Reescrita
Por Aluno 35
Literatura,
pra quê?
Segundo o
Instituto Pró-Livro, os dados de 2011 mostram que o Brasil tem um público que
começa a ler quatro livros por ano, mas só acaba dois. Um público que antes de
ler prefere perder seu tempo livre assistindo televisão, escutar música ou
rádio, entre outras atividades. Apesar da quantidade baixa de livros, metade
dos entrevistados havia terminado um livro nos últimos três meses.
Mas só
quatro livros por ano? Há diversos leitores que se divertem com muito mais de
quatro livros por ano. São vinte, trinta livros no decorrer dos 365 dias.
A pergunta
que fica é pra que ler tanto? Afinal, para que serve essa tal literatura?
Marcelino
Freire, escritor pernambucano, em entrevista ao nosso jornal disse que “a
literatura não tem serventia. Não tem função. Quem tem função é
eletrodoméstico, geladeira, microondas, fogão.” Nas palavras do autor a
literatura não serve para nada. Será que é essa mesmo a função de perdermos
horas em frente a um livro, de gastarmos horrores em livrarias, para nada?
Marcelino
ainda acrescenta que “o escritor inaugura um olhar para as coisas”. Que é essa
a função do escritor e cabe ao leitor ter esse novo conceito de mundo. Aos
escritores que vão surgindo fica até um pouco de desespero. Que novo olhar
posso eu, mero mortal, acrescentar ao mundo? São tantos anos de literaturas, de
mais e mais olhares, que acaba sobrando pouco para os novatos. Charles
Bukowski, escritor americano do que viveu de 1920 a 1994, diz em uma poema
intitulado “então queres ser um escritor?”, que “se tentas escrever como os
outros escreviam,/não o faças”. Sugerindo justamente, que olhares repetitivos
de nada adianta.
Quando o
caminho segue na direção do leitor e não do ser escritor, admitimos que nós
leitores somos contemplados com um olhar inaugural sobre as coisas. Leitores
têm o direito de ver o mundo a partir da visão do outro. O autor se expõe ao
nos contar seus olhares sobre o mundo. Nós apenas nos deleitamos. Schopenhauer,
filósofo alemão do início do século XIX, já dizia sobre os pensamentos que
“quando ele começa a existir para os outros, para de viver em nós, da mesma
maneira que o

filho se
separa da mãe quando passa a ter sua existência própria”. A criação vem do seu
autor, mas sua existência é externa a isso, a criação não pertence a mais
ninguém, se não ao mundo.
Seguindo a
entrevista com Marcelino, ele diz que a pergunta realizada sobre o papel da
literatura é freqüente. “Perguntamos isto para o escritor porque, na verdade,
estamos afirmando: o que danado você foi escolher para fazer da sua vida? Vai
trabalhar, vagabundo. Sai dessa. E a gente não sai. A gente persiste. Em nossa
arte, em nossa fragilidade. A gente se enche de outras fortalezas para encarar
a vida, para entender os absurdos à nossa volta. Não temos nunca uma solução para
dar. A gente apenas mostra, flagra. A gente não quer salvar ninguém. A gente
não é igreja.”
É nítido o
pré-conceito que há quando se fala na vontade de escrever ou que se vive de
escrita. Poetas, principalmente, acabam sofrendo mais. A sociedade sempre
coloca o escritor no papel de vagabundo, isso é fato. O curioso é que esse
pré-conceito muitas vezes ocorre com aqueles que são leitores fervorosos.
Aqueles que muitas vezes deviam apoiar...
Outra
pergunta que freqüentemente é realizada aos escritores é a clássica: você vive
só disso? Em um país que valoriza pouco quem vive de palavra, até que é uma
pergunta persistente. O Brasil acaba valorizando muito os músicos, os jogadores
de futebol, mas os escritores são deixados de lado. São poucos aqueles que
conseguem viver de literatura. Que largam tudo para se dedicar a palavra. O
próprio Marcelino, que hoje vive apenas do ser escritor, passou muitos anos
antes tendo um trabalho em paralelo.
No decorrer
da entrevista foi questionada a importância da leitura no escrever e Marcelino
disse que “Quem se mete a escrever tem de ler para trás, para baixo, para cima,
para além, para os lados, para o fundo, por dentro, por fora, nas entrelinhas,
nas costuras... Tem de saber que muita gente se fodeu para fazer o que a gente,
agora, escolheu fazer.”
Destacou
ainda a importância de ler os clássicos para lapidar o escritor, mas não só, o
escritor destacou a necessidade de estar rodeado de novos escritores também.
Trouxe
novos nomes da literatura nacional “De agora, posso dizer de Lourenço
Mutarelli, de Japa Tratante, de João Gilberto Noll, de Carol Rodrigues, de João
Gomes, de Felipe Valério”. “É muita gente. Eu me cerco sempre de todos e de
todas, para aprender e apreender.”
A
literatura não tem função nenhuma. Não serve pra nada. Se servir não é
literatura. “Quem pensa em uma função para a literatura é escritor de
autoajuda.” Já disse o nosso entrevistado.
Nasci para
administrar
[o à-toa
o em vão
o inútil.
São as
palavras do poeta Manoel de Barros.
Por não
servir pra nada é que encanta, que fascina. A literatura nos envolve e no fim
das contas talvez o problema esteja em nós.
Talvez nós
gostemos das coisas inúteis.
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