Reescrita
Por Aluno 9
Com aproximadamente seis anos de idade o período de ingresso à escola
chegou, e já estava internalizada minha L1, todas as regras fundamentais de funcionamento
e uso da língua estavam intrínsecas em minha mente, portanto possuía um
conhecimento linguístico. No convívio familiar pude adquirir diverso
conhecimento de mundo. Vivências do cotidiano me providenciaram um conhecimento
raso sobre diversas áreas do conhecimento, como na vez em que minha mãe
explicou à minha tia os sintomas de gripe.
O conhecimento linguístico, isto é, todas as regras internas gramaticais
que a criança absorveu durante os primeiros contatos com a língua, e que estão
disponíveis ao acesso direto para o uso, são de fundamental importância para a
alfabetização. Pois se o aluno souber as diretrizes gerais de sua língua
materna, caberá ao professor apenas ensinar novas ferramentas para utiliza-la e
desenvolve-la, construindo aos poucos um leitor consciente do que lê.
O conhecimento linguístico faz parte do que é chamado de conhecimento
prévio por Kleiman (1995, p. 15):
“A compreensão de um texto é um processo que se
caracteriza pela utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura
o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida. É mediante a
interação de diversos níveis de conhecimento de mundo, que o leitor consegue
construir o sentido do texto.”
Portanto, os conhecimentos prévios que temos antes da leitura de
denominado texto podem e deverão ser decisivos para a compreensão total do
mesmo. Uma criança alfabetizada aos seis anos de idade tem o conhecimento
linguístico plenamente desenvolvido, porém o seu conhecimento textual e de
mundo, ainda são precários para a efetivação do letramento. Segundo Rottava
(2000) alfabetização difere de letramento, onde o aluno alfabetizado estaria
apto a decodificar letras, e o letrado a criar sentidos, portanto
verdadeiramente compreender o texto.
A criança letrada é consciente do que lê, não apenas decodifica palavras
e letras, mas constrói sentido para o texto que absorve. Por outro lado, a
criança que é apenas alfabetizada não cria contextos, apenas junta as palavras
de um texto, então não tira proveito do mesmo, pois não internaliza o
conhecimento.
Mais tarde, no final do ensino fundamental, comecei a ser letrado. Fui
exposto a livros, e a uma leitura crítica de obras literárias revisitadas para
alunos de ensino fundamental. Lembro-me que quando li “Os Miseráveis” de Victor
Hugo, o meu conhecimento de mundo sobre a história da França foi de muita ajuda
para o entendimento do que estava se passando na obra. A miséria na França me
fez entender o porquê Jean Valjean roubou o pão para dar a sua irmã e
sobrinhos, e o patriarcalismo exacerbado da época que fez Fantine ser demitida,
já era conhecido por mim.
“Portanto ler, acima de tudo,
está ligado à construção de sentidos.” (ROTTAVA, 2000, p. 14) e não à
decodificação do texto. E essa construção de sentidos só se efetiva quando o
leitor é capaz de despertar seu conhecimento prévio, trazendo a tona o
entendimento do texto, mesmo que não se dê conta de que entendeu.
Ler não é apenas construir conceitos, mas também produzir ideias sobre
os conceitos criados durante a leitura. Acredito que na primeira vez que fui
crítico com um livro, e pude formar uma opinião sobre ele sem interferências
externas (leia-se opiniões alheias, e ou críticas literárias) pude me
considerar leitor.
Referências
KLEIMAN,
Angela. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura, 4ª ed, Campinas, SP.
Pontes, 1995. P. 13.
ROTTAVA, Lucia.
A importância da leitura na construção do conhecimento. Ijuí, RS. Unijuí, 2000,
p. 11 – 16.
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