sábado, 12 de julho de 2014

Luz sobre os tons da Literatura

1ª Versão
Por Aluno 28


Em recente visita ao estado, o professor e escritor amazonense, Milton Hatoum, proferiu um curso na capital, onde discorreu sobre: “A invenção Literária – histórias secretas de um romancista”. Em um determinado momento, num tom muito informal, o professor demonstrou sua incredibilidade na hipótese de que leitores de literatura, como os 50 Tons de Cinza e/ou de livros do Paulo Coelho, possam passar a serem leitores de uma literatura mais culta e academicamente bem aceita, sem que passem por um processo educacional específico.

 A literatura é regida por um sistema de castas, onde a mobilidade é reduzida e definida pelo grau de escolaridade do leitor?

A escritora gaúcha, Maria da Graça Rodrigues (foto), comentou, com estranhamento, a declaração do ilustre amazonense: “embora leitora e fã do Milton, me permito discordar de sua afirmação (...)as pessoas não podem ser divididas assim. Uma vez tendo capacidade de abstração e atenção, o sujeito poderá evoluir para todo e qualquer tipo de literatura. A mobilidade literária é natural. Se o indivíduo não sente gosto pela literatura, tudo será sacrifício e nem as melhores escolas poderão mudar esta sua característica”.
Já sobre a estratificação dos níveis de literatura, a autora gaúcha parece concordar com Hatoum:                              
 “Entre Dostoievski e Paulo Coelho há um leque imenso de níveis, e cabe aos críticos classificar e julgar”, mas conclui, “aos, como eu, leitores comuns, cabe apenas abrir a primeira página, dar uma lida, folhear o livro que tem em mãos, e decidir, por sua conta e risco se segue em frente com a leitura ou não.”
Suzana Bins, professora de literatura, e vencedora do premio RBS de educação de 2013, compartilha a ideia do professor Luis Augusto Fischer, quando ele diz que “para ser um leitor maduro, é preciso frequentar o melhor que a humanidade já produziu ao longo do tempo.” (“Filosofia Mínima”, 2011.) Suzana também salienta: “Um bom livro é aquele que não faz o leitor de burro, que não explica timtim por timtim o que esta acontecendo, que não retira o subtexto por pensar que o leitor não será capaz de percebê-lo.” Suzana acredita que livros como 50 Tons de Cinza, por exemplo, são livros mal escritos, que não deixam o leitor pensar, não só no sentido da busca do subtexto, mas também porque não suscitam no leitor reflexões a cerca de si mesmo e do mundo.

Toda a leitura deve levar à reflexão?  E o prazer de ler só pelo entretenimento?

“Não se pode desmerecer uma obra, por mais fantasiosa, piegas e novelesca que ela possa ser”- Opina a empresária e participante de um grupo de leituras há 6 anos, Alzira Campos. “A marginalização desta dita sub-literatura, só vem contra os leigos e iniciantes, que podem vir a colocar em dúvida sua auto-estima e capacidade intelectual, enquanto leitor que aprecia uma literatura estigmatizada pela elite intelectual.  Acredito muito que este tipo de literatura pode atrair, ensinar e despertar o interesse a outras literaturas, como vem acontecendo    com os jovens leitores de ‘Harry Potter’ e da saga ‘Crepúsculo’, por exemplo”  E conclui, parafraseando o poeta: “Toda a forma de leitura, vale amar.”
Livros que seguem fórmulas comerciais para tornarem-se produtos de consumo, ou simplesmente ingênuos, são também formas de se trocar idéias, fantasias, emoções através da palavra. A prática, a educação e a cultura, permitem que os leitores possam atentar-se para o refinamento da forma e para toda a riqueza que pode proporcionar a arte da literatura. É certo que um mundo em que todos que lessem “50 tons de cinzas” virassem leitores de “Grande Sertão Veredas”, é uma utopia, porém, os formadores de opinião, antes de fazer uma ditadura do que é “bom”, ou do que é “ruim”, deveriam preocupar-se em estimular a curiosidade e o afinamento do olhar.
    

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