terça-feira, 15 de julho de 2014

Males que vêm para o bem?

Reescrita
Por Aluno 29




            Meus pais sempre ficaram entusiasmados com a minha vontade de fazer um intercâmbio. Não sei se é para se orgulharem de dizer que têm um filho no exterior ou porque queriam se livrar de mim por um tempo. Esse interesse por estudar no exterior vem desde o ensino médio, mas sabia que não era o melhor momento. Os custos são altos, e na faculdade poderia estudar algo mais focado na minha área. Sendo assim, meus pais sempre tiveram os ouvidos atentos a qualquer notícia, na televisão que fosse, sobre intercâmbios.

            Uma vez, meu pai sobre que um estadunidense estaria num colégio divulgando a sua universidade, a Azusa Pacific University, na Califórnia. Não estava muito animado para ir por não acreditar que conseguiria algo, mas com a insistência do meu pai resolvi escutar o que o homem tinha a dizer. Fomos à palestra e a universidade parecia exatamente o que eu esperava. Ainda lembro a música que tocava no vídeo de divulgação, um ritmo forte e determinado que em sinergia com as imagens de calouros chegando ao campus, se divertindo, conhecendo pessoas novas, se alocando nos dormitórios compeliam qualquer um a desejar estar ali.     

            Dei-me conta de que havia um curso que queria na época, Relações Internacionais, e já me interessei mais para saber como estudar lá. No final da apresentação, meu pai me arrastou para conversar com o estrangeiro que não falava uma palavra sequer de português. Olhei para trás e só havia outros pais e senhores no auditório. Eu chamava a atenção por ser o único adolescente, uns 16 anos na época.       
            Hesitei em falar com ele, mas com o empurrãozinho do meu pai – literalmente – tomei coragem para me apresentar. Começamos a falar em inglês, e ele se impressionou com a minha fluência e quis saber mais de mim. Saímos da sala e descemos as escadas conversando. Pareciam intermináveis aquelas escadas. Não lembro exatamente o que lhe disse, estava em modo automático, as palavras só me saíam. Chegamos à porta de saída. Que alívio! Quando íamos nos despedir, me disse que queria que marcássemos uma entrevista por skype, e assim o fizemos.   
            Passados alguns dias, lá estava eu recebendo a chamada por skype. Conversamos por bastante tempo, me explicou melhor como funcionava a entrada de estrangeiros na sua universidade e de como queriam que mais jovens estivessem dispostos a estudar no exterior. Falou que no que dependesse dele eu conseguiria a vaga. Fiquei muito feliz, embora soubesse que não davam bolsa integral. Se não me engano, era de 40%, e mesmo se eu trabalhasse no campus seriam quase 50 mil reais por ano só para pagar as mensalidades.
            Disse-lhe que pensaria no assunto, mas já tinha certeza de que não poderia. A maior decepção foi porque não estava esperando nada disso. Não foi escolha minha ter ido à palestra e criar expectativas. Agora tudo se me escapava das mãos, e eu nem tinha tentado pegar nada!     
            Hoje entendo que foi para o melhor, visto que percebi que não era bem o curso que queria e teria gasto o meu tempo e dinheiro em vão. Além do mais, minha preferência sempre foi por um país frio, como o Canadá ou norte da Europa, não as praias da Califórnia. Sei, entretanto, que ainda terei oportunidades de estudar numa universidade estrangeira e sou paciente para esperar que seja o lugar que melhor me convenha. Aprendi que cada coisa tem o seu tempo de se suceder e que aguardar, às vezes, é melhor do que agir precipitadamente. 

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