terça-feira, 15 de julho de 2014

Como ganhar uma falta perdendo um trem

1ª Versão
Por Aluno 29


            Acorde cedo, não tão cedo para ver o sol nascer, mas cedo o suficiente para escrever o texto que tem que ser entregue na tarde do mesmo dia. Mas cuidado ao usar o computador. Não se deixe enganar, num piscar de olhos 5 minutinhos numa rede social ou em qualquer outro site se tornam 30 minutos. Após terminar o trabalho, uma hora depois do esperado, corra para se arrumar. Tomar banho é opcional, mas escovar os dentes, não. Não ponha um casaco pesado ou uma malha de lã, pois o aparente frio do nevoeiro lá fora logo se dissipará pelos raios cálidos do sol e sentir um calor infernal é garantido. Uma olhadinha no relógio para garantir que se está dentro do prazo autoestipulado é bem vinda.  Almoce correndo, afinal mastigar é para os fracos, engula com a ajuda de um copo d'água e problema resolvido. Dizem que isso engorda, mas você precisa de uns quilinhos. Outra olhada no relógio. Ao ver que se está dentro do prazo, recompense-se com um cafézinho, preto e forte. Ligue a tv para não se sentir tão sozinho e aguarde até 12:05, o prazo final. É um ótimo tempo, pois sua casa fica literalmente em frente a estação do trem. É só correr um pouquinho e pegar o trem do meio dia e meia. Ponha as coisas que estavam em cima da mesa na mochila e corra o mais rápido possível. Desça as escadas sem diminuir a velocidade. Pisar em todos os degraus não é necessário porque a vida foi feita para se viver perigosamente. Mas nem tanto. Feche a porta atrás de si e sim, olhe para os dois lados a antes de atravessar a rua, mas continue no passo apressado. Suba a passarela e torça para não haver velhinhas precavidas com seus guarda-chuvas conversando enquanto trancam o caminho. A passarela vai estar cheia, mas drible as pessoas, ziguezagueando-as como num campo de futebol. Rápido! O trem está vindo, pode ser visto na curva há uns 300 metros dali. Apresse-se. É a presença na aula em jogo.  Dê-se conta de que a fila para comprar as passagens está cheia de gente, alguns que contam moedinha por moedinha como se pagar a passagem para andar de trem fosse uma novidade que acabaram de descobrir. Compre a passagem e voe pela roleta. Se tropeçar ou dar uma cambaleada, finja que foi proposital e não olhe para trás. Desça as escadas da estação atropelando o que estiver à frente, pise firme na plataforma. O cheiro de borracha queimada e o barulho de ferro dos carris anunciam que o trem chegou. Ótimo! Agora é só entrar no vagão. Mas não é assim tão fácil. O apito ouvido é o anúncio de que as portas estão se fechando. O quê? Perdeu o trem? Bem feito. Não deveria ter tomado aquele café. Mas são recém 12 e 8... Talvez seja um golpe do relógio. Propaganda enganosa a do trem do meio dia e 10. Espragueje por dentro, contraia as mãos com força, talvez dê um soco na mochila e vá humildemente para o outro lado da plataforma onde o calor do sol não queima e a sua luz não cega. Ali todo o tempo do mundo, leia-se mais 10 minutos, estará disponíveis para você se torturar por perder mais uma presença, a terceira consecutiva na aula, e com seu espírito filosófico questione-se porque sempre deixa tudo para a última hora e odeie-se mais um pouquinho por ter parado para tomar um café. Mas se não for suficiente, ainda há mais 20 minutos de viagem de trem e 45 de D43 para se acusar e culpar. Ou simplesmente se aprofunde na pergunta: por que a professora faz a chamada no início da aula? Para receber a quarta falta seguida, repita todos os passos na próxima terça-feira.


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