segunda-feira, 7 de julho de 2014

Jornal que não me lembro o nome nem sequer a existência

Reescrita
Por Aluno 35




                   Literatura, pra quê?

              Segundo o Instituto Pró-Livro, os dados de 2011 mostram que o Brasil tem um público que começa a ler quatro livros por ano, mas só acaba dois. Um público que antes de ler prefere perder seu tempo livre assistindo televisão, escutar música ou rádio, entre outras atividades. Apesar da quantidade baixa de livros, metade dos entrevistados havia terminado um livro nos últimos três meses.
Mas só quatro livros por ano? Há diversos leitores que se divertem com muito mais de quatro livros por ano. São vinte, trinta livros no decorrer dos 365 dias.
A pergunta que fica é pra que ler tanto? Afinal, para que serve essa tal literatura?

              Marcelino Freire, escritor pernambucano, em entrevista ao nosso jornal disse que “a literatura não tem serventia. Não tem função. Quem tem função é eletrodoméstico, geladeira, microondas, fogão.” Nas palavras do autor a literatura não serve para nada. Será que é essa mesmo a função de perdermos horas em frente a um livro, de gastarmos horrores em livrarias, para nada?
Marcelino ainda acrescenta que “o escritor inaugura um olhar para as coisas”. Que é essa a função do escritor e cabe ao leitor ter esse novo conceito de mundo. Aos escritores que vão surgindo fica até um pouco de desespero. Que novo olhar posso eu, mero mortal, acrescentar ao mundo? São tantos anos de literaturas, de mais e mais olhares, que acaba sobrando pouco para os novatos. Charles Bukowski, escritor americano do que viveu de 1920 a 1994, diz em uma poema intitulado “então queres ser um escritor?”, que “se tentas escrever como os outros escreviam,/não o faças”. Sugerindo justamente, que olhares repetitivos de nada adianta.
              Quando o caminho segue na direção do leitor e não do ser escritor, admitimos que nós leitores somos contemplados com um olhar inaugural sobre as coisas. Leitores têm o direito de ver o mundo a partir da visão do outro. O autor se expõe ao nos contar seus olhares sobre o mundo. Nós apenas nos deleitamos. Schopenhauer, filósofo alemão do início do século XIX, já dizia sobre os pensamentos que “quando ele começa a existir para os outros, para de viver em nós, da mesma maneira que o

filho se separa da mãe quando passa a ter sua existência própria”. A criação vem do seu autor, mas sua existência é externa a isso, a criação não pertence a mais ninguém, se não ao mundo.
Seguindo a entrevista com Marcelino, ele diz que a pergunta realizada sobre o papel da literatura é freqüente. “Perguntamos isto para o escritor porque, na verdade, estamos afirmando: o que danado você foi escolher para fazer da sua vida? Vai trabalhar, vagabundo. Sai dessa. E a gente não sai. A gente persiste. Em nossa arte, em nossa fragilidade. A gente se enche de outras fortalezas para encarar a vida, para entender os absurdos à nossa volta. Não temos nunca uma solução para dar. A gente apenas mostra, flagra. A gente não quer salvar ninguém. A gente não é igreja.”
              É nítido o pré-conceito que há quando se fala na vontade de escrever ou que se vive de escrita. Poetas, principalmente, acabam sofrendo mais. A sociedade sempre coloca o escritor no papel de vagabundo, isso é fato. O curioso é que esse pré-conceito muitas vezes ocorre com aqueles que são leitores fervorosos. Aqueles que muitas vezes deviam apoiar...
Outra pergunta que freqüentemente é realizada aos escritores é a clássica: você vive só disso? Em um país que valoriza pouco quem vive de palavra, até que é uma pergunta persistente. O Brasil acaba valorizando muito os músicos, os jogadores de futebol, mas os escritores são deixados de lado. São poucos aqueles que conseguem viver de literatura. Que largam tudo para se dedicar a palavra. O próprio Marcelino, que hoje vive apenas do ser escritor, passou muitos anos antes tendo um trabalho em paralelo.
              No decorrer da entrevista foi questionada a importância da leitura no escrever e Marcelino disse que “Quem se mete a escrever tem de ler para trás, para baixo, para cima, para além, para os lados, para o fundo, por dentro, por fora, nas entrelinhas, nas costuras... Tem de saber que muita gente se fodeu para fazer o que a gente, agora, escolheu fazer.”
              Destacou ainda a importância de ler os clássicos para lapidar o escritor, mas não só, o escritor destacou a necessidade de estar rodeado de novos escritores também.
Trouxe novos nomes da literatura nacional “De agora, posso dizer de Lourenço Mutarelli, de Japa Tratante, de João Gilberto Noll, de Carol Rodrigues, de João Gomes, de Felipe Valério”. “É muita gente. Eu me cerco sempre de todos e de todas, para aprender e apreender.”
A literatura não tem função nenhuma. Não serve pra nada. Se servir não é literatura. “Quem pensa em uma função para a literatura é escritor de autoajuda.” Já disse o nosso entrevistado.
              Nasci para administrar
   [o à-toa
                  o em vão
                 o inútil.
                 São as palavras do poeta Manoel de Barros.
              Por não servir pra nada é que encanta, que fascina. A literatura nos envolve e no fim das contas talvez o problema esteja em nós.

Talvez nós gostemos das coisas inúteis.

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