Reescrita
Por Aluno 30
Eu
já fazia parte daquele projeto em que prestava serviço voluntário em um lar para
crianças abandonadas pelos pais - que consistia em uma pequena casa, em um
terreno nem tão pequeno com uma horta e bastante espaço pra brincar, com
direito a mini quadra de futebol e um espaço parecido com o de uma praça com
escorredor e casa de brincar - acerca de um ano quando conheci uma doce menina,
que mudaria a minha vida.
O micro ônibus azul, que levou eu e os
alunos voluntários de minha escola para fazer uma recreação com as crianças
daquele lar, demorou muito para chegar à alvorada, já eram quase três horas da
tarde quando chegamos à casa da mulher maravilhosa que abriu mão de criar e
cuidar de quatro filhos para acolher outras vinte crianças que foram abandonadas
por suas mães na comunidade onde morava. Ao chegar começamos a arrumar as
coisas que levamos: os docinhos, salgadinhos e bolos para o lanche estavam
arrumados na mesa; e as doações de roupas e de alimentos não perecíveis já
estavam quase todas guardadas na despensa.
As
crianças estavam radiantes, felizes, correndo e brincado pelo pátio, com a
exceção de uma criança nova - nunca tinha participado daquele momento conosco e
não estava entendendo nada do que estava acontecendo – que estava sozinha em um
canto até que me aproximei dela, Camila era o nome do anjinho que demorou muito
pra se soltar e brincar comigo. O carinho de Camila fez tudo parecer
maravilhoso apesar do meu dia ter começado mal: além de eu já não ter acordado
me sentindo bem (estava enjoada, cansada, parecia carregar um elefante em
minhas costas) acabei brigando com algumas pessoas ao longo da manhã e por isso
meus problemas pareciam os maiores do mundo. Tive uma briguinha com minha mãe
(com direito a batida de pé por não poder ir naquela festa que “todo mundo” ia),
uma briga boba (que se resolveu no dia seguinte) com minha melhor amiga, achar
que havia ido mal numa prova da escola e estar preocupada com a prova da semana
seguinte fizeram eu me sentir péssima achando que tudo dava errado pra mim;
como toda adolescente dramática, exagerada e intensa acha em algum momento da
juventude.
De repente, percebemos que nosso
tempo tinha acabado, sendo, então, hora de voltar para escola e foi no momento
da despedida que o inesperado aconteceu: Camila que estava toda vestida de rosa
com uma blusa da Barbie veio correndo me abraçar e quase chorando agradeceu por
eu existir, dizendo que eu tinha mudado o dia dela, que não queria que eu fosse
embora, que eu faria falta, que eu tinha sido maravilhosa, que queria que eu
voltasse e que me amava e foram as palavras dessa menina de aproximadamente
quatro anos que mudaram meu dia e o modo como pensaria minha vida.
Eu que tinha cerca de treze anos
acabava de aprender lições preciosas com uma criança que nunca imaginei
conhecer, uma indiazinha, morena, com olhar de sonhadora e um sorriso de mudar
o mundo: Camila. Com ela percebi que meus problemas não eram tão grandes, pois
não ir a uma festa não era nada comparado a não ter uma casa, que brigar tanto
com minha mãe por besteira – batendo a porta do quarto, gritando e franzindo a
testa - não fazia sentindo se a vida seria muito pior sem ela, que meu drama
não era um drama e que as coisas as quais eu dava muita importância não tinham
valor nenhum se comparadas as necessidades que a família do lar passava por
precisa de doações constantes de comidas, roupas e até brinquedos.
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