1ª
Versão
Por Aluno 20
O inicio dos estudos ao ingressar na universidade é algo curioso e
evolutivo porém antes da vida acadêmica, em teoria, vive-se onze anos de ensino
escolar. Nas séries primárias, por costume, o aprendiz recebe todas as
informações necessárias para lidar com as primeiras palavras, números, imagens.
Após esse período, a escola desenvolve de forma separada cada disciplina, para
que tenhamos uma noção de mundo e um embasamento de conhecimento fundamental.
Já no ensino médio - três últimos anos escolares - acontece uma revisão e um
aprofundamento ainda maior de todo esse conteúdo. Durante esse tempo,
aprendemos a ler e escrever, lidamos com textos e fórmulas e construímos assim
nossos esquemas mentais elementares que elaboramos tanto no ambiente escolar,
como no familiar.
Sempre tive muito contato com a leitura desde os três anos. Aprendi a ler
e escrever com meus pais, o que fez com que eu tivesse certa facilidade e me
diferenciasse dos demais colegas nos meus primeiros anos escolares. Acredito
que esse incentivo que tive deles logo no inicio da minha vida, fez com que eu
tivesse um grande apreço pela escrita e leitura de qualquer coisa que eu
pudesse absorver dessa maneira. Segundo Rottava (2000), essa perspectiva
familiar é essencial para a compreensão e aprendizagem do ler e escrever:
“De
outra perspectiva, a família não deve deixar somente para e escola o papel de
despertar, incentivar e motivar a leitura. Grande parte dessa responsabilidade
é também dos pais que devem proporcionar aos seus filhos o acesso às
publicações e incentivá-los à leitura.” (ROTTAVA, Lucia. A Importância da
Leitura na Construção do Conhecimento, 2000. P. 13).
Compreendo, portanto, que por ter
recebido essa forma de educação, fui inserida na condição de estudante letrada,
de acordo com o que aborda Rottava (op.cit.):
“Saber
ler está muito mais ligado a ideia de letramento (...) letramento diz respeito
à condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva (dedica-se a
atividades de leitura e escrita) e exerce (responde às demandas sociais também
dessas habilidades) as práticas sociais que usam na escrita”. (ROTTAVA, Lucia.
A Importância da Leitura na Construção do Conhecimento, 2000. P. 12).
Assim, por existir esse ambiente
de incentivo e motivação nos dois lugares em que eu convivia – escola e família
– meus responsáveis sempre me estimularam a praticar o que aprendia, lendo e
escrevendo mais do que era solicitado em sala de aula. Desse modo, construí um
conhecimento muito amplo a cerca dos assuntos mais básicos da escola, e também
um gosto pela leitura, por achar que a escrita seria a melhor forma de
expressar qualquer coisa, desde conteúdos pragmáticos até sentimentos pessoais.
Dessa maneira, ao terminar os onze anos de ensino colegial, entrei na
universidade. E a partir desse momento a forma de lidar com as palavras mudou
um pouco e necessitou de uma atenção redobrada. Eu possuía noções de diversos
conteúdos, mas nada muito aprofundado. Logo, no ponto de vista de Rottava
(2000), o conhecimento prévio necessário para o entendimento de temas que ainda
não foram vivenciados, é ausente. E o aprendizado acadêmico exige experiência
prévia, dedicação e concentração nos textos muito maior, ainda mais por eu ter
escolhido cursar comunicação, área que possui inúmeros conceitos teóricos de
linguagem e expressão. Inicialmente, tive grandes dificuldades de compreensão
do que os textos estavam retratando, pois a linguagem utilizada, embora estivesse
abordando a comunicação que é fundamentalmente subjetiva e vivenciada
diariamente, era extremamente técnica e de um nível de estudo mais complexo. Por
isso, fui obrigada a debruçar-me mais sob os conteúdos, adquirindo uma postura
diferente no momento da leitura. Foi necessário então uma nova aprendizagem. Já
sabia ler, já possuía muitos conhecimentos de literatura, língua portuguesa e
história, mas todos eram conteúdos muito básicos os quais obtive no colégio. A
partir do meu primeiro semestre em Comunicação Social, precisei criar um novo
espaço em minha consciência para agregar conceitos e compreensões desse meio a
todos os conhecimentos que já existiam. Com o decorrer do curso, conhecendo
autores e suas idéias, comecei a criar esquemas mentais da idéia de cada um,
fazendo então relações com as comunicações diárias, por exemplo. E assim, os conteúdos acadêmicos, embora
complexos, tornam-se mais interessantes, uma vez que comecei a possuir um
conhecimento prévio e mesmo que não entendesse a ideia principal do conceito,
consigo fazer alguma relação geral, por já possuir uma “bagagem” de teorias da
comunicação.
Suponho que cada vez mais será possível realizar leituras acadêmicas com
níveis maiores de aprofundamento e discussão, já que diariamente adquiro experiências
relacionadas a temáticas de linguagem e comunicação por interagir com atividades nas quais estão
presentes esses temas de formas teóricas e práticas e do ponto de vista de
Kleiman (1995), só através desse contato do leitor com experiências vividas é
possível compreender inteiramente um assunto:
“A
compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização do
conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o
conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de
mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. É porque o leitor
utiliza justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a
leitura é considerada um processo interativo. Pode-se dizer com segurança que
sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá
compreensão”.(KLEIMAN, Angela. Texto e Leitor. Aspectos Cognitivos da Leitura.
1995, p.13)
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