1ª Versão
Por Aluno 41
Por Aluno 41
“Tua mãe está doente, ela tem câncer de mama”. Foram essas as palavras que de uma hora para outra enegreceram minha vista e me sufocaram quase que instantaneamente. Parecia que aquilo, como muitas outras coisas, nunca iria acontecer comigo, ou pelo menos com minha família, mas aconteceu, e forçou-me a enfrentar uma grande batalha.
Quem me deu essa notícia foi meu pai, num almoço marcado em cima da hora no centro da cidade de Canoas. Eu e meu irmão, sem ter muito com o que nos preocuparmos, nos encontramos com ele já no restaurante, e foi ao final do almoço que o aviso foi dado. Meu pai é médico, radiologista, e lida diariamente com essa doença, já que interpretar mamografias é parte de seu trabalho, e acho que se não fosse pela segurança passada por ele após a pesadíssima revelação, eu estaria até hoje deitado em posição fetal soluçando naquele restaurante. Meu irmão e eu fomos orientados da melhor forma possível, foi nos explicado que o estágio em que o tumor se encontrava era inicial, e que havia grande possibilidade de o tratamento ser bem sucedido, porém ela teria que passar por uma cirurgia de remoção de mama e sessões de quimioterapia. Mesmo com o cuidado e apoio total de meu pai, a maior lembrança que tenho daquele momento é terrível e assustadora até hoje para mim, lembro-me de pensar: “O que vou fazer no velório dela? Vou conseguir fazer o discurso e ser forte o suficiente para olhar para o rosto dela uma última vez? O que eu faço agora?
Algumas semanas passaram. Tomadas as providências necessárias e recuperada da cirurgia, a primeira sessão de quimioterapia aconteceu, e eu acompanhei minha mãe durante as quatro horas de duração. Ela entrou no hospital calma, confiante e serena. Saiu dele sem força nenhuma, sua energia vital parecia ter sido sugada por completo. Esse é um dos efeitos colaterais da quimioterapia, a medicação destrói não só células cancerígenas, mas também células sadias, provocando, entre outras coisas, incrível exaustão física e a temível queda do cabelo. Em pouco tempo já não restava nenhum fio e eu que, na época com dezesseis anos, nunca tinha visto minha mãe naquele estado, todos os dias ao levantar e me assegurar de que estava tudo bem com ela, notava também que mesmo com todos esses percalços, no fundo no fundo ela nunca deixou a doença derrubá-la. Essas e tantas outras adversidades são mais do que suficientes para esmagar a vontade de viver de qualquer ser humano, mas não para a dona Susana. Ela nunca baixou a cabeça. Mesmo exaurida e incapacitada de ter uma vida comum durante o tratamento, em nenhum momento senti uma ponta de autopiedade por parte dela.
A demonstração de força fora do comum exibida por minha mãe no decorrer dessa época, que tinha tudo para se tornar a mais difícil e mais pesada de nossas vidas, serviu como modelo para a tomada de todas as minhas decisões posteriores. O câncer, o tratamento e a recuperação obrigaram minha mãe a ser mais forte do que já era e consequentemente me obrigaram também. Assumi um novo papel dentro de casa, fui colocado diante de situações extremas, pude ver com mais clareza o que importava e o que não fazia diferença. Não me permiti fraquejar, pois se minha mãe não o fez, eu, com certeza não tinha nenhum motivo para fazê-lo.
Hoje dona Susana se encontra saudável e mais viva do que nunca, apesar de outro câncer ser diagnosticado dois anos após o primeiro, dessa vez no intestino. Surpreendentemente ele também foi vencido e ela se encontra de pé para poder contar a história toda. Ela triunfou, e eu, cresci.
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