quinta-feira, 10 de julho de 2014

Literatura; serve para quê mesmo?

1ª versão
Por Aluno 27



Todos os anos, milhares de alunos adentram as universidades de todo o país para iniciarem sua vida acadêmica. Muitos destes, após a aprovação no vestibular, queimam polígrafos de cursinho e agradecem por jamais terem que fazer cálculos, estudar biologia ou ainda ler Gregório de Matos e Machado de Assis. Estes últimos, trazem como razão para seu desgosto com os autores a linguagem, a temática das obras ou simplesmente “literatura é muito chato”.
Neste contexto de leituras obrigatórias e alunos que cada vez menos se interessam pelos livros, podemos nos perguntar: literatura serve para quê mesmo?
Em entrevista com jovens inseridos em diversas áreas do conhecimento, pudemos perceber que essa questão apresenta-se de formas muito diversas.
Para Adriana Kerchner, 18 anos, aluna do curso de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a literatura tem a missão de transmitir através da escrita a cultura e os saberes de um povo.
- Dessa forma, eles podem transmitir para as gerações futuras seus valores, mitos, crenças, toda e qualquer informação que eles desejem imortalizar nas páginas de um livro. – afirma ela.
Guilherme Dias, 22 anos, publicitário graduado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), tem a sua visão sobre o tema muito próxima de Adriana, mas salienta que nós, vivendo no século XXI, também possuímos influências do que fora produzido anteriormente.
- Acho que boa parte dos entretenimentos “modernos” não existiriam se ninguém tivesse escrito romances há séculos atrás. Até as redes sociais são basicamente pessoas escrevendo biografias romantizadas em pequenas partes.
A concepção apresentada pelos jovens está muito próxima da exposta na obra de Antoine Compagnon, grande crítico literário e professor de Literatura Francesa no Collège de France, em sua obra “Literatura Para Quê”, quando ele elenca alguns sentidos dados à literatura. Um deles parte de Aristóteles e sua idéia de literatura como representação, possuindo assim um poder moral. Desta forma, segundo aponta Compagnon, “a literatura deleita e instrui”.
A idéia da leitura literária como uma forma de entretenimento é apresentada por Karine Leal, 23 anos, estudante do curso de Medicina Veterinária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
- Há também a importância de se permitir um momento de descanso a cada livro que se lê e poder entrar na fantasia da história.
Assim, percebe-se um encontro entre a noção de deleite e transposição do real para o imaginário, algo muito presente principalmente na literatura infanto-juvenil a partir do século XX. Muitos professores, com o objetivo de instruir seus alunos com determinado assunto, acabaram por escrever obras fantásticas que abordam uma temática de uma forma jamais vista antes. Jostein Gaarder, escritor norueguês teve seu início no mundo da escrita desta forma, quando, para incentivar o interesse em suas aulas de filosofia, escreveu “O Mundo de Sofia”, obra lida até hoje por milhares, e não mais apenas crianças.
Tantos outros exemplos existem e em todos, a noção da representação de uma dada realidade, seja ela no mundo das idéias ou no real, de um futuro apocalíptico ou em um passado desconhecido, todas possuem o objetivo de transmitir uma idéia, uma moral. Além disso, deve-se considerar que o período e as condições sociais e históricas de quem e onde as escreveu é de extrema importância, indo de encontro com o que a estudante de Letras, Adriana, disse anteriormente sobre a transmissão de saberes de uma cultura através da obra literária escrita.
Uma questão levada em consideração no decorrer das entrevistas foi em relação do que cada um dos entrevistados entendia por literatura.
Apesar de apresentarem idéias diversas de outros parâmetros, todos os entrevistados concordaram em um ponto: a literatura faz parte da dimensão escrita.
Guilherme vai mais longe nisso quando diz que é exatamente a dimensão escrita que faz do leitor tão atento, permitindo adentrar o enredo de forma inigualável.
- É clichê, mas a literatura realmente é uma porta para um outro mundo. Um livro exige a plena atenção do leitor, e assim que ele tem esta atenção, poucas coisas conseguem te tirar de dentro das páginas. Com a televisão e o cinema, sempre existe aquele ator que fez aquele outro filme, ou um efeito especial um pouco esquisito. Já o livro, na minha opinião, força a imersão dentro da tua própria imaginação de uma maneira que nenhuma outra arte consegue replicar.

Ao final de cada entrevista, foi perguntado a cada entrevistado quais eram os livros favoritos deles. O interessante do resultado foi perceber que pessoas de áreas tão diversas (Letras, Publicidade e Medicina Veterinária) possuem algo muito forte em comum: todos possuem como livro favorito pelo menos um considerado “clássico”. Na lista estavam, dentre os muitos, Dostoiéviski, Machado de Assis, George Orwell e Érico Veríssimo. Da dimensão mundial para a local, apesar das escolhas profissionais diversas, foi possível perceber que o gosto pela leitura e a literatura ultrapassaram as aulas de cursinho e seguiram vida afora, permitindo que, segundo Compagnon, pudessem tornar-se pessoas mais sensíveis, sábias e portanto melhores.

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