1ª Versão
Por Aluno 33
A
leitura mudou a minha vida completamente. Ter criado intimidade com os livros
desde a infância me possibilitou ter acesso a uma diversão saudável que
desenvolveu meu senso crítico e minhas capacidades de compreensão e escrita -
tendo sido essas consequências tão benéficas que me é difícil pensar em alguma
desvantagem que o hábito da leitura possa me ter causado.
É
importante ressaltar que a leitura se tornou parte do meu ser principalmente
devido à influência de uma família materna leitora. Minha avó, minhas tias e
minha mãe sempre tinham livros espalhados pela casa, os quais liam
apaixonadamente, e eu, mesmo sendo uma criança interessada em bonecas e
brinquedos como qualquer criança normal, registrava inconscientemente esse
hábito na memória. Assim, não foi surpreendente a presença de livros da
literatura infantil já na primeira infância: as tantas coleções de livros que
começavam pela clássica frase “Era uma vez” me eram normais, assim como as
leituras em voz alta que minha mãe fazia - o gosto pela literatura era para mim
algo natural.Assim, minha família não deixou “somente para a escola o papel de
despertar, incentivar e motivar a leitura” (conforme ROTTAVA, 2000)
Meu
contato mais marcante com o mundo literário começou aos 6 anos, por meio das
revistas em quadrinhos da Turma da Mônica. Nessa época, minhas prateleiras,
então repletas de brinquedos, ganharam centenas de “gibis” (outra denominação
para as tais revistas), e eu me descobria encantada por aquele universo
colorido com balões e letrinhas.
Após
centenas de gibis lidos, eu conhecia um grande número de personagens do
Maurício, e suas histórias já me eram previsíveis (mas não menos estimadas).
Entretanto, decidi me aventurar a leituras mais densas, e minha primeira
tentativa foi com o primeiro volume da série “Harry Potter”. No entanto, não
conheci o mundo mágico de bruxos em 2004, e o livro emprestado apenas acumulou
poeira na minha estante, enquanto eu lia volumes mais modestos como “A Torre
Mal-Assombrada”. Um ano depois, felizmente, “Harry Potter” se tornou presente
de verdade: aos 9 anos, resolvi ler o grosso volume de 702 páginas (quinto
volume da série) por curiosidade, e foi aí que minha paixão pela literatura se
tornou algo real e parte crucial da minha vida. O mundo fantástico de bruxos do
bem, entretanto, trouxe a
desvantagem de jamais
me despertar a curiosidade para a Literatura Brasileira. Ao conhecer a ficção
atraente própria daliteratura de massa (literatura adorada por um grande número
de pessoas, mas sem uma clara utilidade social e histórica), não senti
necessidade de conhecer Machado de Assis ou José de Alencar, sendo que meu
desinteresse e ignorância para com esses clássicos aconteceu por meio das
leituras obrigatórias escolares - o que, infelizmente, não impediu que “a pouca
familiaridade com o assunto me causasse incompreensão” (conforme KLEIMAN,
1995).
Após
meu encanto por Harry Potter, continuei minha jornada literária com outros
livros juvenis, como a série “Clara Rosa”, “Percy Jackson” e “Poderosa”.
Surpreendentemente, a literatura de massa me possibilitou legados
significativos: escrever se tornou um hobbie natural, e a satisfação que eu
sentia ao escrever se revelou uma aptidão reconhecida por todos os meus
professores na escola.
Conforme
ROTTAVA (2000), “a leitura como prática social responde a certos interlocutores
e vincula-se aos propósitos do leitor, os quais se definem no contexto social
conforme expectativas sociais”. Minhas expectativas sociais eram apenas a
diversão, mas algumas reviravoltas me esperavam. Aos 14 anos, já habituada a
ler apenas pelo prazer que as palavras me proporcionavam e sendo uma aluna no
primeiro ano do ensino médio, conheci uma literatura que me proporcionou
orgulho e satisfação ao conhecê-la. Até os meus 17 anos, conheci Ulisses e sua
Odisseia, vi GregorSamsase transformar em um inseto e morrer em “A
Metamorfose”, acompanhei “Cem anos de solidão”, vi o desespero e muita
realidade em “Ensaio sobre a cegueira”, conheci a estranha mente de Macabeia em
“A hora da estrela”,entre outros títulos que acrescentaram valor ao meu
pensamento crítico e ao meu conhecimento literário e que me ajudaram a amar
ainda mais o ato de escrever.
Posso
dizer com muita certeza que a bagagem literária que tive durante o ensino médio
me transformou como a série Harry Potter tinha feito anos antes. Foi escrevendo
provas extensas sobre os livros lidos que percebi que escrever era algo que me
fazia um bem enorme, e foi concomitantemente à leitura desses volumes que
descobri a gramática e minha facilidade com essa. Mais que qualquer outra
certeza, sei que tudo o que li e todos os mundos que descobri nos livros me
encaminharam para a faculdade de Letras, curso no qual sou tão feliz e
realizada hoje - mesmo com eventuais inseguranças e mais leituras obrigatórias
do que parece humanamente possível ler. Hoje, sei que uma identidade já me é
intrínseca: a identidade de leitora.
Referências:
ROTTAVA, Lucia; A
importância da leitura na construção do conhecimento In Espaços da Escola; ano
9, n.35, p.11-16, 2000.
ROTTAVA, Lucia. A
leitura em contexto acadêmico: o processo de construção de sentidos de alunos
do primeiro semestre do curso de Letras In Signo; v.37, n.65, p.160-179; Santa
Cruz do Sul, jul.-dez., 2012.
KLEIMAN, Angela; Texto
e Leitor: aspectos cognitivos da leitura/Angela Kleiman, 4ª edição. Campinas,
SP; Pontes, 1995.
Nenhum comentário:
Postar um comentário