Reescrita
Por Aluno 33
Os
livros mudaram a minha vida completamente. Ter criado intimidade com esses
desde a infância me possibilitou ter acesso a uma diversão saudável (os mundos
que conhecia nos livros eu não encontrava em qualquer outro lugar) que
desenvolveu meu senso crítico e minhas capacidades de compreensão e escrita -
antes de terminar o ensino fundamental, já conseguia opinar fundamentalmente e
escrever de uma forma reconhecida pelos meus professores como avançada para a
minha idade.
É
importante ressaltar que a leitura se tornou parte do meu ser principalmente
devido à influência de uma família materna leitora. Minha avó, minhas tias e
minha mãe sempre tinham livros espalhados pela casa, hábito que eu adquiri sem
perceber. Eu, mesmo adorando brincar com bonecas e jogos de vídeo-game, achava
perfeitamente normal uma família viver entre livros. Sem ter consciência de que
as pessoas à minha volta eram uma rara exceção no nosso país analfabetizado e
pouco leitor, eu também comecei a mergulhar nos livros para descobrir novos mundos,
novos personagens, novas palavras. Felizmente, minha família não deixou
“somente para a escola o papel de despertar, incentivar e motivar a leitura”
(conforme ROTTAVA, 2000).
Meu
primeiro contato com o mundo literário começou aos 6 anos, por meio das revistas
em quadrinhos da Turma da Mônica. Nessa época, minhas prateleiras ganharam
centenas de “gibis” (outra denominação para as tais revistas), e eu me
descobria encantada por aquele universo colorido com balões e letrinhas. As
histórias divertidas e fáceis de entender, os enredos infantis e cativantes e
todo o charme dos personagens de Maurício fizeram parte desse pontapé inicial
da minha paixão pelos livros. Com essa boa impressão causada pelos gibis, era
inevitável a entrada de livros na minha vida, futuramente.
Após
conhecer os gibis e com eles ter intimidade, decidi me aventurar por livros
mais densos, e minha primeira tentativa foi com o primeiro da série “Harry
Potter”. No entanto, a grande quantidade de páginas do livro me assustou de tal
modo que “Harry Potter e a Pedra Filosofal” apenas acumulou poeira na minha
estante, enquanto eu ficava orgulhosa de mim mesma por ler um livro de 72
páginas (“A Torre Mal-Assombrada”) em três dias - esse era um recorde para mim
na época. Um ano depois, felizmente, “Harry Potter” se tornou realmente
presente: aos 9 anos, resolvi ler o grosso volume de 702 páginas (quinto volume
da série) por curiosidade, e foi aí que minha paixão pela literatura e pelos
livros se tornou algo real. O mundo fantástico de bruxos do bem, entretanto,
trouxe a desvantagem de jamais me despertar a curiosidade para a Literatura
Brasileira. Ao conhecer a ficção atraente própria da literatura de massa
(literatura adorada por um grande número de pessoas, mas sem uma clara
utilidade social e histórica), não senti necessidade de conhecer Machado de
Assis ou José de Alencar, sendo que meu desinteresse e ignorância para com
esses clássicos aconteceu por meio das leituras obrigatórias escolares - esse
fato, infelizmente, não impediu que “a pouca familiaridade com o assunto me
causasse incompreensão” (conforme KLEIMAN, 1995). Não sabendo do prejuízo que a
ausência de Literatura Brasileira me causaria, após “Harry Potter” continuei
lendo outros livros da literatura de massa, como “Clara Rosa”, “Percy Jackson”
e “Poderosa”.
Conforme
ROTTAVA (2000), “a leitura como prática social responde a certos interlocutores
e vincula-se aos propósitos do leitor, os quais se definem no contexto social
conforme expectativas sociais”. Minha expectativa social era apenas a diversão,
mas algumas reviravoltas me esperavam. Aos 14 anos, já habituada a ler apenas
pelo prazer que as palavras me proporcionavam, no primeiro ao do ensino médio
conheci livros que me causam orgulho e satisfação. Até os meus 17 anos, conheci
Ulisses e sua Odisseia, vi Gregor Samsa se tranformar em um inseto e morrer em
“A Metamorfose”, acompanhei “Cem anos de Solidão”, vi o desespero e muita
realidade em “Ensaio sobre a cegueira”, conheci a estranha mente de Macabeia em
“A Hora da Estrela”, entre outros títulos que me ajudam a escrever com
facilidade e prazer e que me possibilitaram conhecer palavras (e valores)
novos.
Hoje,
sei que os livros fizeram de mim uma pessoa melhor instruída e com diferentes
visões sobre o mundo (“Ensaio sobre a cegueira” me mostrou que a realidade pode
ser cruel, por exemplo). Mais que tudo, sei que a identidade de leitora já me é
intrínseca e que sem os livros, eu jamais seria tão feliz como sou hoje.
Referências:
ROTTAVA, Lucia; A
importância da leitura na construção do conhecimento In Espaços da Escola; ano
9, n.35, p.11-16, 2000.
ROTTAVA, Lucia. A
leitura em contexto acadêmico: o processo de construção de sentidos de alunos
do primeiro semestre do curso de Letras In Signo; v. 37, n.65, p.160-179; Santa
Cruz do Sul, jul.-dez., 2012.
KLEIMAN, Angela; Texto
e Leitor: aspectos cognitivos da leitura/Angela Kleiman, 4ª edição. Campinas,
SP; Pontes, 1995.
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