Aluno 101
1 Versão
Ansioso. Porque desde o início da
vida me foi privado o amor. Ansioso, pelos desinteressados, pelos descuidados,
por sentir-me irrelevante. Descartável. Sou só mais um. Ninguém há de me
querer. Não sou o mais bonito, o mais gracioso, o mais quieto ou comportado.
Não fui treinado para ficar perto de outras pessoas. Estou sozinho, preso na
minha própria mente, pois não sei me comunicar do jeito que vocês gostariam.
Porque estaria eu nesse mundo? Andando nas ruas como um ser invisível, onde
todos desviam seus olhares, como se tivessem medo da minha aproximação. Olha,
eu sei que não sou o mais limpo, o mais educado. Mas é que nunca me foram
ensinadas boas maneiras. E sei que é esforço demais pedir para prestarem
atenção em mim, afinal, as suas vidas sempre foram muito ocupadas. Tão ocupadas
que acabei aqui, nesse estado, nesse lugar, sem amparo, sem ninguém para cuidar
de mim. Cheguei na conclusão de que não sou do agrado popular. Já, eu, me
agrado com tudo.
E me agradei quando você parou.
Percebe? Você só parou e me olhou. E peço desculpas por não ter te dado atenção
logo de cara, por não saber te diferenciar dos outros, por não perceber que
naquele momento minha vida mudaria. Mas você me enxergou. Com todos os meus
defeitos, com tantas coisas mais apelativas ao olhar, preferiu ver a mim,
deitado em um cantinho escuro da avenida movimentada, me pegando desprevenido.
E viu em mim tudo o que eu já havia esquecido que existia: o meu propósito de
estar vivo.
O seu toque foi libertador. Meu
coração se acelerou e eu senti, pela primeira vez, o carinho de alguém. E como
é boa a sensação de saber que alguém se importa. Sua mão quente me trouxe
conforto, arrepios indo diretamente para o meu cérebro. E naquela hora você já
sabia que tinha me ganhado. E não é porque eu fui fácil e deixei me levar. Mas
é porque eu não tinha mais nada a perder. E levantei meu rosto, olhando para o
seu, guardando os primeiros detalhes de sua face e de sua voz, buscando me
apoiar em qualquer conforto que eu pudesse ter para me recordar sempre de você.
Mas a questão era que você
parecia querer, assim como eu, ter esse contato, essa aproximação. E eu estava
tão incrédulo por finalmente ter sido notado por alguém que demorei a perceber
que você estava ali para ficar, que não sairia de perto de mim. Mas quando o
fiz, senti algo
estranho. Senti como se uma parte de mim estivesse me abandonando. A
cada minuto que conversávamos, eu e você, do nosso jeito, eu percebia uma ânsia
deixando meu corpo. Uma ânsia que me machucava tanto que passei a achar que ela
era algo normal. E, quando essa dor se foi, me dei conta de que eu nunca havia
vivido sem ela. Agora com você, porém, conseguir sentir o que era estar vivo de
verdade.
Você me salvou. Me salvou do abandono, do descaso,
da fome e da sede. Me salvou do descuido, da carência e da ânsia por uma razão
de estar aqui. E hoje eu sei que estou aqui porque você está aí. E juntos nos
completamos. Nos agradamos. E eu prometo que vou fazer meu melhor para ser seu
mais leal amigo. Pois você foi meu primeiro e eu te devo tudo o que tenho
agora. Muito obrigado.
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