quinta-feira, 15 de maio de 2014

Por que o Ballet?

Reescrita 
Por Aluno 26

            Quando tinha cinco anos, comecei a me interessar pela dança. Falava para os meus pais que gostaria de começar a frequentar alguma aula de dança, já que todas as minhas coleguinhas faziam algum tipo de modalidade artística. Entretanto, demorei mais dois anos para criar coragem e tomar uma decisão concreta: quando eu contava com sete anos, fomos eu e minha mãe até a escola de ballet e efetuamos a matrícula.
            Por que o ballet? Ora, naquela época eu não saberia explicar. Só sabia que me fascinava. Frequentava as aulas com assiduidade e sempre fui uma aluna esforçada. No início fazíamos vários exercícios sentadas no chão, como “borboletinha” balançando as pernas ou esticar e encolher os pés, conhecido como “ponta e flex” e aguardávamos ansiosamente a apresentação de Natal para mostrar aos nossos familiares as façanhas aprendidas ao longo do ano e estreadas no palco. Diretamente proporcional ao tempo, as dificuldades em aula foram aumentando: não conseguíamos fazer os exercícios corretamente ou estávamos cansadas demais para isso. Nossa professora era rígida, mas amorosa. Entretanto, após vãs tentativas de tentar nos ensinar uma posição em certa dança, ela perdeu a paciência e, após um longo e decepcionado discurso, deixou a sala com todas as alunas dentro. Nós ficamos totalmente descrentes de que um dia haveria aula novamente.
            Após uma hora e meia sentadas no chão esperando a professora retornar (o que não aconteceu), eu e minhas colegas começamos a conversar e, ao invés de sentirmos raiva dela, entendemos que tínhamos uma enorme parcela de culpa. O medo de errar e decepcionar quem estava nos guiando nos deixava nervosas e nos fazia errar. Esse medo, muitas vezes, motivava o grupo à desistência da dança. E nesse grupo eu me encaixava, principalmente após esse episódio. Porém, depois de muita terapia caseira sentada ao sofá com a minha mãe, decidi continuar.
            Foi na Casa de Cultura de Canoas, bem ali naquele prédio amarelo e antigo, naquela sala enorme e cheia de espelhos e com aquele chão de tábuas sujas de breu, que aprendi a vencer meus medos e a sapatilha de pontas já não era mais uma inimiga. Foram vários anos até chegar a algo parecido com um bom movimento de braços, conhecido como “por de bras” e um giro (“pirouette”) que eu ainda não consigo fazer.

            Depois de dez anos e muita dor muscular, recebi meu diploma pela conclusão do curso de Ballet Clássico e me senti feliz por ter levado uma “bronca” da professora que eu tanto admirava e que tinha me servido de lição para o resto da vida. Mas, por que o ballet mesmo? Agora eu posso responder: porque, além da definição de “movimentos no espaço organizados a partir da pulsação do tempo e executados por um dado momento escolhido pelo homem”, o bailado é a “expressão da alma” e é ao lado da barra e de frente ao espelho que eu sigo enfrentando todos os meus medos.

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