terça-feira, 21 de junho de 2016

VEM PARA O BEM


Aluno 101
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Passar oito anos dentro de um mesmo colégio faz coisas com sua cabeça, autoestima e confiança. Coisas insignificativas parecem ter o valor triplicado, ainda mais quando se fala da adolescência, onde hoje penso que, sim, é uma fase. Claro, adolescentes tem que ser escutados, apoiados e incluídos em todos os meios, mas não tira meu ponto de vista de que é só uma fase. E passa. E passar tantos anos em uma mesma escola, vivendo com as mesmas pessoas, faz você criar traços que não criaria se estivesse em um ambiente mais sadio.
Sadio porque eu já estive dos dois lados. No primeiro ano do ensino médio, saí da minha bolha social e fui para um colégio público. Os tempos eram difíceis e não estava mais dando para pagar o particular em que permaneci esses oito anos. Eu não conhecia ninguém, eu não conhecia nada. Não sabia nem onde era o banheiro. E me sentia atordoada. Mas mais tarde eu iria saber que aquela mudança iria ser um dos melhores acontecimentos da minha vida.
Eu entrei naquele colégio como uma menina introvertida, envergonhada e chorona. E saí como a líder da minha classe no terceiro ano, que comandou sua turma na semana da gincana do colégio e saiu vencedora; que apresentava trabalhos na frente de todos com um sorriso no rosto; que dançou no ginásio do colégio para todo mundo ver e não se incomodou nem durante um segundo sobre isso; que finalmente tinha amigos longe de panelinhas estúpidas e superficiais. Parece pouco, eu sei. Parece aquelas histórias onde a menininha cresce e vira uma pessoa completamente diferente. Mas o problema era muito mais grave que isso. Lá no fundo, hoje eu entendo que o problema da minha falta de autoestima era, sim, aquele colégio particular.
Quando se fica tanto tempo em um único colégio, as pessoas começam a ficar confortáveis e a te conhecer de um jeito que não é necessário. Elas sabem seus pontos fortes e fracos. E sabem te atacar. Dizer que sofri bullying talvez seria demais. Mas na minha turma, em todos os anos, sempre teve aquele grupinho que tirava sarro, que incomodava, que não estava nem aí. E eu não era assim. Eu gostava de prestar atenção e nos primeiros anos me incomodava com a bagunça. O problema era que eles não gostavam de ser contrariados e, com o tempo, percebendo minha incomodação, fizeram de mim alvo de piadas entre eles. Eu não era a única. Todo meu grupo de amigas sofreu um pouco com isso. Talvez elas eram mais resistentes, talvez eu me importava mais. Não interessa. O

problema era que aquilo foi me desgastando e me tornando uma pessoa insegura. Eu tinha minhas amigas, e carrego elas comigo até hoje, já na faculdade, e tentava não me importar com o que acontecia em volta de mim. Sempre diziam que ignorar é a melhor coisa a se fazer nessas horas. Mas não é bem assim. Eu terminei o ensino fundamental me sentindo um lixo, sem conseguir olhar nos olhos das pessoas, apegada demais à ideia de que o julgamento dos outros era importantíssimo para minha vida.
Quando entrei no colégio público, isso mudou. Lá, eu me senti como uma pessoa madura, que agia por si mesma. Ninguém me conhecia ali. Ninguém sabia meus pontos fracos e meus pontos fortes. Eu os mostraria se quisesse. Eu deixaria passar de mim só o que eu queria que os outros vissem. Eu estava amadurecendo em um novo ambiente, cheio de pessoas novas. Pessoas que me aceitaram do jeito que eu sou. Pessoas que me moldaram e me fizeram uma cidadã melhor. Que me fizeram enxergar os problemas que a sociedade vive, que compartilharam comigo sua história de vida, seu esforço e superação. Eu conheci uma nova realidade. E, não, não reclamo por nem um minuto da qualidade de ensino. É inferior e/ou precária? Talvez. Mas os bons professores que tive foram ótimos, e me ensinaram muito mais do que matemática, física, português ou história. Eles me ensinaram a ser uma cidadã que vive em sociedade. Me ensinaram a batalhar pelos meus objetivos e lutar pelo que eu acho que é certo. Junto de meus colegas e amigos, me ensinaram que eu não preciso ter vergonha de ser quem eu sou. Que está tudo bem. Ninguém é perfeito.
Esse relato tem um fundo muito mais simples do que eu quis que ele deixasse passar, na verdade. Eu escrevi tudo isso apenas para dizer que as mudanças, por mais difíceis ou abruptas que sejam, vêm para o bem.

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