segunda-feira, 7 de julho de 2014

Preconceito Linguístico: existe uma saída

1ª Versão
Por Aluno 16 e Aluno 26


O preconceito linguístico, além de polêmico, é um assunto bastante atual e que gera muitas divergências entre opiniões de leigos e estudiosos. Entende-se por preconceito linguístico o julgamento depreciativo contra determinadas variedades linguísticas, que englobam diversas áreas de estudo da língua e como ela varia dependendo de um contexto. No entanto, essa aversão a uma linguagem periférica provém de um ensino ditatorial gramaticalista, que julga o modo certo e errado de falar, não permitindo a evolução da língua. Atualmente, é bastante perceptível a busca de grande parte dos professores de língua portuguesa por uma mudança nesse tipo de ideologia, na qual o que deve ser ensinado nas escolas é o que está na gramática. Entretanto, o preconceito linguístico ainda tem forte presença na sociedade atual.
Primeiramente, foram escolhidas duas pessoas para responderem algumas questões a respeito desse tema: uma delas tem maior contato com o assunto e a outra não tem nenhum. A primeira questão que foi levantada visava detectar algum tipo de preconceito, visto que é um assunto recorrente (e um tanto polêmico) nos dias de hoje. Os entrevistados foram questionados se eles acreditam que a atual geração esteja deteriorando a língua. Caso a resposta fosse sim, saberíamos que há certa visão gramaticalista fruto de algumas escolas que valorizam somente a normatividade, já que a palavra “deteriorando” sugere essa interpretação. De fato, as respostas foram bem condizentes e não foi detectado nenhum julgamento direto vindo dos entrevistados. Daniel Dalpizzolo[1] respondeu que não acredita que haja uma deterioração nesse caso, mas que há sim mudanças dialetais, como gírias específicas de certas comunidades periféricas. Já Isadora Soares[2] é mais sucinta e, portanto, objetiva em sua resposta: “Não, todas as gerações recriam a língua, isso não significa empobrecimento nenhum.”. Pode-se perceber que por Isadora entender mais sobre o assunto, a mesma garantiu um melhor desempenho em sua resposta, sem permitir outras interpretações. Já Dalpizzolo permite uma interpretação mais ampla, pois na parte em que ele cita as “periferias”, deixa transparecer que apenas a periferia atribui gírias em seu dialeto.
No livro “Preconceito Linguístico: O que é, Como se faz”, de Marcos Bagno (1999), a língua portuguesa falada no Brasil é apresentada como possuidora de uma enorme diversidade linguística, contendo diversos dialetos vindos de todas as partes do país. Não é raro dizer que muitas pessoas contêm um preconceito embutido relacionado à localização geográfica de outros falantes. Segundo Daniel Dalpizzolo, ao ter contato com outros dialetos que não o seu, a primeira reação é de estranhamento e depois de curiosidade de saber de onde essas pessoas vêm. Diz ainda que, dependendo do sotaque do falante, sua localidade é facilmente identificada. De fato, essa informação procede, porém, de forma generalizada. Por exemplo, pelo sotaque, sabe-se que um falante vem do nordeste, mas não se sabe de qual região do nordeste, e para estudiosos da língua, é sabido que dentro de cada região existem muitos dialetos e que cada um deles diz muito sobre a cultura de seu falante, como foi dito pela aluna Isadora Soares.
Alguns estudos sobre as variantes do “r” no português brasileiro já foram feitos, comparando o /r/ pronunciado por pessoas de menor poder aquisitivo e por pessoas de maior poder aquisitivo, e consequentemente, maior nível de escolarização. Por exemplo, a palavra “sorvete” quando pronunciada por um falante de classe mais baixa, pode ter o /r/ pronunciado de forma que, aqui no Brasil, seria considerado “caipira”, mas que se comparado com o /r/ da palavra em inglês “word”, teria a mesma fonética. Essa é uma forma explícita de preconceito linguístico, quando uma letra pronunciada em português se torna “feia” aos ouvidos de algumas pessoas, a mesma letra pronunciada foneticamente igual em inglês não tem problema algum. De acordo com Isadora Soares, o nível sócio-cultural do falante influencia na sua fala. Porém, não é sempre assim: ela acredita que a língua se modifica mais conforme a formação pessoal de cada indivíduo. Claro que o nível de escolarização afeta diretamente a fala de cada pessoa, e muitas vezes, acaba denunciando sua classe social, como enfatizou Daniel Dalpizzolo.
A partir dessa pesquisa, é possível concluir que os estudiosos da área de linguagens procuram combater constantemente o preconceito linguístico tão enraizado em nossa sociedade e que abraça boa parte da população, a qual não se mantém atualizada sobre os estudos linguísticos e sabe apenas o que aprendeu na escola: o ensino ditador do “certo” e do “errado”.  Na entrevista, subjetivamente, eram esperadas respostas mais preconceituosas vindas do empresário, visto que ele lida com pessoas de maior e menor prestígio social constantemente; porém, foi surpreendente a similaridade da sua visão em relação à da estudante. Isso mostra que o trabalho de reeducação (não gramaticalista, menos ditatorial e que busca qualidade e não quantidade), vindo dos novos professores, tem obtido resultados positivos e que a população tem mudado seu pensamento, abrindo espaço para novas visões e teorias, que não descartam totalmente o papel da gramática normativa tradicional, mas que valorizam mais a aprendizagem da língua em si, permitindo maior desempenho escolar e menor repressão com relação à língua falada.



Referências

MENDES, Ronald Beline. Língua e variação, São Paulo: Contexto, 2013, p. 118-129.
BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: O que é, Como se faz. Loyola, 1999.




[1] Daniel de Carvalho Dalpizzolo, empresário renomado no ramo de motocicletas.
[2] Isadora Laguna Soares, estudante do 7º semestre de Letras na UFRGS

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