1ª Versão
Por Aluno 29
Meus
pais sempre ficaram entusiasmados com a minha vontade de fazer um intercâmbio.
Não sei se é para se orgulharem de dizer que têm um filho no exterior ou porque
queriam se livrar de mim por um tempo. Esse interesse por estudar no exterior
vem desde o ensino médio, mas sabia que não era o melhor momento. Os custos são
altos, e na faculdade poderia estudar algo mais focado na minha área.
Sendo
assim, meus pais sempre tiveram os ouvidos atentos a qualquer notícia, na televisão
que fosse, sobre intercâmbios. Era até um pouco incômodo estar no meu quarto e
ouvir a minha mãe gritar: “Matheus, corre aqui!” e quando eu fosse descobrisse
que era a Sandra Annenberg falando de algum estudando excepcional com padrões
inalcançáveis que tinha ganhado bolsas em Yale, Harvard e mais uma meia dúzia
de universidades renomadas dos EUA. A notícia contava que ela estava indo lá
para conhecer as universidades que a chamaram e escolher a que mais lhe
agravava. Minha mãe queria que eu entrasse em depressão, eu acho.
Uma
vez, meu pai sobre que um estadunidense estaria num colégio divulgando a sua
universidade, a Azusa Pacific University, na Califórnia. Não estava muito
animado para ir por não acreditar que conseguiria algo, mas com a insistência
do meu pai resolvi escutar o que o homem tinha a dizer. Fomos à palestra e a
universidade parecia exatamente o que eu esperava. Ainda lembro a música que
tocava no vídeo de divulgação, um ritmo forte e determinado que em sinergia com
as imagens de calouros chegando ao campus, se divertindo, conhecendo pessoas
novas, se alocando nos dormitórios compeliam qualquer um a desejar estar ali.
Dei-me
conta de que havia um curso que queria na época, Relações Internacionais; já
estava ansioso. No final da apresentação, meu pai me arrastou para conversar
com o estrangeiro que não falava uma palavra sequer de português. Olhei para
trás e só havia outros pais e senhores no auditório. Chamava a atenção por ser
o único adolescente, uns 16 anos na época.
Hesitei em falar com ele, mas
com o empurrãozinho do meu pai – literalmente – tomei coragem para me
apresentar. Começamos a falar em inglês, e ele se impressionou com a minha
fluência e se interessou bastante em mim. Saímos da sala e descemos as escadas
conversando. Pareciam intermináveis aquelas escadas. Não lembro exatamente o
que lhe disse, estava em modo automático, as palavras só me saíam. Chegamos à
porta de saída. Que alívio! Quando íamos nos despedir, me disse que queria que
marcássemos uma entrevista por skype, e assim o fizemos.
Passados alguns dias, lá
estava eu recebendo a chamada por skype. Conversamos por bastante tempo, me
explicou melhor como funcionava a entrada de estrangeiros na sua universidade e
de como queriam que mais jovens estivessem dispostos a estudar no exterior.
Falou que no que dependesse dele eu conseguiria a vaga. Fiquei muito feliz,
embora soubesse que não davam bolsa integral. Se não me engano, era de 40%, e
mesmo se eu trabalhasse no campus seriam quase 50 mil reais por ano só para
pagar as mensalidades.
Fiquei bastante decepcionado.
Disse-lhe que pensaria no assunto, mas já tinha certeza de que não poderia. A
maior decepção foi porque não estava esperando nada disso. Não foi escolha
minha ter ido à palestra e criar expectativas. Agora tudo se me escapava das
mãos, e eu nem tinha tentado pegar nada!
Apesar de um pouco frustrado,
hoje entendo que foi para o melhor. Quem sabe se tivesse buscado mais auxílios
tivesse ido para lá, mas receio que teria me arrependido, visto que percebi que
não era bem o curso que queria e teria gasto o meu tempo e dinheiro em vão.
Além do mais, minha preferência sempre foi por um país frio, como o Canadá ou
norte da Europa, não as praias da Califórnia. Sei, entretanto, que ainda terei
oportunidades de estudar numa universidade estrangeira e sou paciente para
esperar que seja o lugar que melhor me convenha. Aprendi que cada coisa tem o
seu tempo de se suceder e que aguardar, às vezes, é melhor do que agir
precipitadamente.
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