quarta-feira, 22 de junho de 2016

O dia do nascimento

Aluno 82
Reescrita


Pés inchados, uma saliência tão grande que pode ser comparadas a uma melancia, carrega essa melancia no lugar de minha barriga todos os dias. Estou sentada em meu sofá, olho em volta, a casa já está toda adaptada para a chegada do bebê. Pequenos portões em cada entrada, tapetes acolchoados na sala e nos quartos, caixas com brinquedos espalhados por todos os lados. Na mesa de centro, pego uma das várias revistas feitas para mães de primeira viagem. Vejo bebês nas fotos, me pergunto quando chegará o meu. Descubro que não deveria ter me feito esta pergunta. A barriga agora dói, são as contrações. Procuro alguma companhia pelos cômodos, nervosa acabo por esbarrar em um dos portões e piso em um patinho de borracha. Descubro que não tem ninguém em casa, além de todos os objetos infantis, estou sozinha. Ligo para minha mãe, não atende, ligo para meu marido e também não atende. Finalmente, ligo para minha melhor amiga e ela atende. Digo-lhe que as contrações começaram, peço para que venha, ela está a caminho.
Lembro-me das recomendações que me foram dadas pela minha médica. Respiro profundamente. Lembro-me que ainda não fiz as malas. Que tipo de mãe sou eu?!Vou então ao quarto do bebê, um quarto pequeno, com um berço, cômoda e tapetes brancos, paredes brancas com desenhos amarelos em tons claros. Mal consigo me mexer dentro deste quarto, pois ele é pequeno e ainda tem muitos brinquedos não guardados. De dentro do berço retiro uma bolsa grande com desenhos de estrelas, uma bolsa daquelas que quase todas as mães ganham. Guardei então, pequenas roupas de frio, meias e um gorro. Guardei também o kit higiene, a mala do bebe esta pronta. Em uma pequena mala preta guardo as roupas de frio para a mãe... Ah! Eu sou mãe, vou ser mãe! Meu devaneio se interrompe quando a bolsa se rompe. Onde está minha amiga?! Respiro e inspiro, havia me esquecido desta técnica.
A campainha toca, minha amiga chega, carregamos as malas até o fusca azul. Ela me coloca no banco de trás e o espaço fica ainda menor. O perfume de incenso e os bichinhos de pelúcia espalhados pelo carro fazem meu nariz coçar. Respiro e inspiro. O telefone toca meu marido ao saber da noticia avisa a família e corre até o hospital. O transito simplesmente para. No rádio do carro tocam musicas de sala de espera de centro espirita. Peço á minha amiga para que troque a estação. Agora está tocando “two of us” dos Beatles, fico contente, se o bebe nascer no carro, ao menos será ao som de minha banda favorita.
Chegando ao hospital, muitos rostos doentes me olham, com uma expressão alegre e preocupada. Na ala da maternidade, muitas mães caminham carregando suas “melancias”, esperando ter dilatação. Os médicos perguntam algo sobre as contrações, nesse misto de emoções e sentimentos, mal consigo responder. Visto uma camisola e deito na maca. Sou examinada e descubro que já tenho dilatação. No quarto ao lado, ouço gritos de uma mãe que está em trabalho de parto.
 Eu ansiosa, feliz e emocionada, me preparo para o parto. Pedem-me para fazer força para que o bebê possa sair, a dor é tanta que não pude ao menos gritar para dizer que estou me esforçando ao máximo. Um súbito alivio toma o lugar da dor excruciante. Nasce minha menina, meus olhos se fecham lentamente, tive um desmaio. Ao acordar me delicio de felicidade vendo o rosto da minha pequena. E lá fora o sol nasce junto com ela.


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