terça-feira, 15 de julho de 2014

Memorial literário

Reescrita
Por Aluno 33



Os livros mudaram a minha vida completamente. Ter criado intimidade com esses desde a infância me possibilitou ter acesso a uma diversão saudável (os mundos que conhecia nos livros eu não encontrava em qualquer outro lugar) que desenvolveu meu senso crítico e minhas capacidades de compreensão e escrita - antes de terminar o ensino fundamental, já conseguia opinar fundamentalmente e escrever de uma forma reconhecida pelos meus professores como avançada para a minha idade.
É importante ressaltar que a leitura se tornou parte do meu ser principalmente devido à influência de uma família materna leitora. Minha avó, minhas tias e minha mãe sempre tinham livros espalhados pela casa, hábito que eu adquiri sem perceber. Eu, mesmo adorando brincar com bonecas e jogos de vídeo-game, achava perfeitamente normal uma família viver entre livros. Sem ter consciência de que as pessoas à minha volta eram uma rara exceção no nosso país analfabetizado e pouco leitor, eu também comecei a mergulhar nos livros para descobrir novos mundos, novos personagens, novas palavras. Felizmente, minha família não deixou “somente para a escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura” (conforme ROTTAVA, 2000).
Meu primeiro contato com o mundo literário começou aos 6 anos, por meio das revistas em quadrinhos da Turma da Mônica. Nessa época, minhas prateleiras ganharam centenas de “gibis” (outra denominação para as tais revistas), e eu me descobria encantada por aquele universo colorido com balões e letrinhas. As histórias divertidas e fáceis de entender, os enredos infantis e cativantes e todo o charme dos personagens de Maurício fizeram parte desse pontapé inicial da minha paixão pelos livros. Com essa boa impressão causada pelos gibis, era inevitável a entrada de livros na minha vida, futuramente.
Após conhecer os gibis e com eles ter intimidade, decidi me aventurar por livros mais densos, e minha primeira tentativa foi com o primeiro da série “Harry Potter”. No entanto, a grande quantidade de páginas do livro me assustou de tal modo que “Harry Potter e a Pedra Filosofal” apenas acumulou poeira na minha estante, enquanto eu ficava orgulhosa de mim mesma por ler um livro de 72 páginas (“A Torre Mal-Assombrada”) em três dias - esse era um recorde para mim na época. Um ano depois, felizmente, “Harry Potter” se tornou realmente presente: aos 9 anos, resolvi ler o grosso volume de 702 páginas (quinto volume da série) por curiosidade, e foi aí que minha paixão pela literatura e pelos livros se tornou algo real. O mundo fantástico de bruxos do bem, entretanto, trouxe a desvantagem de jamais me despertar a curiosidade para a Literatura Brasileira. Ao conhecer a ficção atraente própria da literatura de massa (literatura adorada por um grande número de pessoas, mas sem uma clara utilidade social e histórica), não senti necessidade de conhecer Machado de Assis ou José de Alencar, sendo que meu desinteresse e ignorância para com esses clássicos aconteceu por meio das leituras obrigatórias escolares - esse fato, infelizmente, não impediu que “a pouca familiaridade com o assunto me causasse incompreensão” (conforme KLEIMAN, 1995). Não sabendo do prejuízo que a ausência de Literatura Brasileira me causaria, após “Harry Potter” continuei lendo outros livros da literatura de massa, como “Clara Rosa”, “Percy Jackson” e “Poderosa”.
Conforme ROTTAVA (2000), “a leitura como prática social responde a certos interlocutores e vincula-se aos propósitos do leitor, os quais se definem no contexto social conforme expectativas sociais”. Minha expectativa social era apenas a diversão, mas algumas reviravoltas me esperavam. Aos 14 anos, já habituada a ler apenas pelo prazer que as palavras me proporcionavam, no primeiro ao do ensino médio conheci livros que me causam orgulho e satisfação. Até os meus 17 anos, conheci Ulisses e sua Odisseia, vi Gregor Samsa se tranformar em um inseto e morrer em “A Metamorfose”, acompanhei “Cem anos de Solidão”, vi o desespero e muita realidade em “Ensaio sobre a cegueira”, conheci a estranha mente de Macabeia em “A Hora da Estrela”, entre outros títulos que me ajudam a escrever com facilidade e prazer e que me possibilitaram conhecer palavras (e valores) novos.
Hoje, sei que os livros fizeram de mim uma pessoa melhor instruída e com diferentes visões sobre o mundo (“Ensaio sobre a cegueira” me mostrou que a realidade pode ser cruel, por exemplo). Mais que tudo, sei que a identidade de leitora já me é intrínseca e que sem os livros, eu jamais seria tão feliz como sou hoje.










Referências:
ROTTAVA, Lucia; A importância da leitura na construção do conhecimento In Espaços da Escola; ano 9, n.35, p.11-16, 2000.
ROTTAVA, Lucia. A leitura em contexto acadêmico: o processo de construção de sentidos de alunos do primeiro semestre do curso de Letras In Signo; v. 37, n.65, p.160-179; Santa Cruz do Sul, jul.-dez., 2012.

KLEIMAN, Angela; Texto e Leitor: aspectos cognitivos da leitura/Angela Kleiman, 4ª edição. Campinas, SP; Pontes, 1995.

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