Reescrita
Por Aluno 15
É preciso estudar Literatura?
Essa pergunta já foi feita por diversos alunos a
professores e até mesmo para os pais. Quando em se tratando do ensino de
Literatura, sendo ela brasileira ou estrangeira, as opiniões a respeito de sua
relevância são extremamente heterogêneas. Existem os que acreditam que seja uma
enorme “perda de tempo”, que a Literatura, em si, não serve para nada; assim
como existem os que acreditam que a disciplina é de suma importância para o
conhecimento da realidade e história. A respeito dessa polêmica e segundo entrevista
feita com um jovem estudante da Universidade, ele afirma que: “Muitos tentam menosprezar o estudo da
literatura pela sua suposta ausência de aplicação direta e objetiva, mas
acredito que a disciplina é uma das maneiras mais eficientes de compreendermos
os processos históricos e sociais que se sucederam em diferentes contextos.”
Mas, afinal, é preciso ou
não é? Qual é a sua relevância?
O estudo da Literatura tem papel imprescindível quando em se
tratando da conscientização daquilo que nos tornamos com o passar do tempo,
através dos processos históricos, e da insidência sobre a formação do espírito
crítico, motor de toda evolução cultural. Menos sutil, a Literatura é mais uma
das artes de expressão livre em que o indivíduo pode se representar, dessa vez
na forma de palavras. Álvares de Azevedo, por exemplo, é um dos inúmeros
escritores que usou da Literatura como forma de devaneio, desabafo e refúgio de
sua condição. Vítima de tuberculose e morto aos vinte e um anos, fez da prática
literária um sonho: a vida que ele não teve tempo de conhecer, essa cheia de amores,
sexo, bebidas, e etc. Acerca desse tema, nosso entrevistado afirma que: “Por ser, como toda arte, fundamentada na subjetividade de seus autores,
a literatura é bastante autêntica: é capaz de documentar histórias e dilemas de
toda uma geração por meio de romances, contos e poesias.”
A Literatura faz, ainda, com que se
aguce a criticidade porque exercita o pensamento a respeito de outras épocas e
valores morais, para que assim se crie uma opinião. É inviável lermos As veias abertas da América Latina, de
Eduardo Galeano, e ficarmos apáticos, como latino americanos, com a exploração
espanhola e portuguesa em nossas terras. É impossível não florescer no leitor
algum sentimento: desde a raiva, até a revolta, a alegria ou a comoção. As
obras literárias têm a capacidade de envolver-nos. E, quando nos deixamos
envolver, é que nasce o espírito crítico, o questionamento. Por que aconteceu
dessa forma? O que eu penso disso? O que eu faço a partir de agora? Essas
perguntas ilustram a incomodação do leitor, e é esse incômodo que move o mundo,
a cultura de uma população inteira. Imagine-se na época em que foi lançado o
famoso Mein Kampf de Adolf Hitler. Um
sentimento denso de humilhação e revolta tomava conta da Alemanha naquela
época. Mediante essa atmosfera, recaiu sobre os indivíduos tal obra que os
estimulou a refletir sobre a atual condição vivida. O senso crítico dos alemãs
se aguçou de tal maneira que vivemos uma Segunda Guerra Mundial extremamente
atroz, que massacrou e matou milhões de pessoas. Hoje, possuímos discernimento
para vermos essa obra como um instrumento de persuasão cruel. Mas não para o
contexto da época. Nos dias atuais, não é muito diferente. Muitos livros caem
em nossas mãos e fazem com que passamos a viver de forma distinta. Os livros
têm o poder de mudar a história do mundo, desde Hitler até Karl Marx. É o motor
da nossa evolução cultural.
Para ilustrar a sua opinião, nosso entrevistado alega que: “A literatura é capaz de despertar o senso
crítico de maneira muito intensa, pois sua linguagem é artística, e manipula o
idioma afim de de despertar diferentes sensações no leitor. Dessa forma,
quaisquer denúncias ou críticas que sejam feitas atráves da literatura são
potencialmente mais impactantes do que outras mais formais.”
Finalmente, a Literatura é um dos meios
mais fiéis de se conhecer a realidade. Ela é e foi um meio extremamente eficaz
para que a história da humanidade fosse escrita. Muito do que está nos livros
didáticos de História é crédito da Literatura. Um dos exemplos mais conhecidos
e, ao mesmo tempo, mais relevante é a história da Grécia Antiga. Todo
conhecimento que possuímos sobre o período Clássico - o politeísmo, a crença em
deuses com forma humana e, até mesmo, a Guerra de Tróia - advém das obras de Homero. A Ilíada e A Odisséia são as únicas fontes de pesquisa para sabermos sobre
aquela época. É o nosso único instrumento. E apesar de, diversas vezes,
questionada a verossimilhança das obras não há, em todo o planeta, documento
que prove o contrário.
Há, ainda,
outros episódios, mais atuais, que não são contados através da História, e sim
da Literatura. É o exemplo do Massacre da Companhia Bananeira da United Fruit.
É muito provável que você nunca tenha ouvido falar nesse episódio e isso é
totalmente aceitável. Aliás e porque ele nunca apareceu em nenhum documento
histórico, e sim no livro Cem anos de
Solidão, do colombiano Gabriel García Márquez. Na obra, o personagem José
Arcádio Segundo estava em meio à multidão que sofreu o massacre, pois era
funcionário da Companhia United Fruit. No entanto, ele escapa com vida. Quando
retorna à sua casa e conta para sua família o que se passou, todos o contestam
dizendo que não houve nenhuma chacina, que nada foi noticiado. Seu testemunho,
então, é visto como o de um louco, nada confiável. Essa passagem da obra não
deixa de ser uma crítica de García Márquez aos historiadores, que silenciaram
esse episódio tão brutal por motivos políticos e etc.
Assim e
mediante esses exemplos, é possível ilustrar como os estudos literários podem
ser benéficos à formação de estudantes críticos e aguçados, capazes de
contestar situações da realidade com segurança e argumentação. Todavia, é
incontestável que a Literatura pode narrar com alguma manipulação, da parte de
alguns autores, e que nem sempre todos os episódios condizem, de fato, com a
realidade. É evidente que não podemos ser ingênuos a ponto de excluir
comprovações reais como imagens, documentos e etc. Em suma, o importante é não
deixar-nos alienar com opiniões pessimistas a cerca da disciplina de
Literatura, que é de suma importância em nosso currículo escolar, e sempre deve
ter seu espaço garantido
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