1ª Versão
Por Aluno 28
Em
recente visita ao estado, o professor e escritor amazonense, Milton Hatoum,
proferiu um curso na capital, onde discorreu sobre: “A invenção Literária –
histórias secretas de um romancista”. Em um determinado momento, num tom muito
informal, o professor demonstrou sua incredibilidade na hipótese de que
leitores de literatura, como os 50 Tons de Cinza e/ou de livros do Paulo
Coelho, possam passar a serem leitores de uma literatura mais culta e
academicamente bem aceita, sem que passem por um processo educacional
específico.
A literatura é regida por um
sistema de castas, onde a mobilidade é reduzida e definida pelo grau de
escolaridade do leitor?
A
escritora gaúcha, Maria da Graça Rodrigues (foto), comentou, com estranhamento, a
declaração do ilustre amazonense: “embora
leitora e fã do Milton, me permito discordar de sua afirmação (...)as pessoas
não podem ser divididas assim. Uma vez tendo capacidade de abstração e atenção,
o sujeito poderá evoluir para todo e qualquer tipo de literatura. A mobilidade
literária é natural. Se o indivíduo não sente gosto pela literatura, tudo será
sacrifício e nem as melhores escolas poderão mudar esta sua característica”.
Já
sobre a estratificação dos níveis de literatura, a autora gaúcha parece
concordar com Hatoum:
“Entre Dostoievski e Paulo Coelho há um leque
imenso de níveis, e cabe aos críticos classificar e julgar”, mas conclui, “aos,
como eu, leitores comuns, cabe apenas abrir a primeira página, dar uma lida,
folhear o livro que tem em mãos, e decidir, por sua conta e risco se segue em
frente com a leitura ou não.”
Suzana Bins, professora de literatura,
e vencedora do premio RBS de educação de 2013, compartilha a ideia do professor
Luis Augusto Fischer, quando ele diz que “para
ser um leitor maduro, é preciso frequentar o melhor que a humanidade já
produziu ao longo do tempo.” (“Filosofia Mínima”, 2011.) Suzana também salienta: “Um
bom livro é aquele que não faz o leitor de burro, que não explica timtim por
timtim o que esta acontecendo, que não retira o subtexto por pensar que o
leitor não será capaz de percebê-lo.” Suzana acredita que livros como 50 Tons
de Cinza, por exemplo, são livros mal escritos, que não deixam o leitor pensar,
não só no sentido da busca do subtexto, mas também porque não suscitam no
leitor reflexões a cerca de si mesmo e do mundo.
Toda a leitura deve
levar à reflexão? E o prazer de ler só pelo entretenimento?
“Não
se pode desmerecer uma obra, por mais fantasiosa, piegas e novelesca que ela
possa ser”- Opina a empresária e participante de um grupo de leituras há 6
anos, Alzira Campos. “A marginalização desta dita sub-literatura, só vem contra
os leigos e iniciantes, que podem vir a colocar em dúvida sua auto-estima e
capacidade intelectual, enquanto leitor que aprecia uma literatura
estigmatizada pela elite intelectual. Acredito
muito que este tipo de literatura pode atrair, ensinar e despertar o interesse
a outras literaturas, como vem acontecendo com os
jovens leitores de ‘Harry Potter’ e da saga ‘Crepúsculo’, por exemplo” E conclui, parafraseando o poeta: “Toda a
forma de leitura, vale amar.”
Livros
que seguem fórmulas comerciais para tornarem-se produtos de consumo, ou
simplesmente ingênuos, são também formas de se trocar idéias, fantasias,
emoções através da palavra. A prática, a educação e a cultura, permitem que os
leitores possam atentar-se para o refinamento da forma e para toda a riqueza
que pode proporcionar a arte da literatura. É certo que um mundo em que todos
que lessem “50 tons de cinzas” virassem leitores de “Grande Sertão Veredas”, é
uma utopia, porém, os formadores de opinião, antes de fazer uma ditadura do que
é “bom”, ou do que é “ruim”, deveriam preocupar-se em estimular a curiosidade e
o afinamento do olhar.
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