Reescrita
Por Aluno 26
Quando tinha cinco anos, comecei a me interessar
pela dança. Falava para os meus pais que gostaria de começar a frequentar
alguma aula de dança, já que todas as minhas coleguinhas faziam algum tipo de
modalidade artística. Entretanto, demorei mais dois anos para criar coragem e
tomar uma decisão concreta: quando eu contava com sete anos, fomos eu e minha
mãe até a escola de ballet e efetuamos a matrícula.
Por
que o ballet? Ora, naquela época eu não saberia explicar. Só sabia que me
fascinava. Frequentava as aulas com assiduidade e sempre fui uma aluna
esforçada. No início fazíamos vários exercícios sentadas no chão, como
“borboletinha” balançando as pernas ou esticar e encolher os pés, conhecido
como “ponta e flex” e aguardávamos
ansiosamente a apresentação de Natal para mostrar aos nossos familiares as
façanhas aprendidas ao longo do ano e estreadas no palco. Diretamente
proporcional ao tempo, as dificuldades em aula foram aumentando: não
conseguíamos fazer os exercícios corretamente ou estávamos cansadas demais para
isso. Nossa professora era rígida, mas amorosa. Entretanto, após vãs tentativas
de tentar nos ensinar uma posição em certa dança, ela perdeu a paciência e,
após um longo e decepcionado discurso, deixou a sala com todas as alunas
dentro. Nós ficamos totalmente descrentes de que um dia haveria aula novamente.
Após
uma hora e meia sentadas no chão esperando a professora retornar (o que não
aconteceu), eu e minhas colegas começamos a conversar e, ao invés de sentirmos
raiva dela, entendemos que tínhamos uma enorme parcela de culpa. O medo de
errar e decepcionar quem estava nos guiando nos deixava nervosas e nos fazia
errar. Esse medo, muitas vezes, motivava o grupo à desistência da dança. E
nesse grupo eu me encaixava, principalmente após esse episódio. Porém, depois
de muita terapia caseira sentada ao sofá com a minha mãe, decidi continuar.
Foi
na Casa de Cultura de Canoas, bem ali naquele prédio amarelo e antigo, naquela
sala enorme e cheia de espelhos e com aquele chão de tábuas sujas de breu, que
aprendi a vencer meus medos e a sapatilha de pontas já não era mais uma
inimiga. Foram vários anos até chegar a algo parecido com um bom movimento de
braços, conhecido como “por de bras” e
um giro (“pirouette”) que eu ainda
não consigo fazer.
Depois
de dez anos e muita dor muscular, recebi meu diploma pela conclusão do curso de
Ballet Clássico e me senti feliz por ter levado uma “bronca” da professora que
eu tanto admirava e que tinha me servido de lição para o resto da vida. Mas,
por que o ballet mesmo? Agora eu posso responder: porque, além da definição de
“movimentos no espaço organizados a partir da pulsação do tempo e executados
por um dado momento escolhido pelo homem”, o bailado é a “expressão da alma” e
é ao lado da barra e de frente ao espelho que eu sigo enfrentando todos os meus
medos.
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