terça-feira, 21 de junho de 2016

Meu grande aprendizado

Aluno 97
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Desde criança eu aprendi que as pessoas são cruéis. No geral, as pessoas não costumam se importar em opinar sobre questões frágeis, pessoais, que nos machucam, ou fazem pouco caso das dificuldades das nossas vidas. Eu percebi isso desde cedo, mais precisamente na minha infância/pré-adolescência, quando era difícil ser aceita nos grupinhos sociais através de quem eu era. Essa fase pode ser um tempo difícil para quem não se encaixa no padrão de “menininha bonitinha, de cabelo liso que usa calça da De Mattos”. Isso numa escola pública lá pelo 5ª ano em 2005. Hoje, só muda a marca da calça.
        Passar por essa fase foi difícil para mim, e hoje, com meus 20 anos e nenhuma experiência, exceto a conclusão dessa frieza das pessoas, eu tento aconselhar duas crianças que passam por essa mesma etapa pedante e decisória para a construção de suas identidades. Uma dessas crianças é meu irmão, o Guilherme, de 12 anos e autista.
        É possível imaginar como é complicado para uma criança autista superar essa fase da vida, já que para mim, que não possuo esse problema cognitivo foi difícil, imagina pra ele. O Guilherme é constantemente vítima de bullying na escola. Hoje ele está no 6ª ano e ainda é hostilizado por preferir brincar com tampinhas de garrafas do que jogar futebol. Por ser muito literal e não entender metáforas. Por ser tão peculiar, gostar e saber de coisas como espécies de peixes, ele sabe mil tipos de espécies de peixes. Eu me lembro de passar por essa fase de incompreensão, mas de uma maneira tão dramática, enquanto ele, tendo mil e um motivos a mais para se chatear, segue me dando todo dia uma lição de vida, sendo o menino doce e amável que ele é, e me mostrando o quanto ele tem a me ensinar.
        Outro dia, eu o questionei sobre como ele se sentia depois de um episódio em que um coleguinha o xingou por que ele não havia entendido como se joga queimado, ele me disse que não se importava, e que eles não o entendiam, e ainda acrescentou que no fim da aula, ele e o Eduardo -o coleguinha- jogaram Yugh Yoh. Eu ali, toda ressentida com o que aconteceu, e ele completamente desapegado. Mas isso dói em mim, afinal, dizer que as crianças são malvadas, é compreensível, até por que eles estão na fase de construção de caráter, e não são culpados pelos valores que recebem da família, mas ouvir de uma mãe dizer pra um colega dele: “Não chega perto daquele guri, ele é louquinho”, é de cortar o coração, é de se desiludir com a humanidade.
        Embora a cada dia que passe eu tenha mais certeza de como as pessoas são cruéis, ele me faz duvidar disso todo dia. Embora eu saiba como o mundo afora é maldoso com quem é diferente, ele me mostra autoconfiança e independência. E embora eu saiba que há centenas de outros Guilhermes por ai, que talvez não tenham o devido apoio da família, ou não consigam lidar com essas situações. O Guilherme -meu irmão-, autônomo, confiante e nenhum pouco frágil é a minha preocupação egoísta de todo dia.
       










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