Reescrita
Por Aluno 15
Estava uma
noite fria. A neblina congelava a ponta do nariz, as mãos, os pés, o corpo
todo. Só não congelava a minha expectativa. Entrei no hospital. Era branco,
limpo, tons de lilás e laranja; era enorme, gigante. Eu seguia até o
departamento de Obstetrícia. Longos corredores, brancos, limpos, tons de lilás
e laranja, enormes, gigantes. Tudo me impressionava muito. Estar nos bastidores
me impressionava muito. Vesti a roupa roxa, coloque a touca, lavei as mãos umas
três ou quatro vezes e me senti pronta. Ouvi a voz conhecida dizendo: “Giulia,
vamos?” Era a Sabrina, a causa de eu estar ali. Ela era a médica mais
sensacional que eu já conhecera em toda minha vida, e foi ela quem me encorajou
a ter um dia como tal. Naquela noite eu veria um parto, eu veria como seria meu
futuro trabalho e toda a minha vida. Eu iria me realizar por completo.
“Aquela que é a Neusa, é mãe de
primeira viagem, parto normal. Até agora tudo está correndo bem e acredito que
ali pela 1h teremos o parto. Você vai gostar muito, a Medicina é encantadora.”
Aquelas palavras soaram tão bem. Eu sempre quis ser médica, eu sempre li livros
e assisti a filmes que me motivaram a querer e querer essa profissão. Eu estava
agitada e ansiosa. E eu era tão nova,
tão sortuda por ter uma experiência daquelas.
O tempo não passava. Faltavam três
horas para a 1h. “Por que não podemos fazer isso logo? Eu quero ver!” pensava.
Mas a Neusa não estava pronta e eu tinha de esperar. Enquanto esperava, a
Sabrina me ensinava medir pressão, preencher receitas, entender os exames de
praxe, checar dilações e entre outros. Tudo encantador e persuasivo para uma
menina de 15 anos com um sonho de salvar o mundo. Lembro-me de ter medido a
pressão da minha mãe todos os dias por uma semana depois daquela noite.
Lembro-me de estar ouvindo tudo aquilo e pensando em como eu seria feliz.
“Gente, está na hora.” E dita essa
frase tudo se tornou agitado. Veio o pai, as enfermeiras; muda de sala, muda de
roupa, muda de roupa do bebê, muda de tubo, mudou a pressão? Que caos maravilhoso.
Eu viveria nele todos os dias. Foi quando finalmente começou. Neusa fazia muita
força, esforçava-se como se aquilo fosse a coisa mais importante da sua vida, e
era, de fato. Suava, gritava. E mesmo assim Neusa era a mulher mais linda do
mundo naquele momento. Meu papel era ficar parada e olhando. Eu estava entre a
Neusa e a Sabrina. Admito, estava com receio de olhar mais de perto. Mas as
enfermeiras me empurravam para mais perto com um sorriso amigável que dizia
“vai ver, vai ser lindo”.
Depois de
muito esforço, de suor e sangue ele veio. “Tão pequeno”, eu pensei. Minúsculo.
Uma criaturinha indefesa que chega a essa mundo tão enorme. Eu olho para ele e
ele chora, todo sujo. Eu olho para ele e ele nem sabe que eu o estou olhando.
Eu olho para ele e percebo como a vida é um milagre, encantadora. Por muitos
anos ele não vai entender como tudo isso de “vida” funciona. Mas logo ele vai
virar um homem, um ser como eu, que fala, que vê, que toca, que sente. Ele, que
eu nem sabia que iria conhecer, que provavelmente nunca mais iria ver, mas ele
que me ensinara ver o mundo com outros olhos. Toda a razão de levantar da cama
de manhã, de estudar, de respirar, de abraçar o pai e a mãe, de sair com os
amigos, de beijar o namorado, todo o motivo de existir ali: nele. O Augusto,
que hoje nem sabe quem sou eu, qual é meu nome, onde eu vivo ou o que eu faço.
O Augusto, que deve ter três ou quatro anos hoje, que deve estar forte e feliz.
O Augusto minúsculo. O mesmo Augusto que me ensinou o valor da vida e de ser
feliz.
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