sexta-feira, 16 de maio de 2014

Sobre (re)nascimento

1ª Versão
Por Aluno 44

26 de agosto. Hospital Mãe de Deus. 08h30 da manhã de uma quarta feira fria e ensolarada. O silêncio e a tensão eram tanto que o simples barulho de passos do médico vindo em minha direção me causavam nada menos que fortes arrepios. “Nasceu” foi a única coisa que consegui entender antes de me perder em uma teia interna de intensos sentimentos como ansiedade e ternura. Karolina Duran é o seu nome. Nasceu com 3,478 quilos, 42 centímetros, olhos amendoados, apenas uma prega palmar e trissomia 21, Características essas da Síndrome de Down.
Minha família paterna, desde que meu vô faleceu, se afastou bastante. Sua morte aconteceu em janeiro de 2006 e, desde lá, não tive mais notícias de grande parte da minha parentela. As festas de aniversário, o natal, a páscoa, o dia das crianças não mais aconteciam entre nós. O sentimento de unidade, de união familiar não mais existia. Poucas coisas poderiam unir essas pessoas que não mais se conheciam, e, com certeza, uma criança especial é uma delas.
Na festa de um ano da Karolina vi, novamente, todos os meus parentes unidos. Mesmo com certo afastamento, todos estavam presentes por uma questão comum: fazer aquela nova vida se sentir inserida na nossa família. De lá pra cá os aniversários, natais, páscoas ou simples visitas começaram a acontecer e o clima familiar começou a mudar.
Junto com essa união, veio a sensação de pertencimento a algum lugar. Passei a entender o valor que a família tem na minha vida, que é o de me acolher, de fazer eu me sentir unidade. Mais do que isso, ao ter minha parentela perto novamente, notei o imenso vazio que não os ter me causava.

Francesco Alberoni, certa vez, disse que “a vida humana não tem só um nascimento, só uma infância, é feita de vários renascimentos, de várias infâncias” e posso dizer que naquele 26 de agosto nasceu junto com a Karol, a família Duran e um entendimento de ligação familiar que me é completamente novo. Minha pequena se fez especial não apenas por suas diferenças biológicos mas por, mesmo sem saber, ter tido a capacidade de fazer com que eu e minha família entendêssemos a importância de estarmos juntos.

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