Reescrita
Por Aluno 29
Meus pais sempre ficaram
entusiasmados com a minha vontade de fazer um intercâmbio. Não sei se é para se
orgulharem de dizer que têm um filho no exterior ou porque queriam se livrar de
mim por um tempo. Esse interesse por estudar no exterior vem desde o ensino
médio, mas sabia que não era o melhor momento. Os custos são altos, e na
faculdade poderia estudar algo mais focado na minha área. Sendo assim, meus
pais sempre tiveram os ouvidos atentos a qualquer notícia, na televisão que
fosse, sobre intercâmbios.
Uma
vez, meu pai sobre que um estadunidense estaria num colégio divulgando a sua
universidade, a Azusa Pacific University, na Califórnia. Não estava muito
animado para ir por não acreditar que conseguiria algo, mas com a insistência
do meu pai resolvi escutar o que o homem tinha a dizer. Fomos à palestra e a
universidade parecia exatamente o que eu esperava. Ainda lembro a música que
tocava no vídeo de divulgação, um ritmo forte e determinado que em sinergia com
as imagens de calouros chegando ao campus, se divertindo, conhecendo pessoas
novas, se alocando nos dormitórios compeliam qualquer um a desejar estar ali.
Dei-me
conta de que havia um curso que queria na época, Relações Internacionais, e já
me interessei mais para saber como estudar lá. No final da apresentação, meu
pai me arrastou para conversar com o estrangeiro que não falava uma palavra
sequer de português. Olhei para trás e só havia outros pais e senhores no
auditório. Eu chamava a atenção por ser o único adolescente, uns 16 anos na
época.
Hesitei em falar com ele, mas
com o empurrãozinho do meu pai – literalmente – tomei coragem para me
apresentar. Começamos a falar em inglês, e ele se impressionou com a minha
fluência e quis saber mais de mim. Saímos da sala e descemos as escadas conversando.
Pareciam intermináveis aquelas escadas. Não lembro exatamente o que lhe disse,
estava em modo automático, as palavras só me saíam. Chegamos à porta de saída.
Que alívio! Quando íamos nos despedir, me disse que queria que marcássemos uma
entrevista por skype, e assim o fizemos.
Passados alguns dias, lá
estava eu recebendo a chamada por skype. Conversamos por bastante tempo, me
explicou melhor como funcionava a entrada de estrangeiros na sua universidade e
de como queriam que mais jovens estivessem dispostos a estudar no exterior.
Falou que no que dependesse dele eu conseguiria a vaga. Fiquei muito feliz,
embora soubesse que não davam bolsa integral. Se não me engano, era de 40%, e
mesmo se eu trabalhasse no campus seriam quase 50 mil reais por ano só para
pagar as mensalidades.
Disse-lhe que pensaria no
assunto, mas já tinha certeza de que não poderia. A maior decepção foi porque
não estava esperando nada disso. Não foi escolha minha ter ido à palestra e
criar expectativas. Agora tudo se me escapava das mãos, e eu nem tinha tentado
pegar nada!
Hoje entendo que foi para o
melhor, visto que percebi que não era bem o curso que queria e teria gasto o
meu tempo e dinheiro em vão. Além do mais, minha preferência sempre foi por um
país frio, como o Canadá ou norte da Europa, não as praias da Califórnia. Sei,
entretanto, que ainda terei oportunidades de estudar numa universidade
estrangeira e sou paciente para esperar que seja o lugar que melhor me
convenha. Aprendi que cada coisa tem o seu tempo de se suceder e que aguardar,
às vezes, é melhor do que agir precipitadamente.
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