1ª
Versão
Por Aluno 44
26 de agosto. Hospital Mãe de Deus. 08h30 da manhã
de uma quarta feira fria e ensolarada. O silêncio e a tensão eram tanto que o
simples barulho de passos do médico vindo em minha direção me causavam nada
menos que fortes arrepios. “Nasceu” foi a única coisa que consegui entender
antes de me perder em uma teia interna de intensos sentimentos como ansiedade e
ternura. Karolina Duran é o seu nome. Nasceu com 3,478 quilos, 42 centímetros,
olhos amendoados, apenas uma prega palmar e trissomia 21, Características essas
da Síndrome de Down.
Minha família paterna, desde que meu vô faleceu, se
afastou bastante. Sua morte aconteceu em janeiro de 2006 e, desde lá, não tive
mais notícias de grande parte da minha parentela. As festas de aniversário, o
natal, a páscoa, o dia das crianças não mais aconteciam entre nós. O sentimento
de unidade, de união familiar não mais existia. Poucas coisas poderiam unir
essas pessoas que não mais se conheciam, e, com certeza, uma criança especial é
uma delas.
Na festa de um ano da Karolina vi, novamente, todos
os meus parentes unidos. Mesmo com certo afastamento, todos estavam presentes
por uma questão comum: fazer aquela nova vida se sentir inserida na nossa
família. De lá pra cá os aniversários, natais, páscoas ou simples visitas começaram
a acontecer e o clima familiar começou a mudar.
Junto com essa união, veio a sensação de
pertencimento a algum lugar. Passei a entender o valor que a família tem na
minha vida, que é o de me acolher, de fazer eu me sentir unidade. Mais do que
isso, ao ter minha parentela perto novamente, notei o imenso vazio que não os
ter me causava.
Francesco Alberoni, certa vez, disse que “a vida
humana não tem só um nascimento, só uma infância, é feita de vários
renascimentos, de várias infâncias” e posso dizer que naquele 26 de agosto
nasceu junto com a Karol, a família Duran e um entendimento de ligação familiar
que me é completamente novo. Minha pequena se fez especial não apenas por suas
diferenças biológicos mas por, mesmo sem saber, ter tido a capacidade de fazer
com que eu e minha família entendêssemos a importância de estarmos juntos.
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