Reescrita
Por Aluno 11
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”
Luís de Camões
A mudança ou “evolução” – sem juízo de valor – é
um fato inevitável pelo homem, como fica evidente no soneto acima do, sem
dúvidas, maior poeta lusitano. Somos seres dinâmicos, que constantemente
procuram formas novas de fazer coisas velhas. A língua talvez seja um dos
exemplos mais antigos de como o ser humano está em constante mudança, adaptação
e evolução. Esta variedade linguística confere peculiaridades, regionalismos, a
possibilidade de identificação com um determinado grupo, particularidades do
falante ou grupo de falantes, dentre outras coisas. Enfim, a variação
linguística ajuda a garantir a diversidade social, e o mais importante, confere
ao indivíduo falante um sentimento de identificação no meio em que a sua
variante é usada. Portanto, é graças à variação linguística que somos únicos,
tendo nuanças especiais ao falar. Já pensou que chato seria se todos nós
falássemos da mesma forma?
Entretanto, variações de “menor prestígio”, como
as faladas em periferias ou locais de baixa escolaridade e/ou baixa renda, são
vítimas de preconceito por usuários de uma variante de “maior prestígio”. Uma
parcela da sociedade brasileira já internalizou este tipo de conceito: quanto
mais distante da norma culta Joãozinho falar, mais “burro” ele será considerado
pela massa falante da norma culta, ou falantes próximos da mesma. Esse tipo de
preconceito é real e presente não somente em escolas, mas também no cotidiano
daqueles que já não frequentam as salas de aula. Se João fala de forma x ele será aceito em um grupo x, mas se fala de forma y será taxado como ignorante e expurgado
ao grupo da “ralé”. É uma dura realidade, mas é neste contexto que estamos inseridos.
A língua é um instrumento poderoso, tanto que não
há país sem antes haver um idioma fixado. Saber fazer o uso correto da língua,
a fim de que seja compreendida a sua intenção é necessário, porém isso não
significa que devemos contemplar a “variante de prestígio” em todo e qualquer
caso de discurso ou conversação. As diferentes formas de execução podem
“machucar” os ouvidos de usuários da norma culta, porém, sendo a língua veículo
de linguagem – comunicação – o objetivo é a compreensão. Portanto, se há
compreensão há manifestação de linguagem; linguagem esta que se dá através da
língua. Assim conclui-se que se a língua, independente de variante de mais ou
menos prestígio, desempenha seu papel de linguagem, consequentemente terá cumprido
a sua função final, que indubitavelmente é a comunicação/compreensão.
Em entrevista, ao ser perguntada se a variação
linguística pode ser considerada como um problema, a estudante do 3° ano do
ensino médio em escola público, Ana Paula Silveira, de 17 anos, afirma que não,
e que não vê a língua como um professor de português vê a mesma, reiterando a
ideia de que a língua apresenta nuanças do seu falante.
“[...] Ao meu ver isso não
é um problema, pois as pessoas falam de acordo com o meio: família, amigos e colgas.
A minha visão não é a visão de um professor de português, assim como a dele não
é a minha. ”
Logo, se o
falante muda a língua muda em conjunto. Ao contrário das línguas mortas, ou das
línguas artificiais, o Português não possui nada estático, mas sim manifesta-se
de forma extremamente dinâmica. O homem tem uma tendência de resistir às
mudanças, sejam elas da ordem que for, sempre é difícil para o homem aceitar
que algo que fora de um jeito até então, agora passa a ser de outro. Porém, são
justamente as mudanças, variações e a gama de variedades linguísticas que
contribuem para a individualidade, particularidade de um ser.
Portanto, já que a variação é tão importante,
podemos falar e escrever de qualquer forma? O extremismo nunca é bem-vindo, desta
maneira não afirme que a língua é livre e pode ser usada de qualquer modo.
Empenhe-se no aprendizado da norma culta e use-a sempre que necessário for.
Cabe a nós a faculdade do uso da variação, porém se não conhecermos e
dominarmos a variante, impossível será usá-la. Portanto, o estudo da norma
culta é essencial, mas isso não exclui o uso do coloquial, e nem deve. Em
diferentes situações podemos, e devemos, fazer a escolha da variante que
usaremos. Se estamos entre amigos não há problema se usarmos uma variação mais
coloquial, porém, em situações mais formais a exigência de um uso mais
assistido da norma é primordial por questões de contexto, respeito e até mesmo
de clareza e compreensão do enunciado.
Segundo a estudante Ana Paula, ao ser perguntada
se há juízo de valor circundando a língua e as variantes usadas ela reponde: “Sim,
pois quem fala errado é considerado burro [...]”. É contra isso que devemos lutar, pois o
preconceito linguístico está diretamente relacionado à classe econômica e
social do indivíduo, caracterizando desta forma uma discriminação não somente
de ordem linguística, mas contemplando outros tipos de preconceito.
Por fim, levanta-se a questão: como acabar com o
preconceito linguístico? A estudante apela para a conscientização do povo de
que a língua, assim como o país, é cheia de diversidades que devem ser
respeitadas e consideradas da mesma forma. Esta conscientização de que não há
variação melhor ou pior é a única saída para que tenhamos uma sociedade livre
de preconceitos linguísticos. Embora seja uma utopia acreditarmos que um dia
viveremos em mundo no qual não haverá preconceitos, devemos passar estes
valores de respeito a nossos filhos, alunos, amigos e colegas, a fim de
conferir à língua o seu valor real e primordial, a comunicação.
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