segunda-feira, 19 de maio de 2014

Sem luz, com o luar, o infinito e um pouco de filosofia

Reescrita
Por Aluno 1


Já era noite e faltara luz na cidade. Estava tudo escuro e, por um minuto, aquela negritude trouxe junto de si um silêncio, que logo foi embora, tomado por chamados de todos os cantos “mãe!”, “pai!” “o que aconteceu?”. Esses gritos misturavam-se entre si tornando-se incompreensíveis.
Eu fiquei em silêncio somente ouvindo e observando as janelas começarem a se iluminar pelas velas acesas. Caminhei até a minha janela que estava levemente iluminada pelo luar. O luar. Tão bonito e tão singelo, ele me remete a minha infância, aonde deitados sob a lua e as estrelas meu pai introduzia os primeiros questionamentos filosóficos em mim e na minha irmã.
Uma casa no interior de uma cidade pequena, onde as luzes da cidade não ofuscavam o brilho das estrelas e podíamos parar para observá-las.  Foram algumas vezes em que fizemos isso, e ali, com aquela vista do luar, comecei a me questionar sobre o que realmente era aquilo, o céu, e por que era tão grande, ou melhor, infinito.
“Infinito? Isso quer dizer que não tem fim? Como assim o céu não tem fim?” Meu pai adorava responder àquelas perguntas de criança. Ele sorria para nós com um sorriso simpático entre a barba preta. “Isso mesmo, quer dizer que não tem fim, quer dizer que você não consegue alcança-lo.” Eu jamais alcançaria o céu, meu pai acabara de me dizer isso, mas mesmo assim levantei minha pequena mão o mais alto que pude para testar se era verdade. Claro que era. Fiquei olhando maravilhada para aquelas luzinhas e para a lua. O homem chegara à lua, mas não alcançara o céu. Isso não é incrível?
Naquele momento ainda era pequena demais para entender o que é infinito, mas para mim a definição pareceu simples, reforço, naquele momento. Por mais sutil que tivesse sido aquele diálogo, ele ficou martelando na minha cabeça, e ainda martela.  E, alguns anos depois, estou eu olhando o infinito e tentando defini-lo. Uma das definições mais malucas que dei a ele foi: imagine uma caixa de papelão fechada e escura,daquelas quadradas que se vê no supermercado, e dentro dela existe um pontinho bem pequeno, do tamanho da ponta da caneta. Ali, sozinho bem no meio. Esse pontinho é a Terra e todo escuro da caixa é o infinito. De repente a caixa se abre, se despedaça, vira pó. Mas o escuro continua, ele vai se prolongando até... bem, o infinito.
Cheguei à conclusão de que essa definição é confusa, porque começo a imaginar uma escuridão que vai se prolongando sem ter nada que a faça parar, e isso meio que bloqueia o meu pensamento porque eu simplesmente não consigo imaginar uma coisa sem fim. Não dá pra imaginar o último número do alfabeto numérico, porque ele também não tem fim. Sempre posso acrescentar um número a mais, sempre posso acrescentar um escuro a mais.
Naquela noite que meu pai me revelou que não alcançaria o céu, descobri que teria um eterno companheiro, e ele, nada mais, nada menos, é o infinito. Desde lá, observo ele em todos os cantos. Confesso que às vezes me sinto pequena como uma formiga perto dele, mas ele jamais me deixa sozinha.
O infinito me faz me sentir bem, apesar de, muitas vezes, o desconhecido ser assustador, desconhecer o infinito me deixa confortada, um conforto semelhante ao chegar em casa depois de um dia exaustivo e quente, tomar um banho e deitar na minha cama. O infinito, pra mim, se tornou um sinônimo de céu. Pensar no infinito me deixa bem, olhar para o céu me deixa melhor, porque se não consigo explicar o “sem fim” ao menos posso ver um pedacinho dele e, convenhamos, que pedacinho bonito!

É por isso que naquela noite em que faltou luz eu fiquei em silêncio e não chamei por ninguém. Porque pude ver o céu de novo daquela forma que eu via quando era criança, iluminado por seu próprio brilho, sem as luzes da capital. Pude pousar meus olhos nas pequenas estrelas cintilantes e me acalmar, me confortar nos braços daquele infinito (des)conhecido.

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