Aluno 112
1 Versão
Nasci
no sétimo mês de uma gravidez cansada de ser interrompida. Não havia criança no
mundo mais disposta a viver do que a alma chorona que habitou a ala infantil no
Hospital Presidente Vargas no dia 27 de novembro de 1993. Era eu que nascia e,
aos berros, tentava impor ao mundo que quem tinha o controle sobre minha vida
era eu.
Admito
que não mudou muita coisa desde então. Sempre fui uma criança teimosa, uma
adolescente difícil e, agora, sou uma adulta complicada. Tenho muita dificuldade
em aceitar derrota. Em aceitar de bico fechado, quando vejo que o mundo cai aos
pedaços. Minha forma favorita de rebeldia é seguir a frase de um grande
pensador sendo a diferença que eu quero ver no mundo. Graças à Ghandi, sou
vegetariana, feminista e voluntária como palhaça em hospitais.
Tenho
um metro e sessenta e nove centímetros de incertezas, sessenta e dois quilos de
gula e dois olhos castanhos que não funcionam direito, graças à miopia
hereditária. Sou, originalmente, morena. Agora, sou ruiva. Ontem, era azul. Meu
cabelo espelha a bagunça sem rumo que dança na minha mente ansiosa. Estou
sempre angustiada por dias que ainda não vi. Sempre temerosa por tudo que posso
perder, caso minha coragem escorra pernas abaixo.Não sei lidar com o tempo que
foge vida a fora.
Eu
tento sempre me manter ocupada, de forma que meus problemas não encontrem os
ponteiros do relógio parados. Por causa disso, sei lutar capoeira, boxe e muay
thai. Por causa disso, sei falar inglês, francês e um pouco de espanhol. Por
causa disso, sei dançar zumba e danças celtas. Por causa disso, viajo sempre
que posso. Por causa disso me formei em Direito e, após dois meses, comecei
Letras.
Se
eu tivesse que me descrever, diria que sou um emaranhado de sonhos, lutas e
confusão. Também devo dizer que sou tímida e odeio acordar cedo. Eu não sei
exatamente quem eu sou, mas sei o que eu quero e defendo as coisas em que
acredito. Admito também que sou irritadiça e ranzinza. Mas, no fundo, sou uma
boa pessoa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário