Aluno 67
Reescrita
Aniversário, ah, o aniversário!
Dia de comemorar mais um ano de vida e aproveitar tudo de incrível que cerca
este dia de alegrias: festa, comida, felicitações discretas. Sim, apenas as
discretas, afinal, passando disso, não se considera incrível, muito menos de
alegria e pode levar ao momento que faz o ser humano ser obrigado a passar por
um dos maiores constrangimentos da vida moderna: ouvir o clássico “parabéns pra
você”. O culpado é o costume bizarro de cantar em grupo - como se um recado nas
redes sociais já não fosse suficiente - que a sociedade insiste em conservar e do
qual a humanidade ainda não chegou a um acordo sobre como reagir, afinal é como
participar de uma luta forçosamente, sem conhecer sequer o mais simples das
artes marciais.
O nome não é anunciado, não
existe um ritual de apresentação dos lutadores, o ataque simplesmente acontece.
O lugar onde se está? Pouco importa, de qualquer forma, ele estará lá: o amigo
que desencadeia todo o processo. Pode ser no meio de uma conversa, de uma aula,
entre o vai e vem da rotina no local de trabalho, chega o momento em que, ao
sentir um inexplicável clima de filme de terror, você olha para ele, que já lhe
encara, e numa fração de segundos aquela boca que parece não conseguir mais um
segundo manter-se calada profere "Tá de aniversário, vamos cantar
parabéns!"
Você foi descoberto e já se
encontra acuado pelo grupo que se pretende um coral, mas parece uma gangue
furiosa. A princípio a ideia de acompanhar as palmas, como se estivesse
desviando de golpes, faz com que participar seja a melhor opção, mas então o
questionamento sobre estar cantando parabéns para si mesmo vem à mente, as mãos
param de bater e a boca cala. Um sorriso amarelo então toma conta da expressão,
os olhos o acompanham fazendo um passeio pelo ambiente: o chão, o teto, o rosto
de cada um dali, a torta que ocasionalmente pode estar na mesa. Chega o momento
em que aquele sorriso forçado começa a fazer o rosto doer, ficar sério vai
parecer antipático e fugir dali é uma hipótese que passa pela cabeça desde a
primeira palavra entoada, mas não, não vai precisar, já estão desejando muitos
anos de vida e as palmas já estão cessando.
O silêncio finalmente toma conta
do local, as pessoas se organizam para dar o abraço, que põe fim àquela
situação, finalmente pode se dizer livre do ataque. O sorriso, antes cansado,
se abre até com certa sinceridade e o que escuta agora é o som de seu suspiro
de alívio ao pensar que por um ano não precisará ouvir aquelas 12 palavras,
pelo menos não na condição de atacado. Se aquilo foi uma luta, já era possível
ver o juiz se aproximar e, ao erguer seu braço, o declarar vencedor. Mas num
instante você cruza seus olhos já brilhantes com os olhos malignos daquele
mesmo amigo que lembrou de seu aniversário, ele então faz questão de dizer em
alto e bom som que você é tudo e não nada, "então como é que é?", e
começa tudo novamente.
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