1ª Versão
Por Aluno 42
Por Aluno 42
“
A leitura deve provocar no leitor uma reação. Essa, por sua vez, permitirá que
sejam emitidas opiniões, pois aceitar ou recusar um tema ou um assunto é,
muitas vezes, o ponto de partida para a construção do conhecimento”
Lucia
Rottava
Introdução
Escrever um memorial de
leitura tem sido um tanto quanto difícil, por ter que buscar lembranças do que
se acreditava perdido, esquecido.
Segundo Maria
Divanira ( 2007, p.2), “ Memorial é um
gênero textual que registra trajetórias de vida” e ainda que: “ [...] acompanha
o caminhar de alguém[...], aspectos que marcaram sua trajetória[...]”.
Para compor este
memorial, busquei a partir dos conceitos acima, trazer fatos relevantes e histórias
que julguei importantes para minha formação enquanto leitora.
As histórias em quadrinhos da Turma da Mônica
e do Chico Bento, as fábulas da Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho também
fizeram parte da minha infância. Na adolescência, O Presente precioso, de
Spencer Johnson foi o mais marcante. Um livro de poucas páginas, com letras
grandes e que contava a história de um rapaz e de um velho que o ensinara o
valor do presente, do hoje, do agora.
O Presente
Precioso não é uma coisa que alguém lhe dá. É um presente que você dá a si mesmo. O rapaz estava
confuso, mas determinado. Resolveu descobrir o Presente Precioso por si mesmo.
E assim…Arrumou as malas e partiu de onde estava. E foi a outros lugares, a
procura do Presente Precioso. Ele não sabia porque aconteceu. Apenas…aconteceu!
Ele compreendeu que o Presente Precioso era apenas isso: O PRESENTE. Não o
passado, nem o futuro, mas o PRESENTE PRECIOSO. E em um instante, o homem foi
feliz! Compreendeu que estava no Presente Precioso. Ergueu as mãos triunfante
para o ar fresco. Estava alegre[…] ( JOHNSON, 1994 ).
Lembro-me que na
leitura desta obra, apaixonei-me pelo vocábulo DÁDIVA, que desde de então,
juntamente com saudade, é minha palavra predileta da língua portuguesa. Não
recordo como essa obra chegou até mim, ou como cheguei até ela. Mas foi de suma
importância na minha trajetória de leitora.
A
família
Sendo a família a entidade responsável pela
socialização primária, acredita-se que antes mesmo da escola, seja ela a
primeira responsável por introduzir os filhos ao mundo da leitura; sendo a
escola então, responsável pela socialização secundária.
Meu pai mal sabia
escrever o próprio nome, mas lia. Por diversas vezes o vi sentado com seus
livrinhos de bang bang e faroeste; as páginas eram meio amareladas, pareciam
recicladas. Minha mãe, não havia terminado o ensino fundamental, que na sua
época era chamado de curso ginasial, quase não lia, exceto a bíblia e suas deliciosas
receitas culinárias. No entanto me presentearam certa vez com uma bíblia
infantil, que tinha cerca de cinquenta páginas, era colorida e cheia de figuras
e a capa era vermelha.
Apesar da situação
familiar, os pais sempre torceram e incentivaram seus cinco filhos ao estudo.
Desejavam que fossem “mais”; que jamais deixassem de estudar, chegando ao nível
superior e a uma formação que eles mesmos não puderam ter. Batalharam para que
o material escolar, cadernos, livros e mochilas não faltasse. Foram os
incentivadores primeiros dos filhos. Sobre o papel da família, Lúcia Rottava em
seu artigo que trata da importância da leitura, expressa o seguinte:
[...] a família
também não deve deixar somente para a escola o papel de despertar, incentivar e
motivar a leitura. Grande parte dessa responsabilidade é também dos pais, que
devem proporcionar aos seus filhos o acesso às publicações e incentivá-los à
leitura. Além disso a família precisa ter presente a ideia de que a leitura
perpassa todas as ações e tarefas realizadas dentro de casa, tais como ler o
rótulo de um alimento, ler um manual de instrução, uma revista ou jornal,
dentre outras, bem como incentivar à prática constante da escrita. (ROTTAVA,
2000, p. 13).
A escola
Meu percurso escolar
deu-se em escola pública e, enquanto leitora iniciou-se na primeira série. Lembro-me
perfeitamente da cartilha, que eram os livros didáticos com os quais as
crianças eram ensinadas a formarem palavras juntando sílabas; eram ilustradas e
coloridas. Diferentemente de outras turmas, do primário, éramos nós, a primeira
série, a única turma com um professor homem. Ele se chamava Júlio César; um
homenzarrão de quase dois metros de altura e de uma doçura incontestável.
Jamais o esqueci.
Da cartilha, o que mais
gostava de ler e cantar era o texto ”O cravo e a rosa”; bem musical, fora usado
para que a turma aprendesse os encontros consonantais (br e cr) e a letra (r).
Assim era o pequeno texto: “ O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada.
O cravo saiu ferido e a rosa despedaçada; [...] o cravo teve um desmaio e a
rosa pôs-se a chorar.”
A leitura e a escrita
faziam parte dos meus entretenimentos prediletos desde a infância. Na
adolescência, escrever poesias nos diários coloridos e cheirosos (coisas de
adolescentes dos anos 90) fora um dos meus passatempos favoritos. A caligrafia
tornou-se importante, pois no diário minha letra teria que ser bem redondinha e
bonita. Lucia Rottava diz o seguinte a respeito da prática da leitura e da
escrita:
Ler e escrever são particularmente
indissociáveis pois podem ser vistos como evento social, no qual os leitores,
do mesmo modo como os escritores, compartilham pensamentos e ideias e,
particularmente objetivos afins que os constituem também produtores de
conhecimento. (ROTTAVA, 2000, p. 14).
Apesar do gosto pela
leitura, à medida que a adolescência foi chegando, os gibis e as fábulas foram
ficando de lado. Lia somente o que era necessário para os trabalhos escolares e
para as provas. As leituras obrigatórias de autores renomados como Gonçalves
Dias e Machado de Assis eram maçantes para uma adolescente do ensino médio.
Nessa época surgiram os
poemas e através de Luís Vaz de Camões conheci “Amor é fogo que arde sem se
ver.” Decorei o soneto e não cansava de recitá-lo, mesmo sem saber o que
significavam aquelas metáforas. Na adolescência então, preferi poemas a
romances, graças a Camões. Através deste poema de amor, meus pensamentos
divagavam através das metáforas.
Lê-se para
deleite pessoal, fruição, entretenimento, como quando se pega um livro ou uma
revista e deixa-se que o pensamento flua sem nenhum compromisso ou objetivo
além do prazer de ser e de experimentar situações, ambientes, acontecimentos. (BRITO,
2012, p. 29).
Foi então através dos
poemas que, na adolescência pude “experimentar situações de prazer” com a
leitura.
Ensino
Superior
Se no ensino médio as
leituras obrigatórias eram poucas e o tempo era demasiadamente muito,
atualmente no ensino superior, ocorre o inverso: muitas leituras para pouco
tempo. Algo bom também aconteceu: como leitora aprendi a gostar e deleitar-me
nos romances e não somente nos poemas.
Romances, contos,
poemas, ensaios, crônicas são lidos aos montes na faculdade de letras e fazem portanto
parte do meu cotidiano, já que sou aluna deste curso, na UFRGS. Claro que não
gosto de tudo o que preciso ler, mas gosto de tudo sim, no sentido de que gosto
um pouco de cada estilo. Gostando ou não, a obrigação prevalece sobre o gosto.
A maturidade ensinou-me
a ter mais comprometimento com aquilo que desejo, sonho e quero. Angela Kleiman
tem a dizer o seguinte:
O gosto não é a
manifestação de determinações biológicas ou genéticas nem fruto de uma
aprendizagem autodirigida e imanente; gosto se aprende, se muda, se cria, se
ensina[...]. Inevitável, contudo, é viver a contradição: estimular a livre
escolha não é errado, mas tampouco é a totalidade; certamente, é errado dizer
que o que o leitor escolhe é bom e basta; a promoção da leitura não pode
submeter-se ao mimetismo do imediato, devolvendo a cada um o que lhe já é
conhecido; ela precisa buscar um diferencial- a potencialidade de abrigar o
conhecimento humano. [...] A especificidade da leitura está na condensação de
conteúdos, na atitude reflexiva introspectiva de exame de si e das coisas com
que interage, no auto controle da ação intelectual. E, também, vale a pena
repetir, na inclusão do sujeito num determinado “modo de cultura” e na
disseminação de hábito, práticas e forma de cultura mais densas e elaboradas. (KLEIMAN,
2004, p. 29-31).
No ensino superior, já
tive a oportunidade de conhecer e aprofundar-me em obras de autores consagrados
mundialmente. Leituras mais densas, consideradas um tanto quanto difíceis, mas
sem deixarem de ser gratificantes, fazem parte da rotina diária de uma
estudante de letras; como os poemas de Graciliano Ramos, Manuel Bandeira,
Marina Colasanti e Clarice Lispector; Em busca do tempo perdido, de Marcel
Proust; Memórias do subsolo, de Dostoiévski; Lucíola do José de Alencar; Bodas
de sangue, de Federico Garcia Lorca; Cem anos de solidão, de Gabriel García
Marques; Madame Bovary de Gustave Flaubert; entre outros que vem marcando minha
trajetória universitária e enriquecendo-me culturalmente.
Considerações
finais
A leitura é uma das
formas de busca de conhecimento. Enquanto houver vida essa busca não acaba
jamais.
Ao reportar-me para um
passado não muito distante, vejo o quanto a leitura foi capaz de
proporcionar-me conhecimento, liberdade de expressar-me com convicção e
confiança. Enquanto cidadã do mundo, sinto-me cada dia mais dinâmica e consciente.
Entende-se a leitura como uma forma de inserção social e cultural; mas para que
isso ocorra de maneira completa, é necessário que leitura e compreensão ocorram
concomitantemente.
Referências
Bibliográficas
ARCOVERDE, M. D. L. et
al. Produzindo gêneros textuais: o memorial, 22 ed, Campina Grande; Natal,
2007, p. 1-12.
BRITTO, L. P. L.
Nuances: estudos sobre a educação, Ano XVIII, v.21, n. 22, jan./ abr. 2012, p.
18-32.
GASPAR, M. M.G. S. et
al. Memorial- Gênero textual (auto) biográfico, mundo, p.13
KLEIMAN, A. B, Abordagens da
leitura, Scripta, Belo Horizonte, v.7, n. 14, 2004, p. 13-22.
ROTTAVA, L. A leitura e a escrita na
construção do conhecimento. Espaços da Escola, Ijuí, Editora Unijuí, a. 9, n.
35, jan. / mar. 2000, p. 11-16.
____________. A leitura e a escrita na pesquisa e no ensino. Espaços da
Escola, Ijuí, Editora Unijuí, a. 4, n. 27, jan. / mar. 1998, p. 61-68.
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