terça-feira, 20 de maio de 2014

Crescer

1ª Versão
Por Aluno 41
            “Tua mãe está doente, ela tem câncer de mama”. Foram essas as palavras que de uma hora para outra enegreceram minha vista e me sufocaram quase que instantaneamente. Parecia que aquilo, como muitas outras coisas, nunca iria acontecer comigo, ou pelo menos com minha família, mas aconteceu, e forçou-me a enfrentar uma grande batalha.

            Quem me deu essa notícia foi meu pai, num almoço marcado em cima da hora no centro da cidade de Canoas. Eu e meu irmão, sem ter muito com o que nos preocuparmos, nos encontramos com ele já no restaurante, e foi ao final do almoço que o aviso foi dado. Meu pai é médico, radiologista, e lida diariamente com essa doença, já que interpretar mamografias é parte de seu trabalho, e acho que se não fosse pela segurança passada por ele após a pesadíssima revelação, eu estaria até hoje deitado em posição fetal soluçando naquele restaurante. Meu irmão e eu fomos orientados da melhor forma possível, foi nos explicado que o estágio em que o tumor se encontrava era inicial, e que havia grande possibilidade de o tratamento ser bem sucedido, porém ela teria que passar por uma cirurgia de remoção de mama e sessões de quimioterapia. Mesmo com o cuidado e apoio total de meu pai, a maior lembrança que tenho daquele momento é terrível e assustadora até hoje para mim, lembro-me de pensar: “O que vou fazer no velório dela? Vou conseguir fazer o discurso e ser forte o suficiente para olhar para o rosto dela uma última vez? O que eu faço agora?
            Algumas semanas passaram. Tomadas as providências necessárias e recuperada da cirurgia, a primeira sessão de quimioterapia aconteceu, e eu acompanhei minha mãe durante as quatro horas de duração. Ela entrou no hospital calma, confiante e serena. Saiu dele sem força nenhuma, sua energia vital parecia ter sido sugada por completo. Esse é um dos efeitos colaterais da quimioterapia, a medicação destrói não só células cancerígenas, mas também células sadias, provocando, entre outras coisas, incrível exaustão física e a temível queda do cabelo. Em pouco tempo já não restava nenhum fio e eu que, na época com dezesseis anos, nunca tinha visto minha mãe naquele estado, todos os dias ao levantar e me assegurar de que estava tudo bem com ela, notava também que mesmo com todos esses percalços, no fundo no fundo ela nunca deixou a doença derrubá-la. Essas e tantas outras adversidades são mais do que suficientes para esmagar a vontade de viver de qualquer ser humano, mas não para a dona Susana. Ela nunca baixou a cabeça. Mesmo exaurida e incapacitada de ter uma vida comum durante o tratamento, em nenhum momento senti uma ponta de autopiedade por parte dela.
            A demonstração de força fora do comum exibida por minha mãe no decorrer dessa época, que tinha tudo para se tornar a mais difícil e mais pesada de nossas vidas, serviu como modelo para a tomada de todas as minhas decisões posteriores. O câncer, o tratamento e a recuperação obrigaram minha mãe a ser mais forte do que já era e consequentemente me obrigaram também. Assumi um novo papel dentro de casa, fui colocado diante de situações extremas, pude ver com mais clareza o que importava e o que não fazia diferença. Não me permiti fraquejar, pois se minha mãe não o fez, eu, com certeza não tinha nenhum motivo para fazê-lo.

            Hoje dona Susana se encontra saudável e mais viva do que nunca, apesar de outro câncer ser diagnosticado dois anos após o primeiro, dessa vez no intestino. Surpreendentemente ele também foi vencido e ela se encontra de pé para poder contar a história toda. Ela triunfou, e eu, cresci.

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