse ali, pois imagine: pegar no sono e
acordar com uma máquina apitando, uma máscara cobrindo boa parte do meu rosto e
uma equipe de enfermeiros em minha volta. Preferia me manter bem acordada,
controlando - como se isso fosse possível - minha respiração, para que nada
acontecesse.
Acabei dormindo e não foi
necessário o uso da máscara, alguns dias depois o destino deixou de implicar
comigo por um tempo e me liberou daquela situação. Pude sair da UTI e ir para
um quarto de recuperação, onde passei algumas semanas fazendo fisioterapia
respiratória. Num frio muito intenso voltei para casa, mais algumas semanas sem
poder sair dali e então pude dizer que estava recuperada, o final tinha sido
feliz.
Se você está lendo este texto,
significa que, por mais que eu não tenha dormido o suficiente, talvez faltado
algumas aulas para escrevê-lo, ou até não tenha ficado tão satisfeita com o
resultado, atingi o objetivo de contar-lhe essa história. Saí sem sequelas
daquele hospital e termino esta escrita também sem maiores problemas, assim,
posso lhe afirmar que não há a necessidade de se preocupar tanto com os
desafios da vida, afinal, tudo vai dar errado até que, enfim, dê certo.
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