Aluno 67
Reescrita
Meu professor de Geografia
costumava dizer que seus melhores estudos de antropologia aconteciam quando
sentava num banco da rodoviária de Porto Alegre e observava. De fato, o que se
vê são muitas pessoas, dos mais variados tipos. O que não se enxerga é o mundo
inteiro de experiências e histórias que carregam consigo, que poderiam ser o
enredo de um livro que conquiste leitores ou o roteiro de um filme que lote
salas de cinema. No meio de todas essas pessoas que aguardam o ônibus, sou uma
das que observa no pouco tempo que tenho para esperar, pois, dentre os
passageiros, faço parte da categoria dos que chegam aos últimos minutos.
Foi próximo a uma parada de
ônibus que nasci. Não, não foi um acidente de percurso que me fez nascer ali
mesmo, vim ao mundo num quarto do hospital da PUC, em Porto Alegre, localizado
em frente a um dos vários terminais de ônibus da cidade. Logo fui morar em
Punta del Este, próxima a minha família paterna, mas meu aniversário de 1 ano
já foi comemorado em Garibaldi, na serra gaúcha, onde vivi por 17 anos.
Cresci naquela cidade silenciosa,
rodeada pelos livros da biblioteca que minha mãe gere até hoje. Foi ali que
aprendi tudo que sei e criei minha personalidade, foi onde me tornei a pessoa
que chega em cima da hora para pegar o ônibus. Acredito que essa característica
pode ser relacionada ao local onde vivi, tudo é perto demais no interior. Está
com fome? No outro lado da rua tem uma padaria. Dor? Provavelmente em alguns
minutos caminhando encontra uma farmácia. Assim, me acostumei a deixar tudo pra
última hora. Claro, não posso ignorar o fato de que, vergonhosamente, sou quase
profissional na área de procrastinação e até poderia justificar o fato usando
como argumento meu signo, os amantes de astrologia me perdoariam, pois
“piscianos são assim mesmo, tranquilos, vagarosos”.
Voltei para Porto Alegre depois
de um trajeto de indecisões. Na pré-adolescência quis ser publicitária,
psicóloga, assistente social, professora. Aí, o tempo já estava acabando, o
vestibular chegando e se me atrasasse perderia a viagem de anos que é cursar a
faculdade, então parei de pensar nas opções com medo de que surgissem outras e
por perceber que nada tiraria de mim a ânsia de trabalhar com educação. Enfim,
decidi cursar Letras, e aqui estou. Provavelmente cheguei com um 343, ou D43
que peguei naquela parada em frente ao hospital que nasci e que hoje,
coincidentemente, embarco diariamente no ônibus, eu e as outras várias pessoas
e suas histórias.
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