sábado, 12 de julho de 2014

Variação Linguística

Reescrita
Por Aluno 14 e Aluno 45




Por que existe o preconceito linguístico?

            Ao entendermos que o mundo se constitui de diversas e diferentes etnias, culturas e grupos sociais, é possível perceber a importância de ensinar na escola a aceitação de cada uma delas. Em termos de língua, o importante é ensinar as variantes dela, juntamente com as regras, mas sem que se tornem algo imposto ao aluno, este tem o direito de escolher o que melhor se encaixa em seu contexto comunicativo. Existe uma ideia muito atrasada acerca da variação linguística, criticando o uso da linguagem informal, que não é prevista pela norma culta. Essa visão é causa grave de exclusão e preconceito.
         A linguagem pode ser dividida em dois níveis, o formal e o informal. O nível formal é o que mais se aproxima da escrita e da forma gramatical tradicional. Na fala, a aplicação da linguagem coloquial deslocada de contexto, pode acarretar em preconceito e muitas vezes em exclusão. A Professora de Inglês do quadro permanente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com doutorado em letras, Anamaria K. De Souza Welp, acredita que isto se deve a desinformação e conservadorismo.
         Ana diz que a própria língua portuguesa é uma variação do Latim.  “São modificações pelas quais a língua vai passando e que acontecem naturalmente, em todas as línguas”, explica a professora, “Mesmo dentro de uma comunidade linguística existem variedades de uma mesma língua”.  Não há motivos para discordar de tão notório fato, pois se prestarmos atenção, cada vez que conversamos com alguém nos comunicamos de formas diferentes. Depende do contexto e no objetivo da conversa. Para Welp, a escrita é na verdade uma representação da fala e apresentam formas autênticas, como a linguagem da internet, do ‘’Facebook’’ e do ‘’Whatsapp’’, linguagens mais próximas da fala na sua flexibilidade.
                 Anamaria também defende a importância de tratar do assunto da variação linguística em sala de aula, para evitar estereótipos e pré-julgamentos. “A dificuldade de aceitar e entender a variação é a responsável pela disseminação de preconceitos sociais e por comunidades linguísticas perdendo a vez na sociedade, que são prejudicados pela maneira que falam, porque existem variedades de mais prestígio do que outras”, diz a professora Welp. Para ela, “a questão do prestígio é colocada culturalmente, sendo que a maioria da população se expressa por dialetos próprios das comunidades de fala nas quais estão inseridas”. Existe a chama variação dialetal ou diatópica, em que ocorre diferença no entendimento e compreensão de algumas palavras pelo sentido que adquirem em cada região, como no caso do aipim, “mandioca’’ em alguns lugares do nosso país e em outros, ‘‘macaxeira’’. A variação diastrática ocorre em comunidades sociais com pessoas de diferentes acessos à educação formal, prejudicando o reconhecimento de seus falantes em outras comunidades, consideradas falantes da linguagem de mais prestígio, dificultando sua vida estudantil e profissional.
         Quando questionada sobre o motivo do preconceito linguístico, a educadora destacou, além da ignorância acerca do assunto, o conservadorismo, apego a língua culta e de prestígio. Esse conservadorismo desconhece que mesmo no uso mais formal a língua sofre o efeito da variação, exemplificado em palavras como o pronome de tratamento “você”, uma derivação que lentamente surgiu de “vossa mercê”. “Existe uma distância enorme entre a língua culta que falamos hoje e a de dois séculos atrás e as pessoas não entendem que a variação é uma consequência natural da interação”, diz a professora, para quem a função primeira da língua é possibilitar a interação social.
         Através da língua nos expressamos e explicamos o mundo a nossa volta, categorizando nossas descobertas e trocamos informações. É através da comunicação que nos diferenciamos, portanto, Ana Welp destaca que “até mesmo indivíduos que convivem no mesmo meio social apresentam diferenças próprias das suas características de fala e personalidade, são as variedades idioletais”, explica ela. Logo, cada interação de indivíduos e culturas pode gerar variação da linguagem, na medida em que sofre influência externa. Isso é bom, pois a língua é um organismo vivo e na mudança ela se perpetua. Um bom falante deve saber interagir com vários tipos de falantes e em vários tipos de situação, tendo flexibilidade para se adaptar a cada uma, isso se chama variação diafásica. A professora de língua inglesa utiliza-se de uma metáfora para explicar o bom uso da língua, ela compara com a escolha de uma roupa: “o que é adequado para um contexto pode ser completamente inadequado para outro”.
         A opinião da professora Anamaria Welp, junto a muitas outras, dão voz a um momento de disseminar um novo olhar ao entendimento da língua, quebrando estigmas que já não correspondem a realidade. Em uma era de combate direto ao preconceito, é preciso expor a luz do conhecimento uma questão importante como a discriminação por motivo da linguagem. Propondo aceitar melhor todas as manifestações da nossa língua em seus espaços, assim como a todos os falantes, independente de cultura, língua ou comunidade social, é preciso incentivar nas escolas a aceitação de todas as formas de expressão.
De acordo com o que a Secretaria da Educação coloca nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa (1998, p.31):

No ensino-aprendizagem de diferentes padrões de fala e escrita, o que se almeja não é levar os alunos a falar certo, mas permitir-lhes a escolha da forma de fala a utilizar, considerando as características e condições do contexto de produção, ou seja, é saber adequar os recursos expressivos, a variedade de língua e o estilo às diferentes situações comunicativas: saber coordenar satisfatoriamente o que fala ou escreve e como fazê-lo; saber que modo de expressão é pertinente em função de sua intenção enunciativa, dado o contexto e os interlocutores a quem o texto se dirige. A questão não é de erro, mas de adequação às circunstâncias de uso, de utilização adequada da linguagem.


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